Já nada me espanta
Godinho Lopes, como qualquer cidadão, tem todo o direito a defender-se das acusações de que é alvo no âmbito da auditoria de gestão em curso no Sporting. Claro que devia tê-lo feito no local próprio - a assembleia-geral do clube. Optou antes, no entanto, pela falta de comparência e pelo silêncio, só ontem à noite quebrado numa extensa entrevista à RTPi - precisamente o canal que costuma revelar mais simpatias portistas - a 40 horas do apito inicial do FC Porto-Sporting.
Não discuto a questão de fundo. Limito-me a questionar o critério de oportunidade. Quando as atenções de todos os sportinguistas estão já viradas para o clássico da Taça de Portugal, o antecessor de Bruno de Carvalho vem deitar lenha numa polémica interna sobre a qual tinha evitado cuidadosamente pronunciar-se até ao momento. Apetece perguntar-lhe o que o fez falar só agora, praticamente na véspera de um dos mais importantes confrontos desportivos da nossa equipa nesta temporada 2014/15.
Entre as suas declarações da noite de ontem, há uma que me impressiona pela falta de seriedade: a de querer partilhar com Bruno de Carvalho a humilhante classificação registada pelo Sporting no campeonato 2012/13: «O sétimo lugar foi conquistado [sic] em conjunto com a actual direcção.»
Como se as responsabilidades pudessem ser repartidas entre o presidente que programou e avalizou a desastrosa política desportiva levada a cabo nessa época ao longo de 23 das 30 jornadas oficiais, e aquele que se limitou a atenuar os derradeiros estilhaços desde o momento em que se sagrou vencedor do acto eleitoral, na madrugada de 24 de Março de 2013, quando a equipa seguia no décimo lugar da Liga.
Tratando-se porém do mesmo dirigente que prometeu um "Sporting campeão" e um "Sporting independente da banca", já nada me espanta.