It´s the football, stupid (adaptado de James Carville, 1992)
Faz-me alguma confusão que alguns Sportinguistas, se calhar ainda a pensar nos tempos de João Rocha, continuem a não entender que o futebol é a mola real do clube, que não existe futuro digno sem uma equipa que consiga disputar com os dois rivais os títulos, as Taças e o acesso à Champions, que nos tempos que correm qualquer proposta que seja desistir desse confronto, desinvestir, e vender uma fórmula conformista aos sócios e adeptos está condenada ao insucesso.
Despedindo Silas e contratando Amorim pelo balúrdio que se conhece, obviamente também como uma pandemia à mistura, Frederico Varandas passou em pouco tempo de presidente contestado à beira da demissão e em vias de sair de Alvalade pela porta dos fundos, para possível candidato à reeleição. As claques ressabiadas e desmamadas meteram a viola no saco, os brunistas como Alexandre Godinho ficaram com sensações agridoces, os outros candidatos ou não existem ou como Nuno Sousa já perceberam isso mesmo e iniciaram a sua maratona. Obviamente também tudo isto irá mudar se os resultados voltarem a ser o que foram com Silas.
No sentido inverso, foi também devido ao futebol e não a outra coisa qualquer que Bruno de Carvalho passou em poucos meses de presidente eleito por mais de 90% dos votos para sócio expulso por mais de 70% dos mesmos. Nesse caso a exponencial de investimento esbarrou na incapacidade do treinador (numa relação promíscua com o presidente do clube rival) traduzir isso em títulos, e deu na guerra que deu, com o desfecho conhecido.
Também por causa do futebol esse mesmo presidente lá no clube dele passou de repente de "dono daquilo tudo" para um dirigente contestado, com orçamento chumbado e a reeleição em risco.
E lá pelo Porto, o presidente vitalício Pinto da Costa, perdendo aqui ou ali, e tendo as finanças do Porto num poço sem fundo e património reduzido ao mínimo, lá continua de pedra e cal. Ninguém esquece o que o clube ganhava antes dele no futebol e o que passou a ganhar com ele, incluindo títulos europeus. E o que continua a ganhar, como vai ser este ano mais uma vez o caso.
Então, muito mais que as finanças, muito mais que o património, muito mais que o ecletismo, muito mais que as modalidades de pavilhão, o futebol é a mola real dos três grandes clubes de Portugal. Com o futebol a ter sucesso, o estádio enche, a base de sócios aumenta, novos adeptos se criam, as crianças aderem, o clube pode ter maior orçamento para estimular o ecletismo e ter modalidades de pavilhão competitivas.
E o futebol no Sporting tem que querer dizer formação. Mas para transformar a formação em sucesso desportivo e financeiro, é necessário implementar uma cultura de excelência a nível técnico, estrutural e metodológico, uma aposta na prospecção, recrutamento, formação, retenção e venda de talento jovem nacional e estrangeiro, e uma escolha criteriosa de jogadores experientes e consagrados que venham fazer a diferença desportivamente e ajudem na evolução dos jovens. Dito doutra forma: ter bons colchões, mas ter ainda melhor capital humano lá deitado.
Só depois disso vem a questão do financiamento e do modelo de propriedade da SAD. Francamente ainda não me explicaram as vantagens do Sporting ceder a sua posição maioritária a um investidor qualquer, abundam os exemplos de conflito de interesses dos donos com os clubes e o consequente afastamento dos sócios. Se olharmos para outros sectores, casos como a TAP, a EDP ou a Altice demonstram a dificuldade de conciliar o interesse público com o privado.
Mas obviamente que terão de ser encontradas formas de financiamento da actividade da SAD que não passem pela venda precoce do talento existente e que permitam mais e muitos mais momentos como o retratado na foto.
SL