Isolados no comando 862 dias depois
Farense, 2 - Sporting, 3
Gyökeres voltou a ser o melhor Leão em campo: marcou dois golos e foi ele quem mais lutou
Foto: Luís Forra / Lusa
Os leitores do És a Nossa Fé, sempre muito optimistas em matéria de prognósticos, vaticinaram uma vitória clara - e nem faltaram previsões de goleada. Contra o Farense, anteontem, no sempre difícil estádio de São Luís.
É verdade que esta equipa andou pela Liga 2 e só no início desta época retomou o convívio com os chamados grandes. Mas não é menos factual que constitui sempre um adversário duro.
Já tinha derrotado, ali mesmo, o Braga por 3-1.
Já quase tinha imposto um empate ao FC Porto no Dragão, em desafio que chegou aos 12 minutos de tempo extra: só um golo mesmo ao cair do pano permitiu aos portistas amealharem três pontos nessa partida.
Manda a prudência não embandeirar em arco, atendendo sobretudo a estes precedentes que não podem ser ignorados. No entanto, pareceu-me ver alguma sobranceria do Sporting em campo. Talvez devido ao facto de termos iniciado a jornada no comando do campeonato - em igualdade pontual com o FCP, é certo, mas com maior vantagem em golos marcados e sofridos.
Sobranceria que se ampliou com a vantagem por duas bolas conseguida muito cedo.
Primeiro golo na conversão de um penálti, por Gyökeres, aos 21' - acrescido do bónus de termos passado a jogar com um a mais devido à expulsão do defesa da turma algarvia que travou a bola com o braço.
Segundo golo - um golaço - marcado aos 35' por Pedro Gonçalves, que parece ter recuperado a boa relação com a baliza adversária.
Tínhamos dupla vantagem: onze contra dez no relvado e dois de avanço no marcador. Durou pouco, muito pouco: aos 36', sofremos um golo, de livre directo, punindo falta totalmente desnecessária cometida por um Morten em noite não. O dinamarquês foi poupado a um segundo amarelo por entrada imprudente que poderia - e talvez devesse - ter-lhe valido a expulsão. Fez bem Rúben Amorim em deixá-lo de fora ao intervalo.
O segundo tempo voltou à toada mole, pastosa e previsível evidenciada pelo Sporting noutras partidas. Apenas Nuno Santos e Gyökeres pareciam cheios de vontade de sair de Faro com os três pontos.
No meio-campo, Morita não chegava para as encomendas. À frente, Paulinho tentava marcar sem conseguir. O nosso corredor direito não funcionava: Esgaio teve fraca prestação e Geny, que o substituiu, conseguiu fazer pior.
Para cúmulo, tínhamos perdido o nosso capitão logo aos 11': Coates saiu com queixas musculares.
Mas estava escrito nas estrelas (a tal estrelinha) que não era dia para perdermos pontos. Aos 90', Edwards introduziu-se na grande área e sacou o segundo penálti da noite - logo assinalado pelo árbitro Luís Godinho sem que o VAR, Manuel Mota, o contrariasse.
Chamado a batê-lo, Gyökeres voltou a brilhar fixando o resultado: 2-3. Saiu do São Luís com o seu segundo bis de verde e branco, subiu para o topo da lista dos nossos melhores artilheiros desta época e devolveu a alegria aos adeptos que já desesperavam com a desinspirada exibição do colectivo leonino.
A verdade é que reforçámos a nossa posição no comando do campeonato, que agora lideramos isolados beneficiando da derrota do FCP na Luz. Algo que não sucedia desde 19 de Maio de 2021 - data em que terminou o campeonato de melhor memória dos últimos 20 anos.
Estamos por cima, com todas as outras equipas atrás de nós, 862 dias depois. Motivo mais do que suficiente para haver alegria. Excepto entre aqueles que fazem questão de andar com o passo trocado: celebram quando perdemos, entristecem-se quando ganhamos.
Felizmente são muito poucos. Autêntica minoria absoluta.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Mattheus Oliveira, ex-Sporting, derrubou-o com dois livres directos (36' e 55'): o espanhol é já o guarda-redes que mais sofre golos destes na Liga. Fez boa defesa aos 81', mas soube a pouco.
Diomande - Não comprometeu, mas foi incapaz de marcar a diferença num dos seus trunfos: o início de construção progredindo com a bola controlada. Grande desarme aos 79'.
Coates - Integrou o onze, mas parou de súbito aos 10' sem conseguiu jogar mais. Talvez devido a sobrecarga muscular. Forçou o treinador a mudar bem cedo o trio defensivo.
Gonçalo Inácio - Central à esquerda, passou para o meio com a saída de Coates. Desta vez não se distinguiu com os seus passes longos. Amarelado, está à bica: já é o quarto.
Esgaio - Actuação insuficiente. Não apenas no capítulo ofensivo, com pouca eficácia nos cruzamentos que foi tentando, mas também nos confrontos individuais: nem um só duelo ganho.
Morten - De longe a pior exibição de Leão ao peito. Amarelado aos 36', por falta inútil de que resultou o livre e o primeiro golo do Farense, reincidiu seis minutos depois. Podia ter sido expulso.
Morita - O desnorte do dinamarquês, seu parceiro no meio-campo, prejudicou o nipónico, chamado a apagar fogos num raio de acção demasiado longo. A equipa perdeu com isso.
Nuno Santos - Um dos mais inconformados. Tentou marcar, sem sucesso (24'' e 50'). Impecável a servir Paulinho (69'). Amarelado por jogo perigoso, aos 55': esse livre contra nós gerou golo.
Edwards - Após ter brilhado no jogo anterior, baixou neste - devido à forte marcação de que foi alvo. Grande cruzamento para Paulinho (57'). É ele a sacar o penálti que nos valeu a vitória (87').
Pedro Gonçalves - Assinou um golão, num disparo rasteiro e muito bem colocado, pondo o SCP a vencer por 2-0 em Faro. O nosso primeiro penálti nasceu de um remate dele à baliza.
Gyökeres - O mais batalhador dos nossos: nunca desiste de um lance, mesmo a lutar contra dois ou até três. Irrepreensível na marcação das grandes penalidades, ambas indefensáveis.
Matheus Reis - Entrou aos 12', substituindo Coates mas jogando como central à esquerda. Demasiado contido, sem fazer a diferença. Parece atravessar uma crise de confiança.
Paulinho - Fez toda a segunda parte, colmatando a saída de Morten. Podia ter marcado em duas ocasiões: numa cabeceou por cima, noutra viu a bola travada pelo guarda-redes Ricardo Velho.
Geny - Entrou aos 58', rendendo Esgaio. Sem benefício para a equipa. Demasiado colado à linha, demasiado agarrado à bola, demasiado permeável no confronto com os adversários.
Daniel Bragança - Substituiu Nuno Santos aos 83'. No minuto seguinte já estava a ver o amarelo por falta desnecessária. Incapaz de se evidenciar no controlo, transporte e passe de bola.