Irritação
1. Por que raio Jorge Jesus desatou a inventar, desmontando o sistema táctico da equipa que tão boas provas tem dado no campeonato? Meter no onze inicial um Paulo Oliveira sem rotinas nem experiência como lateral fez a nossa equipa jogar coxa durante uma hora.
2. A um erro somou-se outro: a excessiva lentidão do treinador a corrigir o disparate inicial. O Sporting só começou verdadeiramente a jogar quando Paulo Oliveira - com óbvia responsabilidade no solitário golo polaco, deixando o brasileiro Guilherme fazer o que quis na grande área - foi enfim substituído por Ricardo Esgaio, já estavam decorridos 58 minutos. Tarde de mais, como se viu.
3. Disparate sem nome é insistir em Markovic. Jogar com o sérvio é jogar só com dez. Voltou a acontecer: colocado no onze titular, como segundo avançado, o ex-jogador do Benfica nada fez de positivo. Agarra-se à bola e transporta-a para lugar nenhum, perde com facilidade a noção de espaço, é um parafuso solto no colectivo. Com Gelson a jogar por dois na ala direita, via-se o sérvio no eixo central a contemplar o trabalho do colega como se nada daquilo fosse com ele. Mesmo assim, só saiu aos 58 minutos.
4. É inaceitável que o nosso primeiro remate enquadrado com a baliza só tenha ocorrido aos 77': um disparo de André que proporcionou a defesa da noite ao guardião polaco. O mesmo André que minutos antes tivera uma falha infantil à boca da baliza, daquelas que nem nos jogos de solteiros e casados se permitem. Quase apetece implorar pelo regresso do Liedson como reforço no mercado de Inverno.
5. É também inaceitável que William Carvalho, pouco depois de ter visto um cartão amarelo, acabasse por cometer uma falta que não podia passar impune - tanto mais que era então já evidente qual o critério disciplinar do árbitro, muito apertado. Ingenuidade ou precipitação do jogador? O facto é que ficámos reduzidos a dez num momento crucial do encontro.
6. Não haverá nenhum especialista em remates a meia-distância no Sporting? Haver, até há. Mas por vezes não parece. Hoje foi um desses dias.
7. Quando carregávamos enfim no acelerador, quem entra em campo? O calmo, tranquilo, relaxado Bryan Ruiz. O homem que dá sempre um toque a mais na bola, que perde preciosos segundos a adornar o esférico, que colhe adjectivos dos supostos catedráticos do ludopédio, gente capaz de entrar em êxtase orgástico com o "futebol rendilhado" do costarriquenho. Entrou em contramão, quando precisávamos de criar jogo directo e objectivo, sem perda de tempo. Pouco ou nada fez de útil, mas "temporizou" imenso.
8. Se as derrotas contra o Real Madrid e o Borussia Dortmund estavam de algum modo inscritas na lógica natural do futebol de alta competição, perder contra a banalíssima turma do Legia é algo que não pode aceitar-se. Faltou ambição, faltou empenho, faltou ousadia, faltou confiança. Concedemos a primeira parte de avanço aos polacos como se tivéssemos entrado em campo para defender o empate a zero, já a pensar na Luz. Só podia dar asneira. E deu mesmo.
9. Antes deste jogo punha-se o dilema: valeria a pena sacrificar jogadores, poupando-os fisicamente para o clássico de domingo e correr o risco de vermos a nossa equipa afastada da Liga Europa? Afinal não houve poupanças: dos habituais titulares, só Bryan Ruiz ficou inicialmente de fora (a posição de defesa direito estava condicionada à partida pelo castigo a João Pereira e pela lesão de Schelotto). Houve imenso desgaste físico num campo em condições dificílimas. E mesmo assim vimos fugir a Liga Europa. Dois males somados, portanto.
10. Conclusão: mais valia termos jogado com as segundas linhas. Agora só para o ano, se Deus quiser.