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És a nossa Fé!

Hoje giro eu - Sustentabilidade/Futebol português

O Sporting tem de estar estratégicamente na primeira linha em todas as transformações que o futebol português precisa, no sentido do reforço da sua competitividade e viabilidade económica, e necessita de ser mais persuasivo na mobilização dos restantes clubes para esta causa. Há que perceber o que é fundamental e o que é acessório e saber estabelecer os compromissos necessários para que as nossas ideias vinguem.

 

A descida portuguesa no ranking de clubes da UEFA obriga a reflectir sobre a competitividade do futebol nacional. Assim, o Sporting deveria inspirar uma alteração dos quadros competitivos: em cinco anos (se não se conseguir antes), campeonato com 12 equipas, disputado numa primeira fase a duas voltas; “play-off” (6 primeiros da primeira fase) e “play-out” (6 últimos da primeira fase) com 6 equipas cada, a duas voltas, total de 32 jogos; os pontos contam desde o início, descida de divisão para os dois últimos classificados do “play-out”, o que possibilitaria que a mesma receita fosse dividida por menos clubes. Igual modelo para a 2ªLiga e para a 3ªLiga (inovação). Criação da 4ª Divisão, nos moldes do actual Campeonato de Portugal, a cargo da Federação Portuguesa de Futebol. Desde logo, haveria mais jogos entre Sporting, Porto e Benfica e quem conseguisse chegar ao “Play-off” receberia duas vezes os “grandes”, uma grande motivação e aumento das receitas de bilheteira para todos. O vencedor do “Play-out” poderia ter um bónus da Liga (ou mesmo uma participação europeia garantida, por troca com os quintos/sextos classificados do “Play-off”), a fim de que os clubes estejam motivados. Julgo que com estas medidas, e assegurando que em 5 anos o modelo estaria implantado, tenho poucas dúvidas de que teríamos, daqui a 10 anos, 3 clubes na Champions.

 

Deve ser revisto o modelo competitivo da Taça da Liga. O formato actual é aberrante, a sua calendarização e espaçamento temporal, idém. Ou existe um incentivo do tipo participação em competição europeia ou a competição não faz muito sentido. Pior ainda com a criação das competições de Sub23, que permitirão rodar jogadores mais jovens, retirando ainda mais interesse por parte dos clubes maiores a integrarem a Taça da Liga. Esta competição deveria idealmente ser disputada entre Dezembro e Janeiro, num formato de eliminatórias, com um pré-eliminatória que apure 32 equipas, seguido dos dezasseis-avos, oitavos e quartos de final (sempre jogados a uma única volta e em casa da equipa pior classificada no campeonato nacional do ano anterior). Seguir-se-ia o actual formato de Final-Four que me parece bem conseguido, com a atribuição ao clube anfitrião, prévia ao início da competição, da responsabilidade de organizar essa fase decisiva.  

 

A questão da defesa do futebolista português também deve ser abordada. Bem sei que, pós-Lei Boaman, para a UEFA vigora a livre circulação, mas há algumas medidas que se poderiam tomar. Por exemplo, a primeira regra de desempate de pontos nas competições nacionais poderia ser o nº de portugueses utilizados, critério que prevaleceria sobre a diferença de golos, o nº de golos marcados ou os resultados entre os clubes em causa.

 

A centralização dos DireitosTV é algo que tem de ser conseguido no médio-prazo. Pode parecer negativo para os "grandes", mas a verdade é que actualmente Portugal só tem um participante garantido na Champions e isso deve-se, essencialmente, à má prestação dos clubes médios do futebol português nas provas da UEFA. Às vezes, é importante dar um passo atrás para se poderem dar dois à frente e uma maior competitividade da Liga beneficiará a todos no longo prazo.

 

A Liga enquanto regulador tem de fazer outro escrutínio na constituição de sociedades anónimas desportivas. O futebol, actualmente, é um paraíso para negócios pouco claros e é necessário tomar medidas para combater isto. O “match-fixing”, geralmente associado às apostas desportivas, é um flagelo que importa enfrentar. Não me parece que haja suficiente “compliance” sobre os investidores e a Liga deveria adoptar os procedimentos actualmente em vigor no sistema financeiro sobre branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo (BCFT). E depois, há modelos que funcionam porque apostam em criar raízes e na envolvência com as povoações, como é o caso do Aves, outros não contemplam essa realidade e acabam por criar um fosso com os sócios e adeptos do clube, servindo apenas como plataforma de interface de jogadores.

 

Código de Ética dos Agentes Desportivos: é fundamental a existência de um código de ética, de conduta, que abranja todos os agentes desportivos, com especial ênfase em regras, procedimentos de prevenção de conflito de interesses, promiscuidade, tráfico de influências e corrupção. Nele estarão claramente definidas as penalizações em sede de justiça desportiva em que incorrerão os prevaricadores. A Liga e a Federação não se podem demitir da sua função reguladora e devem criar condições que previnam a adulteração da integridade das competições e o respeito pelos espectadores/consumidores do produto futebol. O Código deve constar em local bem visível na primeira página dos sites das entidades reguladoras. A justiça desportiva não pode nada fazer a montante e estar sempre à espera, a jusante, de investigações da PGR. O Ministério Público e a PJ deverão ter mais que fazer do que permanentemente ter de alocar recursos para estudar as diversas suspeitas que envolvem o fenómeno futebolistico em Portugal. Ou, Liga e FPF, mostram capacidade de se auto-regularem ou o Estado terá de intervir, criando regras que impeçam a continuação deste status-quo. Para além destas regras, Liga e FPF deveriam conceber durante toda a época um conjunto de iniciativas que visassem promover um futebol limpo, seja por via de acções nos estádios, seja através de acções de formação e sensibilização de todos os agentes. Estes deveriam ser obrigados a fazer um exame e a terem de mostrar ser conhecedores de todos os procedimentos constantes do Manual.

 

O futebol português possui desvantagens competitivas face a diversos países europeus (a diferença para Espanha é gritante) devido a uma fiscalidade mais exigente, que não discrimina positiva uma profissão de desgaste rápido (dos profissionais de futebol) e que muito penaliza os clubes. Promover consenso na Liga e constituir um grupo para sensibilizar o governo, no sentido de tentar aligeirar a carga fiscal dos profissionais de futebol, seria uma prioridade.

 

Um clube formador, como é o caso do Sporting, que abastece todo o futebol português, tem de ter outro peso perante os seus pares, não pode ser permanentemente desrespeitado, nem as suas posições serem sempre relegadas para segundo plano em nome de outros interesses instalados. Assim, o Sporting deve ter uma política de relacionamento com outros clubes, privilegiando aqueles que o respeitem.

 

O produto Futebol Português tem de ser vendido de uma forma totalmente diferente. Devem existir regras claras de transparência para que o consumidor acredite no produto, os artistas (jogadores) têm de ter liberdade concedida pelos clubes para abordarem diversos temas e estar disponíveis para acções com os fãs, a exportação do produto para os mercados americano e asiático pensada. É inconcebível que o futebol do país campeão europeu continue a despertar tão pouca procura e isso dever-se-á muito à inércia da Liga e sua incapacidade de promoção da imagem do nosso futebol. Também não é aproveitada da melhor maneira a passagem de alguns craques pela nossa liga. Jogadores como Schmeichel, Deco, Ramires, Aimar, entre outros (só falando deste milénio), poderiam ter contribuido para uma maior divulgação.  

 

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