Hoje giro eu - SCP (os 3 pilares)
Estranharão alguns Leitores a ausência de postais meus sobre a actualidade leonina, geralmente vertidos nesta rúbrica "Hoje giro eu". Estou certo dever uma explicação a todos, a qual não deixarei de dar agora como preâmbulo deste texto. Sempre fui um homem de ideias, gosto de exercer os meus direitos de cidadania e entendi ter algo a acrescentar neste processo eleitoral. Por isso, estudei, trabalhei e reflecti sobre a possibilidade de me candidatar a presidente do Sporting Clube de Portugal, elaborando para o efeito um plano de actividades ("programa").
Em pequenino, e sem prejuízo para quem sonhou diferente, nunca me passou pela cabeça ter quaisquer responsabilidades directivas no clube da minha eleição. O que me encantava era ir ao estádio e o meu coração começava a bater mal o meu pai pré-anunciava que me levaria a ver um jogo. Era tal a adrenalina - e muitos de Vós agora relembrarão esse sentimento - que me custava adormecer na véspera dos jogos, razão pela qual o meu pai começou a encurtar a convocatória, surpreendendo-me no próprio dia, muitas vezes só depois de já estarmos no carro. Era o tempo do "rapaz, vamos dar uma volta", que para mim se tornou sanha para ir ver o Sporting.
Na última década e meia, fruto de um conjunto de competências e experiências profissionais que adquiri, fui tendo cada vez mais consciência daquilo que estava errado e qual o caminho que se me afigurava ser o correcto a fim de devolver ao Sporting a grandeza que merece. Uma decisão sobre uma candidatura ao Sporting não é algo que se tome de ânimo leve, na medida em que altera por completo a nossa visibilidade e, não sendo bem gerida, tem consequências a nível familiar. Na minha profissão - vinte e oito anos no sistema financeiro - sempre procurei a discrição, porque entendi que os meus clientes é que deveriam ser as estrelas. Ora, o Sporting é de tal forma impactante na sociedade portuguesa que não poderia viver da mesma forma. Acresce que já em 2011 tinha um programa semi-completo para o clube e consciência absoluta de que o Sporting precisava de uma ruptura com o seu passado recente, mas o aparecimento de um jovem ambicioso, com ideias progressistas e muita energia fez-me recuar, avaliando com humildade que tal poderia ser redundante.
Infelizmente, o rumo certo em que o clube parecia navegar e que muito me aprazia, apesar de sempre ter discordado com o teor comunicacional, foi de alguma forma interrompido nos últimos 2 anos, essencialmente devido ao forte investimento no futebol e aumento da pressão sobre toda a estrutura derivado disso mesmo. Apercebi-me, nesse momento, que havia 3 pilares que não tinham a consistência necessária e que mereciam um urgente reforço. Infelizmente, excessos diversos, falta de bom senso e ausência de sentido de "Estado", aliados a uma comunicação histriónica e a uma desastrada gestão dos recursos humanos tornaram inevitável (mais) uma situação de ruptura e o clube avançou necessariamente para eleições.
A primeira coisa que fiz quando se tornou claro na minha mente a vontade de explorar as possibilidades de me candidatar foi contactar a pessoa (Pedro Correia) que teve a amabilidade de me convidar para escrever neste blogue e dar-lhe conta de que iria suspender a minha participação no mesmo até ter uma decisão tomada. Fi-lo por dois motivos: não desejar que os meus colegas co-autores de um blogue pluralista se vissem involuntariamente ligados a uma candidatura, mas também porque não quis que a minha independência fosse afectada e as minhas possíveis opiniões/críticas a qualquer candidato enfermassem de conflito de interesses e não viessem acompanhadas da respectiva declaração.
Durante estas últimas semanas trabalhei um conjunto vasto de ideias, falei com diversos protagonistas, actuais ou antigos, do mundo Sporting, expus ideias (sempre bem recebidas), troquei opiniões e estudei formas de divulgação da mensagem. Desde logo me deparei com a influência decisiva que a Comunicação terá nestas eleições. Constatei haver um ou outro candidato que passa todos os dias na imprensa, mas que a maioria passa ... ao lado. E eu tinha auto-imposto a mim próprio não utilizar a tribuna que este blogue me proporcionaria... Por outro lado, também só faria sentido avançar sem condicionalismos diversos, com total independência e sem procurar a benção de qualquer grupo de interesses mais ou menos legítimo. A vontade que tinha era muita, o timing único, a idade, maturidade, experiência as ideais, mas não chega. Oito candidatos no momento que vivemos, alguns deles provavelmente sem o necessário curriculum e experiência adequadas, são mais um sintoma de fractura do que um sinal de vitalidade. O facto de não estar estatutariamente consagrada uma segunda volta implica que o próximo presidente do Sporting possa ser eleito, na conjuntura actual, com 13% (!) dos votos. Isso não me parece positivo e não desejo contribuir para tal. Acresce que me desiludi de alguma forma com todo o processo, com a falta de protagonismo das ideias, com a feira de vaidades diversas, com a percepção pública das certezas absolutas de uns, da proto-capacidade de implementação anunciada por outros, mas guardarei o detalhe disso para mim. Também tive boas surpresas, conheci gente muito empreendedora, com resultados para mostrar e que fará parte, não tenho dúvidas, do futuro próximo do clube. Importante é o Sporting e eu quero e gosto de falar bem sobre o meu clube e tenho o maior orgulho nas vitórias recentes nas modalidades - elas são fundamentais para a afirmação da Cultura Sporting - razão pela qual continuaria a investir nelas.
Para mim, o Sporting é o mais importante. Não ir a eleições (ou perdê-las) não tem um sabor amargo, exactamente porque é o Sporting. É que, independentemente de tudo o resto, o meu lugar na bancada já foi previamente assegurado e eu, como a maioria dos adeptos, estou desejoso que a bola volte a rolar. Nesse sentido, e para encerrar devidamente este capítulo, vá lá, mais político da minha vida, deixarei aqui algumas das que seriam as minhas ideias para o clube, pondo-as à disposição dos sportinguistas, candidatos ou não, para que as usem se nelas virem valor. Eu manterei a neutralidade até ao dia das eleições.
O meu projecto assentaria em 3 pilares, cada um equivalente às iniciais do clube. Assim, teríamos o S, de Sustentabilidade; o C, de Cultura (corporativa) e o P, de Princípios (ética, compliance, modelo de governação). Do meu ponto-de-vista, sem estes pilares de desenvolvimento continuaremos longe do sucesso, tanto no âmbito desportivo como no financeiro ou mesmo social, permanecendo como um clube iminentemente político, sem um elo comum forte, uma cultura própria que filtre e dissuada determinados comportamentos que não estão de acordo com os princípios da nossa fundação.
Começando pela Sustentabilidade, esta, para mim, dividir-se-ia em 3 componentes (cada uma com vários itens):
- Sustentabilidade da política desportiva (articulação com a aposta integrada na Formação)
- Sustentabilidade do ponto-de-vista económico/financeiro (política de défice operacional ZERO)
- Sustentabilidade do meio envolvente (futebol português, sua organização e formato competitivo)
Como o postal já vai longo, vou terminar anunciando para amanhã a divulgação das minhas ideias no que concerne à Sustentabilidade obtida por via de uma adequada política desportiva. Então, até amanhã! Viva o SPORTING!!!