Hoje giro eu - Rui, o São Patrício protector de Alvalade
Rui Patrício demorou a ser consensual nas bancadas de Alvalade. Após uma estreia auspiciosa nos Barreiros - defendeu um penalti - Rui tornou-se titular das balizas leoninas, promovido por Paulo Bento, na sequência de uma falha de atenção de Stojkovic que custou uma derrota no Dragão.
O "marrazes" teve as dores de crescimento normais num jogador jovem. Cometeu erros que custaram alguns pontos e exasperaram os adeptos e nunca teve uma boa imprensa.
Para mim, Rui foi como o slogan que Pessoa cunhou para a Coca-Cola: "primeiro estranha-se, depois entranha-se". Em vez de se revoltar com as constantes críticas dos adeptos, este Vosso escriba incluido, Patrício preferiu dedicar-se ao trabalho, melhorando alguns dos seus pontos fracos como os cruzamentos ou o jogo de pés.
De há uns 4 anos para cá, o guarda-redes conquistou-me definitivamente. Rui é hoje um guardião de classe mundial, campeão europeu com defesas decisivas, maduro, tranquilo, fortíssimo na "mancha" perante adversários isolados, ágil entre os postes como mostrou perante Griezmann na final de Paris. E, apesar disso tudo, continua a ser um homem humilde, sereno, que nunca se põe em "bicos de pés", um herói com uma personalidade de anti-herói.
Quando observo, nesta época em que nos querem impôr a ditadura da imagem, a facilidade com que se fazem ídolos no outro lado da 2ª Circular e em Svilar das Perdizes - como se a vida não fosse um caminho, um percurso, caír e voltar a levantar -, o endeusamento que qualquer imberbe aprendiz de feiticeiro que não lhe chega aos calcanhares recebe por parte da Comunicação Social ainda me dá mais vontade de valorizar o jogador e o homem, a quem Portugal deve o título europeu. Sim, porque por detrás do mega craque Ronaldo sempre esteve o discreto mas eficaz Rui, o São Patrício em quem Fernando Santos, homem de FÉ, depositou sempre a sua confiança. Que o digam a Croácia e a França, que viram a vitória fugir-lhes por entre as abençoadas pontas dos dedos do nosso nº 1. Desculpa-me Rui, pela injustiça que cometi no passado, e perdoa a todos eles a contínua cegueira. Por ainda hoje não haver uma "mala de dinheiro à tua espera", por já não teres borbulhas na cara, por as tuas defesas impossíveis não terem a graciosidade dos "frangos" dos outros, por não te considerarem uma "fera", por os bardos do regime não ecoarem loas a teu respeito e, principalmente, porque eles para nós são espuma do tempo e tu já és uma lenda viva que ficará para sempre na nossa memória. Não há ninguém, para além dos adeptos, que mereça mais um título de campeão nacional do que tu, Patrício, que és de longe o melhor guarda-redes deste campeonato. Que os teus colegas de balneário tenham isso em boa conta.