Hoje giro eu - O som do silêncio
Para mim, que desde tenra idade me habituei a identificar o Sporting com os futebolistas e atletas que semanalmente via representar o clube nos estádios, pavilhões e pistas deste país, este momento de crispação da massa associativa é particularmente doloroso. Primeiramente, porque é mais do que óbvio que o foco dos adeptos está deslocado do essencial, o apoio às equipas que ostentam o nosso símbolo no peito; em segundo lugar, porque o ruído insuportável e a radicalização de discurso das facções, com constante adjectivação, não auguram nada de positivo para o futuro; em terceiro, porque não há criação que perdure no tempo quando a motivação de base assenta no ódio e não no amor.
Quando temos dúvidas sobre um caminho é sempre bom voltar aos "básicos". Os tempos de criança e as razões pelas quais fizemos uma escolha. Somos do Sporting pelo mimetismo da verde-e-branca, o sortilégio do leão rampante, os valorosos atletas que ao longo de gerações defenderam as nossas cores e protagonizaram gestas de glória. A grande maioria dos adeptos leoninos são moderados, não se revêem em posições extremadas (dos dois lados da barricada) de gente que pensa que, falando mais alto, melhor se faz ouvir. Como tal, e apelando à reflexão serena, inspirado pela versão que o Ministro da Cultura e das Artes australiano - um exemplo de como a criatividade pode ser usada para fazer passar uma mensagem - fez há dias sobre o imortal "The sound of silence", de Paul Simon e Art Garfunkel, aqui deixo o meu "O som do silêncio", que deve ser acompanhado pela música original. Com os votos de um Santo Natal para toda a familia leonina, com muita saúde e paz. Viva o Sporting Clube de Portugal!!!
"O som do silêncio"
"Olá, Sporting, velho amigo,
vim falar-te uma vez mais.
De momentos de eterna glória
e de percalços da nossa história.
A visão de que todos não serão demais,
quando cais e só se importam contigo.
Com as eleições, um novo rumo,
nasce esperança e fé em prumo,
mas viver num cerco permanente
é sinal de um clube decadente
E os meus olhos ainda choram
o facho daquela tocha ardente.
E toda a gente
rasgou o som do silêncio
A partir daí eu vi
cento e setenta mil ou mais.
Sócios falam sem dialogar.
Sócios ouvem sem nada escutar.
Há quem erga a voz
só p`ra emitir ruído,
um alarido.
Não dão voz ao silêncio.
Tolos nós que já esquecemos
que aquele ruído vai crescendo.
Logo nós que até já o vivemos,
não é o Sporting que nós merecemos.
Escutem, não gritem, dêem as mãos, em união.
Assim deve ser o Sporting!
Curvando-se e louvando,
o novo leão que rugia.
E os sinais mostravam o caminho,
todos os sócios davam o seu carinho.
E os sinais ecoavam
as palavras do Visconde escritas em letras de ouro,
desígnio vindouro,
não mais sussurradas em silêncio."