Hoje giro eu - Janela "independente"
Custa-me ver um deputado da República portuguesa, Helder Amaral, e um ex-governante, Francisco José Viegas (este, em particular, pessoa erudita e que oiço e leio sempre com muito agrado), num tu-cá-tu-lá televisivo, na CMTV, com o comentador "independente" Carlos Janela. Muito mal anda o nosso país quando duas pessoas que tiveram ou têm responsabilidades na vida pública portuguesa se expõem a contracenar com este "actor" do nosso audiovisual e uma televisão continua, presumivelmente, a caucionar a suposta isenção dos seus comentários.
Janela tem azar, muito azar. Muitas vezes parece estar no lugar certo à hora errada, pelo menos é o que uma consulta rápida à internet dá a entender. Assim foi quando, enquanto Director Desportivo do Famalicão na época (87/88) em que o clube - que tinha vencido o campeonato da 2ª divisão - acabou despromovido à terceira divisão (em vez de subir à primeira), por decisão do Conselho de Justiça, na sequência de uma denúncia do presidente do Macedo de Cavaleiros, o qual apresentou um cheque do clube famalicence que, segundo ele, consubstanciava a prática de suborno. Um ano depois, António Veiga (presidente do Macedo) deu o dito por não dito, afirmou tratar-se de uma vingança pessoal contra o presidente do Famalicão e que o cheque se destinava a pagar bilhetes destinados aos adeptos visitantes e o caso acabaria por ser reaberto, processo que levaria ao alargamento da primeira divisão para 20 clubes, na época 90/91. Janela sai e tem uma primeira passagem pelo Belenenses.
Durante o chamado "projecto Roquette", passou pelo Sporting, primeiro como Secretário-Técnico (com Norton de Matos como Director Desportivo), depois como Director para o futebol e colaborador da SAD. São desses tempos as contratações sonantes (e por valores astronómicos para a época) das "promessas" Carlos Miguel, Gimenez ou Kmet. Acabaria por saír em 99, após reestruturação da SAD, quando entraram os saudosos Manolo Vidal e José Manuel Torcato, perdendo por pouco a possibilidade de ver de dentro o clube interromper a seca de 18 anos sem títulos. Recordando esses tempos, há uma entrevista interessante de Poejo, em que este diz que Janela o informou de que o seu contrato só seria renovado se o jogador assinasse com o empresário José Veiga.
Em 2001, Janela juntou-se a Veiga na Superfute, como Director. A empresa chegou a estar cotada em Paris (2002) mas, uns anos depois, declararia falência, já depois de a praça francesa ter suspenso a cotação das acções por ausência de informação.
Mais tarde, na época 2007/08, Janela era Director Desportivo do Belenenses quando rebentou o "caso Meyong", jogador alegadamente utilizado irregularmente por ter representado três clubes nessa época desportiva. O Belenenses seguia em quinto lugar (que garantia presença na Taça UEFA), mas na iminência da perda de 6 pontos - decisão mais tarde tomada pelo Conselho de Justiça (não sei se posteriormente não revertida) - a direcção azul decidiria despedir Carlos Janela, considerando-o, em comunicado, o único culpado pelos acontecimentos, atribuindo a razão da sua decisão à perda da relação de confiança com o referido profissional. Janela defendeu-se em conferência de imprensa e na presença de ex-dirigentes do clube do Restelo, imputando responsabilidades ao presidente azul, Cabral Ferreira, e dizendo que só pegou no processo no fim, mas o mal já estava feito e a fúria dos adeptos já lhe tinha valido uma agressão por dois sócios à saída do estádio.
Agora é a cartilha do Benfica, os emails em que o seu nome aparece, nomeadamente aquele relacionado com a criação de um blogue. Janela nega, mas diz que chegou a pensar, por iniciativa própria, fazê-lo, ele que há muitos anos(?), na Universidade(?) tinha pensado criar um (de outra natureza, académica) e que vê espaço para um blogue de opinião "categorizada e especializada". O mesmo senhor que, enquanto comentador "independente" da CMTV, convidava os sócios do Sporting a votarem em Pedro Madeira Rodrigues, com pérolas como "não tenho a menor dúvida de que Bruno de Carvalho foi goleado no debate televisivo" ou "Pedro Madeira Rodrigues pode ganhar as eleições". Viu-se, foi só uma margem de erro de uns 90%! Além disso, são também suas as afirmações de que "o Sporting é um clube cheio de mentiras, de embustes e de mistificações, completamente desestruturado", bem como "Bruno de Carvalho deixa o Sporting em cacos", numa alusão a um dirigente que Janela perorava que deveria ser irradiado. Tudo citações já anteriormente documentadas no "És a nossa Fé!", por Pedro Correia, na sua rubrica "Hossanas de Cartilheiro".
Sobre a sua ligação ao Benfica, Janela nada diz. Apenas informa que trabalha com vários clubes nacionais e internacionais. Já não é mau, afinal como ele próprio várias vezes repete com grande eloquência "as grandes mentiras do mundo têm sempre um ponto de verdade". Azar nosso e má fortuna é que no futebol um ponto provém de um empate e ainda se terá de apurar, tanto quanto é do domínio público, se algumas verdades do mundo (futebolístico) têm ou não três pontos de mentira em certos fins de semana... [reticências também têm três pontos]