Hoje giro eu - Investir na qualidade
Esta temporada, o Sporting gastou cerca de 37 milhões de euros em contratações (16) para o futebol. No entanto, olhando para o nosso plantel não é notório um crescimento da sua qualidade média. Mais, muitos dos jogadores que entraram e não mostram rendimento apreciável estão a tapar a ascensão de jovens com um custo muito inferior na conta de exploração.
Quando se fala na aposta na Formação há sempre quem se manifeste contra, essencialmente porque fica a pensar que tal significa jogarem como titulares 11 jogadores produzidos na Academia. Ora, o modelo que preconizo não é esse. Não que não fosse esse o cenário ideal, simplesmente não haveria qualidade suficiente em 1/2 gerações (previsivelmente) para que tal se pudesse materializar.
Eu olho para o Ajax - não é de hoje, a análise já tem uns anitos - e vejo que há um racional por detrás da política desportiva. Assim, os lanceiros apostam em jovens formados na sua academia, mas potenciam o seu crescimento via aquisição cirúrgica de jogadores experientes no mercado. Faço aqui um aparte para lamentar a falta de visão inerente à contratação de Mathieu: enquanto o Benfica soube aproveitar a experiência acumulada de Luisão para o tornar uma espécie de artífice, artesão da última estação de desenvolvimento do Seixal, ajudando a lapidar jovens como Lindelof ou Ruben Dias, o Sporting mandou embora, definitivamente ou por empréstimo jogadores como Domingos Duarte, Ivanildo ou Demiral, não rendibilizando aquilo que o francês poderia aportar a esses activos provenientes da nossa Academia. Ora, o Ajax, desde Janeiro de 2018 foi buscar o lateral esquerdo argentino Tagliafico (25 anos), por 6 milhões, o experiente médio sérvio Dusan Tadic (30 anos), por 11,4 milhões, e fez regressar um jogador formado em casa, o central/lateral Daley Blind (28 anos), por 16 milhões. Estes jogadores, aos quais se junta o veterano (32 anos) dinamarquês Lass Schone, enquadram a "cantera" lançada por Peter Bosz na temporada de 2016/17 - há quem diga que o Ajax só está na moda porque ganhou em Madrid, mas a antiga equipa de Johann Cruiyff esteve presente na final da Liga Europa de 2016/17 - , onde se destacam o guardião Onana, o defesa De Ligt, os médios Van de Beek, De Jong e Ziyech e os avançados Neres e Dolberg, para além do marroquino Mazraoui, também ele produto das escolas do Ajax e que apareceu pela primeira vez na equipa principal em 2018.
Concluindo: como se pode verificar, os lanceiros não investem em "gorduras", aproveitam o que têm e só vão ao mercado para adquirir jogadores que possam fazer a diferença, algo bastante diferente daquilo que tem sido a nossa "estratégia". O Sporting, que em época e meia investiu 100 milhões de euros em contratações das quais só se destacam pelo rendimento desportivo os jogadores Bruno Fernandes, Acuña e Mathieu, continua a gastar dinheiro que não tem em jogadores de uma classe média/baixa do futebol mundial que não se diferenciam positivamente face àqueles que produz. Mais, quando acerta numa contratação (Idrissa Doumbia) não a mete a jogar, não retirando daí rendimento desportivo ou financeiro (a manter-se a situação). E chega ao ponto de não ter pontas-de-lança no banco quando se lesiona um dos dois que compõe o plantel, preferindo adaptar Coates como plano de contingência, equívoco que faz pensar qual o motivo pelo qual existe uma equipa de Sub-23 (ou antigamente a "B").
O mais triste disto tudo é que poderíamos ter um plantel bem mais competitivo do que o actual e estarmos a gastar menos 20 milhões de euros, orlando uns sustentáveis 50 milhões de euros de custos com o pessoal, se apostássemos num misto de qualidade e desenvolvimento de jogadores da Formação.
P.S. Alguém sabe quem são os jogadores da Formação que em Alcochete se considera terem potencial para jogar na equipa principal? De que forma é que isso se conjuga com o Scouting? É possível termos identificado meia-dúzia de miúdos nossos com elevado potencial e todos virem a ser "tapados" por aquisições para as mesmas posições feitas sem qualquer critério?