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És a nossa Fé!

Hoje giro eu - Bruno Fernandes

A propósito de vários comentários depreciativos que vou lendo na blogosfera (e não só) sobre Bruno Fernandes, gostaria também de emitir a minha opinião. Começo por fazer a minha declaração de interesses: para mim, Bruno Fernandes é o melhor jogador do Sporting. Para chegar a esta conclusão, deixei de fora qualquer sentimento de animosidade que pudesse ter contra o homem que rescindiu, alegando justa causa, o contrato inicial que tinha assinado pelo Sporting. Também não dei especial relevo ao facto de esta época estar a jogar menos, dadas as condicionantes físicas (pré-época sofrível) e a alteração do modelo de jogo. Apenas me baseei no seu valor intrínseco: superior visão de jogo, qualidade de remate, passe de ruptura, capacidade de liderança em campo e intensidade e comprometimento com o jogo, que o tornaram, na temporada 17/18, o jogador leonino mais influente (Ranking GAP) e o melhor jogador do campeonato para o Sindicato dos Jogadores de Futebol, para além de ter recebido a sua primeira internacionalização A e de ter sido integrado na selecção nacional que disputou o Mundial.  

 

Embora haja quem nunca tenha gostado do jogador, algo que devo respeitar, tenho para mim que a maioria dos Leitores dá como certo que Bruno Fernandes está muito abaixo dos parâmetros do ano anterior. Principalmente, é mencionado o facto de estar a falhar demasiados passes, o que não deixa de ser uma evidência. Assim sendo, seguidamente, vou tentar apresentar algumas razões do ponto-de-vista táctico que podem justificar esse abaixamento de forma.

 

O Sporting de 17/18 tinha William como pivot defensivo. Embora este fosse bem menos intenso defensivamente do que Battaglia, a sua qualidade de passe era bem superior. De entre o leque dos seus refinados recursos técnicos destacava-se o passe vertical rasteiro, que entrava entre linhas do adversário, deixando Bruno Fernandes, no meio, de frente para os defesas contrários. Ora, esta época, com Battaglia, as coisas são diferentes. Batta é um jogador de arrastamento de bola, não de passe, muitas vezes evoluindo na perpendicular à baliza contrária, e com isso Bruno acaba por ter de se deslocar para as linhas laterais, não tendo (ainda por cima) Bas Dost para responder aos seus cruzamentos. Apesar disso, se olharmos com atenção, verificaremos que continua a ser o jogador mais influente da equipa, tendo participado em 7 dos 12 golos do leão (Jovane é o segundo com 6). Vendo ainda mais cirurgicamente, concluimos que as melhores acções de Bruno ocorreram quando recebeu a bola na zona central do terreno. Foi daí que marcou e assistiu (Dost) em Moreira de Cónegos, lançou Jovane para uma assistência contra o Vitória de Setúbal, combinou com Montero e marcou contra o Marítimo ou serviu Nani para este centrar de forma geometricamente perfeita para Raphinha contra o Qarabag. Para além do golo de penalty contra a equipa insular. A excepção que confirma a regra ocorreu na Luz, quando sobre a direita assistiu Montero, em lance que terminaria com uma grande penalidade a nossa favor.

 

Considerando este pressuposto como correcto, resta perguntar-nos como pode Bruno Fernandes ser optimizado, recebendo mais bolas no corredor central. Ora, na minha modesta opinião, aqui existe um constrangimento, relacionado com aquilo que me parece ser  o grande calcanhar de aquiles táctico deste novo Sporting: o duplo-pivot não ajuda a mitigar as deficiências de qualidade de passe de Battaglia. Teorizando, a existência de um jogador mais perto de Bruno Fernandes ajudaria este a soltar-se mais, na medida em que Gudelj ou Wendel chamariam a si adversários e libertariam Bruno com esses movimentos, podendo este receber a bola, sem marcação, de frente para a baliza e com opção de passe ou remate. Actualmente, a Bruno é pedido que seja um dois-em-um, que tente ganhar também a segunda bola, ao contrário do que ocorre nos clubes rivais. Enquanto Gedson, Pizzi ou Gabriel, Herrera ou João Novais, tudo números "8", aparecem muitas vezes nas imediações da área contrária, no Sporting, Bruno coloca a bola e ainda tem de ir a correr tentar ganhar um ressalto. Até porque se olharmos para a disposição da nossa equipa em campo, ela parece adoptar a "Táctica do Pudim" (Molotof, na circunstância), que consiste em ter grande cobertura de jogadores à volta do campo, mas com um buraco no meio, concretamente o espaço deixado vazio entre o duplo-pivot e o "10" (Bruno).

 

Evidentemente, nem tudo obedece aos conceitos tácticos e é preciso entender que Bruno não tem estado feliz no passe, não obstante ajudar a equipa na pressão alta e recuperar algumas bolas. Igualmente importante será perceber onde perde a bola. Como jogador experiente que é, sabe onde pode e deve arriscar e, até hoje, de nenhuma das suas perdas de bola resultou algum golo contrário. (Em contraposição, em Braga, uma troca de passes entre Montero e Ristovski, veio a ocasionar o golo bracarense.) No entanto, e receando a menor certeza recente do seu passe, talvez seja pouco prudente apostar actualmente nele para "8". Mais tarde, e na medida em que a sua capacidade física e técnica volte ao normal, tal poderá ser uma boa solução, permitindo que Nani jogue mais interiormente (como "10") e que Jovane emparceire com Raphinha nas alas.

bruno-fernandes.png

 

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