Hoje giro eu - Bruno e o futuro
Hesitei muito em escrever este texto. No actual estado de coisas, o risco de ser mal-entendido é muito grande. Meço a temperatura à blogosfera leonina e sinto-a a ferro e fogo, dividida, radicalizada, ainda que os pratos da balança estejam fortemente inclinados a favor dos prosélitos de Bruno de Carvalho. Não me revejo na linguagem empregue em muitos comentários e não penso que seja esta a imagem que um clube como o Sporting deva passar à nossa sociedade e, por isso, sinto ter o dever de sair da minha zona de conforto e de dizer o que penso, esperando que esta minha acção seja compreendida como uma critica construtiva, como um apelo a uma serena reflexão que se traduza num futuro melhor e mais harmonioso para o clube e seus adeptos.
Eu julgo que o problema actual reside no conceito que Bruno de Carvalho tem de militância. Atente-se naquela sua afirmação de que prefere uma minoria ruidosa a (re)produzir chavões do que uma maioria silenciosa. Não sou hipócrita. Não combati, à minha dimensão, a cartilha benfiquista, que apelidei de "Cartilha de João de Deus dos pobres de espírito" ou "Alegoria da Caserna", para agora estar acefalamente a repetir os "dictats" que Nuno Saraiva semanalmente transmite aos microfones da SportingTV. Desde logo porque aquilo que critico na Cartilha é a inversão dos valores pelos quais se deve reger o desporto e, em particular, o futebol. Porque o desporto-rei é alegria, é paixão, não é a criação de desumanidade, algo que os grotescos textos de Carlos Janela abundantemente estimulam.
O Sporting tem de ser diferente. A sua grandeza reside na diversidade. Tal como os adeptos portistas quando ouvem Francisco J Marques - engraçada a consoante atribuida ao "middle name" do "investigador", assim ao jeito de um Edgar J Hoover - , também nós, sportinguistas, somos inteligentes e sabemos retirar as ilações devidas daquilo que ouvimos. E a maioria não gosta de ver sócios ou adeptos do Leão envolvidos em troca de correspondência com a nomenclatura benfiquista - é que uma coisa é ser oposição a Bruno de Carvalho, outra é ser oposição ao próprio Sporting. Como também não gosta de ver a necessidade de protagonismo dos Severinos/Zeferinos, "trava-linguas", que criticam cegamente, e de forma absolutamente parcial, o presidente. Não gosta e não se esquecerá, caso seja necessário afirmá-lo em futuros actos eleitorais.
Dito isto, vamos ao essencial: vejo com bons olhos a elaboração de um Código de Conduta (ou de Ética), à semelhança do que venho preconizando para todos os agentes desportivos, que balize os direitos e os deveres dos sócios. Assim sendo, a sua violação implicaria que o sócio caisse na alçada do Regulamento Disciplinar. A minha preocupação reside na redacção demasiado lata de alguns artigos e saber se da sua interpretação futura se podem criar constrangimentos à liberdade de expressão exercida de forma conscenciosa e urbana. É que não podemos nunca confundir a ofensa gratuita e mal-intencionada com a critica construtiva daqueles que, pensando pela sua cabeça, sempre souberam pôr os superiores interesses do Sporting Clube de Portugal acima dos seus interesses e/ou ambições pessoais, que sabem muito bem prevenir situações de conflito de interesses e que querem genuinamente contribuir para o engradecimento do clube.
Bruno de Carvalho tem obra muito meritória realizada, a nível de sustentabilidade, promoção do ecletismo e da inclusão social, mobilização dos adeptos, defesa intransigente do clube em todos os "fora" de decisão, construção do Pavilhão João Rocha, et caetera. Pode vir a ficar na história como um dos melhores e mais vitoriosos (futebol incluido) presidentes do Sporting. Mas, como homem inteligente que é (desenganem-se os que pensam o oposto), precisa de compreender os sportinguistas tão bem como soube entender os meandros do futebol português. A união do clube é importante, indiscutivelmente. Dir-se-ia até que dificilmente o clube poderia estar mais unido, tal o resultado do último plebiscito eleitoral. Não podemos é confundir união com unanimismo, até porque dessa forma estaríamos a castrar as ideias, a paixão e o entusiasmo de muitos de nós. Isso, só nos regimes totalitários é possível. E nós não queremos isso no nosso clube.