Hoje giro eu - A reconstrução
Uma Direcção ferida de morte ou que já morreu e disso ainda não deu conta (os "walking dead"), meia dúzia de rescisões no "pipeline" e o presidente do rival da águia desejoso de dar uma bicada, de cometer "uma pequena loucura", eis o estado mais recente da grande nação leonina.
Entre outras considerações que se poderiam fazer sobre o momento do clube, quanto mais tempo perdurar esta indefinição mais difícil será empreender a necessária reconstrução. Que, inevitavelmente, terá de passar pela intransigente defesa dos superiores interesses do Sporting e concomitante protecção dos direitos que tem sobre os activos que se autoalienaram. Nesse sentido, Luis Filipe Vieira poderá ver o seu tiro sair pela culatra pois será incompreensível para qualquer analista imparcial que homens que alegam sentirem-se coagidos no seu dia-a-dia (sentimento pelo qual nutro respeito) optem por manter actividade na mesma cidade, futuramente a representar um clube que tem o seu estádio e o seu centro de treinos afastado apenas escassos kilómetros dos do Sporting e que, com este, mantém uma rivalidade histórica polvilhada com recentes episódios de extrema violência verbal e fisica. Além disso, do ponto-de-vista estratégico, com o nome do seu clube envolvido em inúmeros casos sob investigação judiciária, o presidente do Benfica, com esta atitude, estará já a alienar qualquer possibilidade de entendimento com um futuro presidente do Sporting, qualquer possibilidade de redução de ruído, permanecendo isolado. Logo, um erro. E crasso!
Por outro lado, considerando eu que esta Direcção do clube de Alvalade está a prazo (e ontem já teria sido tarde), os argumentos usados por alguns na luta pelo poder reduzem, em minha opinião, no "day after", a possibilidade de defesa leonina. É que quem agora dá 100% de razão aos jogadores para rescindirem, chegado ao poder, terá futuramente de executar um mortal à retaguarda em defesa do clube. Ou não?
O "turnaround" do Sporting irá passar muito pelo sucesso (ou não) na implementação de uma cultura corporativa forte, que assente em exigência, excelência, compromisso e superação. Transversal a todo o clube. Com o exemplo sempre a vir de cima, numa lógica "top down". Nesse sentido, o Sporting terá de ser um clube aberto à sociedade civil e que entenda as tendências sociais, económicas, culturais e demográficas dos nossos tempos. Trabalhar essa cultura com os atletas, desde tenra idade, mas também com os sócios e adeptos. Assim, criaria um pelouro da Juventude. Não podemos nem devemos confundir, em nenhuma circunstância, as claques com os jovens - a Juventude Leonina e outras têm lá "jovens" com idade quase para serem meus avós... - porque isso seria focar na árvore em detrimento do necessário enfoque na floresta e, portanto, muito redutor. Que soluções oferecemos hoje aos nossos jovens sócios e adeptos, para além de fazerem parte de uma claque, que preencham a sua natural aspiração de ser parte de algo? Que ligação tem o clube actualmente com a escola pública? Em que projectos de inserção social, em bairros desfavorecidos, está o clube envolvido? Que programas de voluntariado (e com que difusão) para jovens temos actualmente a decorrer na Fundação Sporting? Se nada fizermos, importaremos todos os problemas associados a uma sociedade que vê crescer todos os dias rebeldes sem uma causa, escravos do vício, do ócio e da falta de valores (sim, porque entre os jovens que invadiram Alcochete havia profissionais liberais e licenciados, nem todos foram desfavorecidos à nascença). Um clube com uma cultura forte marcará todos à sua volta, um clube sem referências será permeável a tudo o que vem de fora. E isso um dia paga-se, sob a forma de um "braço armado" que ninguém ousa parar. Como todos vimos.