Há vida para além do défice - Ideias (1)
Bem sei que a Direcção do clube passou aquele linha que relegou para segundo plano as suas inúmeras realizações ao longo destes anos. Por muito que se valorize um trabalho, a ameaça de utilização de uma "bomba atómica", latente durante um período em Abril e agora de volta, em forma de boomerang, nos últimos dias, é algo que tem de alarmar um sócio. A ideia de exigência no plantel profissional de futebol é algo que me agrada e que penso necessita de ser reforçada, mas isso não pode ser imposto de uma forma autoritária, repressiva e, perdoem-me, imatura. Deve, isso sim, ser obtida com inteligência através de um conjunto de práticas, procedimentos e atitudes, em que o exemplo deve sempre vir de cima. Enfim, as coisas não correram bem, as partes foram-se afastando (o que é sempre um mau sinal sobre a liderança) e para piorar o cenário surgiriam os horríveis acontecimentos de Alcochete, que enquanto adepto e sócio me envergonharam, mas do qual espero que os jogadores não retirem outra conclusão que não seja não confundir um grupo de arruaceiros com os ordeiros adeptos comuns do Sporting. Não sei o que será o futuro. Sei que retirei o meu apoio a esta Direcção, em Abril, mas é apenas a minha opinião, os sócios são e serão soberanos. Como sempre nestas ocasiões começa a surgir na imprensa o habitual desfile de diversos nomes, putativos candidatos à presidência do Sporting. Sou mais um homem que valoriza ideias e tem muito pouca paciência para feiras de vaidades. Nesse sentido, lembrei-me de criar esta série onde diariamente irei apresentando ideias que fui maturando com o tempo, na esperança de que, após revistas, melhoradas e complementadas por todos aqui no blogue, possamos, em conjunto, humildemente contribuir para o engrandecimento desta ENORME instituição, seja este ou qualquer outro o presidente em funções. Não nos podemos estar sempre a queixar, temos o dever de cidadania leonina de nos informarmos, nos envolvermos, de participarmos activamente na vida do clube, trazendo valor e mostrando ao mundo que somos realmente diferentes e pela positiva, mais ainda agora que a imagem pública do clube está degradada e que urge recuperá-la. Parafraseando John Fitzgerald Kennedy, mais do que lamentarmos o que o clube não faz por nós (ou ficarmos à espera do que o clube pode fazer por nós), afirmemos aqui aquilo que podemos fazer pelo clube. Levantemo-nos leões!!!
Como o texto que tenho preparado é longo e compreende diferentes áreas, decidi dividi-lo aqui no És a nossa FÉ em vários fascículos/capítulos. Hoje, apresento aqui o primeiro, subordinado aos temas Cultura Corporativa, Dinamização dos Núcleos, Academias e Liga de Clubes (nota: dada a natureza de um Post tentei sintetizar o mais possível os tópicos). Amanhã, trarei aqui um Post dedicado à relação com os sócios.
Cultura Corporativa: os jogadores de futebol não são prestadores de serviços, mas sim quadros do clube. Julgo que uma das prioridades do clube deverá ser o investimento na cultura corporativa (a “mística”, no jargão futebolístico), um elo identificador que una todos os profissionais do clube à volta de um nexo comum, de forma a que o todo se sobreponha sempre à soma das partes. Nesse sentido, em relação à equipa de futebol, urge retirá-la um pouco do isolamento de Alcochete e aproximá-la do coração do clube, Alvalade, dos seus adeptos (não confundir com hooligans) e de atletas de outras modalidades, para além de permitir a realização de acções formativas. Marcar-se um treino matinal semanal em Alvalade (às quartas-feiras?) seguido de um "day-out", à tarde, com os sócios e atletas das modalidades, seja através de actividades de team-building, seja através de apoio ao merchandising (com sessões de autógrafos) na Loja Verde, seja através de seminários organizados pelo Sporting que visem acautelar o futuro profissional dos jogadores (criando aquele factor diferenciador que os jogadores reconhecerão), pós cessação da sua carreira desportiva, em matérias como gestão de empresas, liderança, literacia financeira, etc. Gostaria também de ver um ex-jogador, campeão pelo Sporting, como Director para o Futebol, que fosse capaz de ser um fio condutor entre a história centenária do clube e o balneário, com o objectivo de se conseguir uma cultura de exigência, excelência e superação, a todos mobilizando no sentido da atitude e compromisso necessários para lá chegar. Em traços mais gerais, e visando todo o clube, criaria um Comité de Inovação, forum onde todo o tipo de colaboradores do clube estaria representado. O clube podia promover um concurso de ideias para funcionários/sócios, oferecendo um prémio simbólico como forma de motivar as pessoas a apresentarem-nas. Lembro-me sempre daquele episódio académico, salvo erro na Colgate, onde foi aberto um concurso interno em que se pediam ideias a todos os funcionários sobre como aumentar as vendas. O vencedor foi o motorista da empresa, que preconizou que se aumentasse o bocal das bisnagas de dentífrico...
Dinamização dos núcleos: também tem de se dinamizar mais os núcleos, que são um bom canal de vendas (para além da bilhética) e potenciadores de negócios para o clube. Estão nas regiões e devem estar ligados ao tecido económico das mesmas. Poderão servir para aumentar o número de associados, incrementar as vendas de produtos e serviços do clube e como polo aglutinador de patrocinadores para o clube através do conhecimento das forças vivas da região e suas necessidades de promoção das marcas. Deveriam ter Promotores comerciais, pagos à comissão, na venda de produtos/serviços, num modelo que poderia atribuir um "fee" maior ao núcleo, ficando estes responsáveis pelo pagamento dos comerciais, ou um "fee" menor, assumindo o Sporting os compromissos com esses comerciais. Gostaria que um dia nos fosse mostrada uma discriminação dos proveitos obtidos na Loja Verde, Rua Augusta, "on-line sales" e outros canais, de forma a perceber de que forma se podem melhorar as vendas nos diversos canais de distribuição. Nos escrutínios eleitorais, os núcleos deveriam poder participar através do voto electrónico, observadas as necessárias garantias de fiabilidade e integridade do sistema.
Academias: existem actualmente diferentes modelos de negócio das Academias. Em algumas, o Sporting tem uma participação; noutras receberá um “fee” (100% franchising). Seria interessante que estes modelos e respectivos Business Plan fossem apresentados aos associados e que se percebesse, através de planos plurianuais, quais os custos em que o clube incorre e os proveitos que se podem esperar destas apostas. Igualmente, no plano desportivo, perceber-se quais são os objetivos. Há algumas informações dispersas que indicam que já há alguns jovens a treinar nas equipas de Formação do Sporting e que são provenientes deste tipo de academias, mas não são claros quais são objectivos (quantificáveis). No fundo, seria interessante uma apresentação, onde ficassem claros os objectivos económicos e desportivos da aposta nas academias, a nível nacional e internacional, e perceber-se qual a política de expansão e como se conjuga com o merchandising e a promoção da marca.
Liga de clubes
Inspirar uma alteração dos quadros competitivos: em cinco anos (se não se conseguir antes), campeonato com 12 equipas, disputado numa primeira fase a duas voltas; “play-off” (6 primeiros da primeira fase) e “play-out” (6 últimos da primeira fase) com 6 equipas cada, a duas voltas, total de 32 jogos; os pontos contam desde o início, descida de divisão para os dois últimos classificados do “play-out”, o que possibilitaria que a mesma receita fosse dividida por menos clubes. Igual modelo para a 2ªLiga e para a 3ªLiga (inovação). Criação da 4ª Divisão, nos moldes do actual Campeonato de Portugal, a cargo da Federação Portuguesa de Futebol. Desde logo, haveria mais jogos entre Sporting, Porto e Benfica e quem conseguisse chegar ao “Play-off” receberia duas vezes os “grandes”, uma grande motivação e aumento das receitas de bilheteira para todos. O vencedor do “Play-out” poderia ter um bónus da Liga (ou mesmo uma participação europeia garantida, por troca com os quintos/sextos classificados do “Play-off”), a fim de que os clubes estejam motivados. Julgo que com estas medidas, e assegurando que em 5 anos, o modelo estaria implantado, teríamos daqui a 10 anos 3 clubes na Champions.
Melhor distribuição das receitas televisivas entre os clubes: pode parecer um paradoxo, mas a verdade é que actualmente Portugal só tem um participante garantido na Champions e isso deve-se, essencialmente, à má prestação dos clubes médios do futebol português nas provas da UEFA. Às vezes, é importante dar um passo atrás para se poderem dar dois à frente e uma maior competitividade da Liga ajudará a todos a longo prazo.
SADs: A Liga enquanto regulador tem de fazer outro escrutínio na constituição de sociedades anónimas desportivas. O futebol, actualmente, é um paraíso para negócios pouco claros e é necessário tomar medidas para combater isto. O “match-fixing”, geralmente associado às apostas desportivas, é um flagelo que importa enfrentar. Não me parece que haja suficiente “compliance” sobre os investidores e a Liga deveria adoptar os procedimentos actualmente em vigor no sistema financeiro sobre branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo (BCFT). E depois, há modelos que funcionam porque apostam em criar raízes e na envolvência com as povoações, como é o caso do Aves, outros não contemplam essa realidade e acabam por criar um fosso com os sócios e adeptos do clube, servindo apenas como plataforma de interface de jogadores.
Código de Ética dos Agentes Desportivos; é fundamental a existência de um código de ética, de conduta, que abranja todos os agentes desportivos, com especial ênfase na prevenção de conflito de interesses, promiscuidade, tráfico de influências e corrupção. Penalizações em sede de justiça desportiva para os prevaricadores.
Desvantagens competitivas face a diversos países europeus devido a uma fiscalidade mais exigente e que não discrimina positiva uma profissão de desgaste rápido (dos profissionais de futebol). Promover consenso na Liga e constituir "lobby" para sensibilizar o governo, no sentido de tentar aligeirar a carga fiscal.
O Sporting tem de estar estratégicamente na primeira linha em todas estas transformações que o futebol português precisa e necessita de ser mais persuasivo na mobilização dos restantes clubes para esta causa. Há que perceber o que é fundamental e o que é acessório e saber estabelecer os compromissos necessários para que as nossas ideias vinguem. Inovar permanentemente e criar factores de diferenciação face à concorrência têm de ser um moto contínuo do nosso dia-a-dia.