Gyökeres joga que se farta e volta a marcar
Sporting, 2 - Arouca, 1
Gyökeres saudado por Morten após ter marcado o golo de abertura contra o Arouca em Alvalade
Foto: Patrícia de Melo Moreira / AFP
Que diferença um ano faz. Na época 2022/2023 fomos incapazes de vencer o Arouca - que acabou por ficar em quinto na classificação final, só um lugar abaixo de nós. Empatámos lá (1-1) e perdemos cá (0-1).
Desta vez, tudo diferente. Triunfo por margem mínima (2-1), mas sem qualquer contestação. Com golos marcados por Gyökeres - who else? - aos 31', com assistência de Edwards, e por Morita aos 68', com assistência de Pedro Gonçalves. Os de Arouca marcaram aos 52', no nosso único lapso defensivo digno de registo.
Consumou-se a vingança.
Noutras partidas, antes desta oitava ronda disputada em Alvalade perante quase 37 mil espectadores, fomos menos pressionantes, menos enérgicos. Mas não nesta, que dominámos do princípio ao fim, com fome de bola e sede de conquistar pontos para mantermos a liderança a que ascendemos à sexta jornada.
Objectivo concretizado. Com os centrais actuando num desenho mais largo do que é habitual, dois interiores muito móveis (Pedro Gonçalves à esquerda, Edwards à direita) e Gyökeres sempre como referência atacante, prendendo dois ou até três defesas adversários. Mas sem estar plantado na grande área: o internacional sueco - melhor em campo - veio várias vezes buscar jogo a zonas mais recuadas e até junto da linha, tanto à esquerda como à direita. Paulinho desta vez não calçou: ninguém sentiu a falta dele.
Foi um Sporting veloz e compacto, sem perder a consistência, que se mostrou ao seu público. Que - vá lá - desta vez não assobiou a equipa. Guardou as vaias para o árbitro António Nobre, que entrou em campo decidido a dar show de cartões. Prejudicando o espectáculo. E penalizando sobretudo Diomande, castigado com dois amarelos exibidos injustamente. No primeiro lance, aos 29', houve um breve desaguisado entre o jovem defesa marfinense e um adversário. No segundo, aos 42', o apitador de turno mostrou-lhe o segundo amarelo - e mandou-o para a rua - por falta inexistente. Que o vídeo-árbitro não pôde reverter por estar fora do seu âmbito a análise de duplos amarelos.
Expulsão injusta, sim. Num péssimo momento para nós, a escassos minutos do intervalo. Mas era o que faltava se mesmo só com dez não fôssemos capazes de derrotar o Arouca no nosso estádio.
Houve quem dissesse que estes três pontos foram «arrancados a ferros». Discordo. O golo da vitória leonina entrou nas redes arouquenses aos 68'. Depois, com um jogador a menos, gerimos bem a vantagem - sem qualquer oportunidade adicional para a turma forasteira.
«Arrancada a ferros» foi a vitória do Benfica no Estoril, com o golo solitário marcado por um central aos 90'+3. «Arrancada a ferros» foi a vitória do Braga em casa contra o Rio Ave: aos 90' perdia 0-1, tendo marcado dois golos no tempo extra.
Há aspectos a melhorar no Sporting? Claro que sim.
Mas à oitava jornada sinto a irresistível tentação de olhar para o copo e vê-lo meio cheio, não meio vazio.
Alguns dados:
- Estamos invictos há 22 semanas;
- Marcamos golos há 16 jornadas seguidas;
- Temos mais nove pontos do que há um ano.
Poderá haver ainda alguém capaz de negar que a época em curso está a ser a melhor desde a inesquecível campanha de 2020/2021 em que conquistámos três títulos e troféus, incluindo o campeonato nacional de futebol?
Este desafio contra o Arouca só confirmou isso.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Sem culpa no golo sofrido, quase à queima-roupa, após descoordenação dos centrais. Defesa apertada aos 83'. Já no período extra, repôs muito mal a bola duas vezes, com os pés.
Diomande - Saiu aos 42', por acumulação de amarelos, de modo totalmente injusto. No segundo lance, nem sequer faz falta: o árbitro foi na péssima fita antidesportiva do jogador do Arouca.
Coates - Exibição de bom nível apenas maculada pela deficiente cobertura de Mújica, que fez o que quis frente à baliza, fuzilando Adán. Por mau entendimento entre o capitão e Matheus Reis.
Gonçalo Inácio - Cada vez mais maduro, mostrando a Roberto Martínez que tem lugar no onze titular da selecção. Destacou-se na qualidade dos seus passes longos em fase de construção.
Esgaio - Actuação suficiente, mas sem rasgo. Falta de capacidade para criar desequilibrios no corredor direito e centrar com perigo lá na frente. Jogou quase sempre só pelo seguro.
Morten - Voltou a mostrar qualidades após duas péssimas exibições em que já não voltou do intervalo. Destacou-se sobretudo nas recuperações e na precisão do passe.
Morita - Tornou-se elemento nuclear deste Sporting 2023/2024. Fundamental para assegurar a ligação entre o meio-campo e o ataque. Marcou o golo da vitória, à ponta-de-lança.
Nuno Santos - Desperdiçou duas ocasiões soberanas de golo. Anda num período complicado: não devia ter mudado a cor do cabelo. Passou ao lado do jogo. O treinador mandou-o sair aos 58'.
Edwards - O avançado algo apático que pecava por falta de entusiasmo parece ter emigrado. O inglês volta a estar em grande forma. Serviu Gyökeres, de forma exemplar, no primeiro golo.
Pedro Gonçalves - Tentou protagonizar lances de ruptura entre linhas, nem sempre com sucesso, mas foi sempre batalhador. Recompensado com a brilhante assistência para o golo de Morita.
Gyökeres - Alguém duvida que é o melhor jogador desta fase inicial do campeonato? Marca há cinco jogos consecutivos. E não desiste de um lance. Fôlego inesgotável do princípio ao fim.
Matheus Reis - Substituiu Edwards na segunda parte, compensando a inesperada ausência de Diomande. Distraiu-se no lance do golo sofrido. No capítulo do passe, só cumpriu os mínimos.
Geny - Voltou a entrar bem. Em campo desde os 58', substituindo Nuno Santos, esteve muito próximo de marcar num tiro que levava selo de golo (85'), travado in extremis pelo guarda-redes.
Eduardo Quaresma - Estreou-se esta época na equipa principal rendendo Esgaio (58'). Nervoso, intranquilo, algo atabalhoado. Viu o amarelo aos 62'. Saiu meia-hora após ter entrado.
Daniel Bragança - Substituiu Morten aos 82'. Desta vez não foi contemplado com nenhum cartão, ao contrário dos jogos anteriores. Grande recuperação aos 87'.
Neto - O veterano internacional entrou aos 88', substituindo Quaresma. Apenas com a missão de contribuir para segurar a bola quando o Sporting já aguardava o fim do jogo.