Gyökeres e mais dez no topo da Liga
Sporting, 3 - Gil Vicente, 1
Internacional sueco está a ser a grande figura da equipa leonina e do próprio campeonato
Foto: Miguel A. Lopes / EPA
Temos sem discussão a melhor equipa actual do campeonato. Isso ficou claramente demonstrado nesta partida em que recebemos o Gil Vicente. Vitória indiscutível, com cinco golos marcados - embora apenas três tenham valido. Os dois restantes foram invalidados por deslocação milimétrica.
Pormenor que merece ser assinalado: todos estes golos, excepto um, saíram dos pés do nosso maior craque, aquele que é de longe o melhor elemento em acção nesta Liga 2023/2024: Viktor Gyökeres, o ponta-de-lança que já leva 15 golos marcados na temporada, além de cinco assistências. Por outras palavras: interveio em 20 dos 48 que temos registados desde o pontapé de saída desta época em que parecemos embalados para recuperar o tão desejado título de campeões nacionais de futebol.
O sueco marcou o segundo, marcou o terceiro, apontou os tais que acabaram invalidados por meia polegada ou perto disso. Excepção foi o nosso primeiro, os 43': autogolo de Pedro Tiba, defesa gilista que teve o azar de desviar a trajectória da bola disparada do pé "cego" de Nuno Santos - o direito. Ia para fora, mas a carambola encaminhou-a para o fundo das redes.
O nosso ala esquerdo festejou como se fosse dele e até teria motivos para isso, mas em estrito rigor foi o golo credenciado ao adversário. Justo castigo para um fiteiro que passou meio jogo a rolar no chão, fazendo ronha para deixar correr o tempo: o tal medíocre futebolzinho à portuguesa de que equipas como este Gil Vicente usam e abusam. O que ajuda a explicar por que motivo há cada vez menos países estrangeiros a seguirem as transmissões desportivas cá da terra.
Rúben Amorim montou uma equipa de tracção à frente, atacando no primeiro quarto de hora com cinco jogadores em simultâneo. O Gil Vicente foi resistindo a estas investidas como pôde, procurando esticar o jogo sobretudo através de Félix Correia, o seu melhor elemento - formado na Academia de Alcochete. Numa dessas incursões esporádicas, Gonçalo Inácio, desconcentrado, perdeu o controlo do lance e viu-se forçado a fazer falta. Desse livre, marcado da direita para o centro, resultou o golo da turma de Barcelos, aos 34''. Contra a corrente do jogo.
Estiveram a vencer durante 10 minutos. Até o chouriço de Nuno Santos restabelecer o empate.
Amorim aproveitou o intervalo para fazer grandes mudanças. De uma assentada saíram Esgaio, Nuno e Gonçalo. Entraram Geny, Matheus Reis e St. Juste. O nosso jogo tornou-se mais fluido, mais ligado, mais objectivo. Sem rodriguinhos nem redundâncias. Com uma palavra de ordem: municiar Gyökeres. O internacional sueco cumpriu: foi a figura do jogo, melhor em campo, cada vez mais indiscutível.
Coadjuvado por Edwards, partiu tudo lá na frente. Ambos bem escudados em Morten, eficaz recuperador. Foram as estrelas da segunda parte, redimindo a equipa de uma certa apatia que se instalara no primeiro tempo.
Até ao fim, só deu Sporting. O período crucial ocorreu entre os minutos 52 e 56, com o nosso ponta-de-lança a marcar o segundo e o terceiro, servido por Morten e Pedro Gonçalves. Consumava-se a reviravolta. Num desafio em que estivemos sempre mais perto de marcar o quarto e até o quinto do que o Gil Vicente de reduzir.
Embalados para o título?
Se não é, parece. Concluída esta jornada 12, lideramos isolados. Com mais dois pontos do que o Benfica e três do que o FC Porto. Só perdemos cinco até agora.
Segue-se a deslocação a Guimarães no sábado. Estamos confiantes, claro. Alguém duvida?
Breve análise dos jogadores:
Adán - Volta a sofrer um golo: é raro o jogo em que consegue manter as nossas redes intactas. Desastrado em várias reposições de bola. Está longe da forma revelada quando fomos campeões.
Diomande - Começou como central à direita, depois viria a jogar todo o segundo tempo do lado esquerdo. Mantendo, no essencial, o controlo do espaço à sua guarda. No dia em que fez 20 anos.
Coates - O não-português que até hoje mais vezes vestiu a camisola do Sporting. É caso para celebrar: são já 344 jogos. Toda a equipa vestiu camisola com assinatura dele. Justa homenagem.
Gonçalo Inácio - Andará a sonhar em excesso com outros campeonatos? Desconcentrado, quase irreconhecível, provocou a falta de que resultou o golo sofrido. Já não regressou do intervalo.
Esgaio - Começou bem, mais audaz nas incursões ofensivas do que nos habituou. Mas, amarelado aos 39', forçou o treinador a mandá-lo tomar duche mais cedo. A equipa não perdeu com isso.
Morten - Grande exibição do internacional dinamarquês, com 11 passes verticais de frente para a baliza. Vai-se tornando figura pendular do nosso meio-campo. Assistiu Gyökeres no segundo golo.
Morita - Complementou Morten da melhor maneira: andam a formar uma parceria muito eficaz. Trabalham ambos para a equipa, não para colherem aplausos fáceis da bancada. Assim é que é.
Nuno Santos - Com um remate de ressaca fora da área, com o seu pior pé, viu a bola embater num adversário e rumar caprichosamente para a baliza. Abriu o marcador. Mas saiu logo a seguir.
Edwards - Atravessa um dos melhores momentos no Sporting. Protagonizou vários lances de ruptura. Interveio no golo 3 com uma grande recuperação. Quase marcou aos 49'.
Pedro Gonçalves - Evoluiu bastante nesta partida, mas ainda longe da melhor forma: parece sofrer crise de confiança, continua sem marcar. Mas foi dele a assistência para o terceiro golo.
Gyökeres - É o "abono de família" desta equipa. Correu mais de 10km, sempre de olhos na baliza. Marcou quatro (só dois valeram), disparou a rasar o poste aos 86'. Lutou do princípio ao fim.
Geny - Jogou todo o segundo tempo, articulando bem com Edwards no corredor direito. Supera Esgaio na capacidade de criar desequilíbrios. Falta-lhe ainda alguma consistência táctica.
Matheus Reis - Rendeu Nuno Santos no segundo tempo. Mais contido, arriscando pouco, mas conferiu solidez ao bloco defensivo, atento às dobras a Diomande. Cumpriu no essencial.
St. Juste - Esteve em campo cerca de 20 minutos. Substituiu Gonçalo Inácio, ficando como central à direita. Mas o fantasma das lesões continua a persegui-lo. Saiu aos 67', com uma entorse.
Eduardo Quaresma - Entrou como solução de recurso, com St. Juste aleijado. Mais de meia hora em campo. Algum nervosismo. Nem tudo lhe saiu bem, mas o balanço da sua actuação é positivo.
Paulinho - Último a entrar, só aos 84': rendeu Pedro Gonçalves. Na prática, tocou duas vezes na bola. Aos 90'+4 roubou-a a Edwards e deu a impressão de tentar o golo, mas atirou para fora.