Gritante falta de exigência
Leio estas declarações de Manuel Fernandes, antevendo o desafio de amanhã na Luz, e concluo: esta gritante falta de exigência faz mal ao Sporting. Proclamar, 48 horas antes do desafio, que «este jogo não conta nada», é mais um sintoma do que escrevi aqui há dias: andamos a caminhar na direcção errada. Em vez de elevarmos a fasquia, continuamos a baixá-la. Com esta mentalidade, onde sobra o esforço? O que resta da imperiosa dedicação? Onde mora a ambição de glória?
Quando, antes do apito inicial, históricos vultos do Sporting surgem no terreno mediático com paninhos quentes aos nossos jogadores proclamando que o clássico dos clássicos do futebol português é quase uma partida a feijões, transmitem um sinal profundamente errado a quem anda lá dentro. Absolvem-nos por antecipação se, como demonstraram no estádio dos Barreiros frente ao penúltimo do campeonato, tremerem todos e andarem a arrastar-se em campo, após dez dias sem competir, como se lhes faltasse sei lá o quê.
Considero ainda mais deslocado que seja precisamente alguém como Manuel Fernandes, eterno capitão do Sporting e um dos heróis deste clube com leão no símbolo, a emitir sinais tão desmobilizadores. Terá sido com este espírito que ele protagonizou aquele histórico dia 14 de Dezembro de 1986 em que goleámos o Benfica por 7-1? Também esse jogo que jamais se apagará do historial leonino «não contava para nada»?
No Sporting não há jogos a feijões, caro Manuel. Como sabes melhor do que ninguém. Cada desafio conta. Não é para «cumprir calendário» nem para aquecer nestes meses mais frios: é para vencer. Jogue-se onde se jogar.
Como é que não conta? Basta olhar de relance a tabela classificativa para perceber. Se perdermos amanhã, ficamos 15 pontos abaixo do velho rival. Se as três equipas mais próximas vencerem também, o Braga fica 9 pontos acima, o FC Porto fica com mais 8 e o Casa Pia ultrapassa-nos no quarto posto. Somaremos a sexta derrota em 16 jogos da Liga.
Será de mais pedir a estes sportinguistas com lugar cativo nos meios de comunicação (outro é Dias Ferreira, que já concluiu na TSF: com estes árbitros «não vale a pena») que transmitam aos nossos jogadores sinais inequívocos de exigência em vez de subscreverem este discurso derrotista, capaz de sepultar no berço qualquer aspiração à glória?