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És a nossa Fé!

Gelson

gelson.jpg

 

Fico francamente estupefacto face à onda de simpatia, qual compreensão, para com o acto do Gelson Martins ontem em Alvalade. Por duas razões. A primeira, mais rasteira, isto da bola e dos hipotéticos triunfos: o jogador já tem 22 anos, cumpre a terceira época na equipa principal, na qual decerto que sabe ser figura fundamental, é internacional A, e é um profissional bastante bem pago, ainda que possa aspirar a novos e "arábicos" contratos, desses que animam a cena futebolística actual. Ou seja, é já experiente e exige-se-lhe responsabilidade. Presume-se ainda que tenha alguma compreensão do que o que o rodeia e espera: diz-se que Garrincha quando se sagrou campeão do mundo no Suécia-58 não sabia que o campeonato tinha acabado, denotando a bruma (genial, mas obscura) em que dirimia o seu inesquecível talento. Mas espero que Gelson, para seu bem, extra-futebol até, não seja epígono dessa abstracção existencial. E que assim saiba, pelo menos, o "jogo" que a vida lhe prepara, o "calendário" que aí vem. Pelo menos o a curto prazo, que, de facto, é o máximo que podemos antever com alguma razoabilidade. Em suma, que soubesse que a próxima jornada é fundamental para as aspirações do clube que o formou, acarinhou e lhe paga. Fazer-se expulso, isentar-se desse compromisso, é totalmente inaceitável. Mimar um jogador querido, "da casa", competente, ainda para mais jongleur, assim alegria do povo? Sim, com toda a certeza. Mas aceitar isto que aconteceu, "compreendê-lo", é estragá-lo com mimos. Gelson está em dívida.

Mas a segunda razão é mais importante, e não se prende apenas com Gelson. Podemos compreender a amizade, a preocupação, o cuidado, dos jogadores do Sporting para com Ruben Semedo, seu ex-colega. Mas acontece que este não está envolvido numa qualquer situação, dessas corriqueiras que por vezes as notícias ecoam. Crimes ou prevaricações de futebolistas, gente jovem algo inebriada com as facilidades advindas da sua profissão ou, pura e simplesmente, fazendo o que outros fazem mas com as repercussões devidas à sua (relativa) celebridade. Coisas mais ou menos inconscientes, mais ou menos gravosas, por vezes até cândidas. A serem dirimidas pela justiça, com toda a certeza, mas às quais podemos conceder a suspensão da nossa avaliação moral, naquilo do "errar é humano", muito mais em jovens: a pancada no bar, se em dia de folga; a condução desabrida, e por vezes acima do limite de alcoolização; o destrambelhar de uma situação orgiástica, etc. Maus julgamentos momentâneos, sangue na guelra, imaturidade, valores pouco burilados, tudo a vir ao de cima em situações espontâneas. Lamente-se mas que atire a pedra quem nunca pecou. Ou seja, que a justiça funcione, ressarcindo hipotéticos lesados, mas sempre submetendo-se à vontade de regenerar, de a todos, os lesados e os prevaricadores, proteger pois enquadrar. O que significa a inadmissibilidade de "julgamentos exemplares". E que nós, cidadãos, compreendamos que a vida não é um mosteiro, que os jovens atletas não são uns monges ascetas, e que não devemos ser excessivamente moralistas. Nisto, como no resto.

Mas as notícias que nos chegam sobre este caso dizem algo diferente. Ruben Semedo está detido por, em grupo, ter sequestrado um homem no intuito de lhe sacar informações sobre o paradeiro de outrem. Agrediu-o, feriu-o, ameaçou-o de amputação, ameaçou-o de morte com uma arma de fogo. Isto não é um conjunto de putos jogadores (muito bem pagos) a roubarem numa loja, pela piada da malandrice, um miúdo já algo aviado à porrada numa discoteca, um tonto inconsciente demasiado bebido a perder o controle da "bomba" que comprou com o magnífico salário (ou que a marca lhe deu, para sua publicidade), ou o aguerrido viril a não aceitar o inopinado "não" que a miúda, daquelas que circundam os jogadores, decide no momento dos "finalmente". Tudo coisas de facto "inaceitáveis", crimes umas, burrices outras, mas "compreensíveis", enquadráveis no sentido de serem alvo de solidariedade, o que não significa "desculpabilização", irresponsabilização. Pois um "não é um não", sempre, ou a segurança rodoviária é fundamental, etc.

Mas os actos do Ruben Semedo não são isso, nem uma cena de momento, de exaltação, inebriada até. São puro gangsterismo. São mais do que inaceitáveis. Que os seus amigos jogadores do Sporting queiram pegar no telefone e fazer-lhe chegar a sua solidariedade é com eles. Que os profissionais do Sporting utilizem as instalações e as actividades do clube e, também, o capital social (a visibilidade, acima de tudo) que lhes advém da sua situação profissional e do seu enquadramento institucional (clubístico) para demonstrarem solidariedade pública - como o capitão William Carvalho também acaba de fazer  - com o autor destes actos é muito gravoso. A questão não é que o jogador tenha sido "formado" no clube. Foi-o, mas não é relevante para o caso ("acontece nas melhores famílias"). A questão é que solidariedade pública assumida em quadro institucional usa e abusa da instituição. Conspurca-a, até. Violenta-a.

E devia ter havido alguém a explicar estas matizes aos jogadores.

5 comentários

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    jpt 27.02.2018

    Caro homónimo maiúsculo neste caso estou um pouco em discordância. Não penso que Gelson seja o Super-Homem ou o New Ronaldo mas é um bom jogador, não o problema da equipa. A qual estará excessivamente dependente das suas capacidades, mas isso não é defeito dele, é defeito da equipa, seu plantel (excessivamente "pausado"). E, vamos lá a ver, ontem houve mesmo uma razia na equipa, inopinada ainda para mais, e uma patética expulsão que agravou o jogo - não se jogou bem mas não é o dia para "bota abaixo".
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    JPT 27.02.2018

    Infelizmente, Gelson é o problema da equipa, e já era o ano passado. Não é inédito o melhor jogador de uma equipa ser também o seu problema. Tivemos o mesmo problema com Rochenback, num ano em que, curiosamente, também "estávamos em todas as frentes", sendo mais ou menos evidente como é que isso ia acabar (como creio que é agora). Quanto ao "surto gripal", tenho para mim que se a rotação do plantel (que, aliás, só peca por tardia) tivesse corrido bem, nunca teríamos ouvido falar dele. Sendo um excelente treinador, o nosso mister é, também, um aldrabão (não é preciso recordar os episódios que metem dedos, ao serviço do rival, é só recuperar a declaração sobre os minutos que o Capela disse que daria, a semana passada, em Tondela: 3 na "flash", 2 na conferência) e um especialista em desculpas. Quanto a árbitros, já nem vale a pena falar: o recrutamento desta leva foi feita em pessoas totalmente desprovidas de vergonha (e que não têm qualquer razão para ter medo, que é um adequado substituto). Por isso nunca podemos fazer depender do árbitro uma vitória sobre o último em Alvalade (curiosamente, a minha convicção para, na sexta, no Dragão, é oposta). SL!
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    jpt 27.02.2018

    O Jesus fala mal, certo (e não falo de sintaxe ou gramática). Mas com toda a certeza que as suas vitórias futuras nos farão apreciar essa sua característica. SL
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    JPT 27.02.2018

    Assim queremos todos, com mais ou menos fé. E se Pedro negou três vezes, eu ainda tenho um par delas de reserva! SL!
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