Feito de Sporting - um desabafo
Feito de Sporting. Somos todos. Cada um de nós tem uma história de descoberta deste amor e desta essência. Não me lembro bem quando foi, apenas sei que comecei a sentir este grande amor, e este sentido de ser numa idade muito jovem.
Andava nos pátios da escola com a bola. Quando ocorria fazer uma jogatana contra outra turma, cada um escolhia o jogador que queria personificar em campo. Lembro-me de no ínicio não ser muito bom de bola, de dar chutos nela e cair para trás. Invariavelmente não me deixavam jogar, indo sempre parar ao banco, com direito a entrar nos últimos minutos do intervalo. Mas uma coisa era certa, escolhia sempre jogadores do Sporting Clube de Portugal.
Os craques eram muitas vezes escolhidos por aqueles que na época acertavam mais no esférico. Eu escolhia sempre um de dois, ou o Vidigal ou o Duscher. Para mim eram craques. Lembro-me de dizerem "se passa pelo Duscher não passa pelo Vidigal e vice-versa". Mas porquê? Hoje penso que é por eles serem combativos. Sempre gostei de jogadores combativos que deixavam o suor em campo, fosse pelo jogo ou pelo Clube.
Houve um dia que o "Vidigal" chegou feliz a casa, o jogo tinha ficado 3-2 para nós, com 4 golos do Vidigal (dois autogolos, e os dois golos que levaram ao empate). Foi nesse momento que comecei a treinar, a treinar. Primeiro no jardim de casa, depois numa escolinha. O bichinho do futebol nunca mais despareceu, mas a identidade Sportinguista estava lá:
Esforço, Dedicação, Devoção e Glória.
Mesmo sem conhecer nessa tenra idade o mote, estava dentro de mim porque já era Sportinguista. E sempre tive orgulho de dizer que o sou. Como eu existem milhões. Milhões que nunca tiveram a oportunidade de representar o Sporting Clube de Portugal em nenhuma modalidade. Nunca tiveram a oportunidade de entrar na Academia. Nunca pisaram o relvado, a pista ou o piso. Mas esses milhões sempre fizeram esforços para comprar o bilhete, fazer a viagem de carro, comprar a camisola do Leão, ser sócio do Clube, defender o nome do Clube em rixas amadoras de bate-bocas, tudo pelo Sporting.
O pagamento que queremos não são milhões, não são contratos milionários, vidas luxuosas, tribunas VIP em Alvalade. O único pagamento que queremos é a Glória. Não do A, B ou C, mas do Sporting Clube de Portugal. Que o Sporting seja um "clube tão grande como os maiores da Europa".
Somos nós, estes milhões representam verdadeiramente o clube. Treinadores passam, dirigentes passam, mas nós continuamos. Aqueles que vão ao estádio, vêem na televisão, ouvem na rádio, aguentam as falhas do streaming, ficam felizes quando se ganha cantando nas ruas, ou tristes quando se perde mantendo a esperança, são quem dá verdadeiramente tudo pelo Clube. São aqueles que já se imaginaram personificados num jogador do passado e que ainda hoje têm um pasmo na perna quando a bola vai para um dos nossos e sentimos que podíamos ser nós, a fazer o passe, o cruzamento, o corte, a simulação, a arrancada ou o golo. Seja em que parte for, seja que modalidade for. Isto é ser feito de Sporting, é ser Sporting, é viver o Sporting. Por isso somos diferentes dos outros. Não admitimos equipas banais, que não deixem tudo o que podem dar em campo. Nós deixamos nos campos em que somos titularíssimos toda a gota de energia que nos corre no corpo. É isso que pedimos, que façam o mesmo que nós. Que tenham amor ao Clube e se não têm pelo menos que respeitem a camisola que vestem e respeitem todos aqueles que fazem esforços para apoiar-vos em todos os momentos. Isto serve para os contratados e os da casa, os que são e não são Sportinguistas.
Quando correm, corremos juntos. Quando estão desanimados, estamos todos desanimados. Quando festejam, festejamos mais que todos.
O Clube do Leão rampante é feito de Mulheres e Homens que o representam com brio e orgulho. É isto que se joga a cada partida, a dignidade de cada Leão anónimo, o esforço que cada um faz fora do terreno de jogo para que um de vocês, os 11, os 23, os que forem sejam intermediários da Glória do todo.