FCP: a enorme desbunda
A actual administração da SAD do FC Porto divulgou ontem a auditoria forense encomendada à Deloitte sobre a gestão da sociedade desportiva nas dez últimas épocas sob a batuta de Pinto da Costa. Período em que o FCP foi lesado em quase 60 milhões de euros. Mas não lesado por fora: estava a ser vampirizado por dentro.
Documento exaustivo, com 390 páginas. Que faz chocante autópsia à recta final do pintodacostismo, quando quase tudo parecia andar a saque lá na Campanhã.
Não estamos apenas perante situações de má gestão, mas perante verdadeiros ilícitos - eventualmente até do foro criminal.
Uma enorme desbunda.
Algumas conclusões:
- Dois milhões de euros de dívida da claque Super Dragões por bilhetes cedidos mas não pagos. Claque provocou prejuízo global de 5,1 milhões de euros.
- «Uso indevido de recursos do clube para pagar viagens pessoais a membros e familiares da Direcção dos SD para destinos onde não existiam jogos do clube». Exemplos: Maldivas, Cuba, Tanzânia, Brasil, Sardenha, Ibiza e Cancún.
- Compra de jogadores do Portimonense por um preço muito acima dos valores de mercado e sem préstimo desportivo para o FCP.
- A SAD adquiriu ao Portimonense 90% do passe do guarda-redes Samuel Portugal por 4 milhões de euros. Três épocas depois, o jogador ainda nem se estreou na equipa A portista.
- Gleison foi comprado por um milhão de euros ao mesmo clube algarvio, que depois o readquiriu por apenas cem mil.
- Por coincidência ou talvez não, a última vez que o Portimonense venceu um jogo com o FCP foi há 38 anos, na época 1986/1987.
- Exemplo de outro negócio ruinoso: Mbemba foi comprado ao Newcastle por 4,5 milhões de euros acrescidos de 3 milhões (!) de despesas de representação. O jogador viria a sair de borla.
- 51 dos 55 negócios com jogadores neste período não tinham suporte em relatórios da prospecção do clube.
- 11,5 milhões de euros de pagamentos em excesso por comissões de transferências de jogadores.
- 50% das comissões foram circunscritas apenas a oito agentes e 35% somente a três intermediários (a Gestifute de Jorge Mendes, a PP Sports e N1 Carreiras Desportivas de Pedro Pinho e a Bertolucci Assessoria).
- Os administradores da SAD beneficiaram de 3,6 milhões de euros em despesas de representação entre 2014/15 e 2023/24 em clara colisão com o regulamento interno.
- 1,1 milhões de euros gastos no uso simultâneo de vários veículos com usufruto de familiares para fins estritamente privados.
- Inexistência de um valor máximo para despesas de combustível, estacionamento e portagens, «levando a um gasto descontrolado (255 mil euros)».
- 700 mil euros em refeições alegadamente profissionais sem justificação.
- 700 mil euros dispendidos em viagens privadas para destinos não relacionados com a actividade do clube.
- 70 mil euros gastos em jóias e relógios de luxo.
«Um bandido será sempre um bandido», afirmou em 2020 Frederico Varandas, cheio de razão. Como o tempo vem demonstrando de forma cada vez mais inequívoca.
O maior dos bandidos é aquele que não tem pejo em delapidar o próprio clube.