Faz hoje um ano
Foi um dia histórico para o Sporting. Por vários motivos. Pela mobilização, em número inédito, dos sportinguistas na salvação do clube contra os desmandos de um grotesco tiranete que ameaçava afundá-lo. Pela desassombrada afirmação da vontade dos sócios enfrentando uma pequena turba de cortesãos que tudo fez para silenciar a voz da vasta maioria. Pelo exemplo de civilidade de quase todos em absoluto contraste com o indecoroso comportamento da guarda pretoriana do carvalhismo já em decomposição.
Uma data que não será esquecida: 23 de Junho de 2018.
Nos parágrafos seguintes, lembrarei a sucessão de postais que por ordem cronológica foram sendo publicados, nesse longo dia, no És a Nossa Fé.
Escrevi eu:
«Dia S. De Sporting, sim.»
Escreveu o Pedro Azevedo:
«Votem em consciência, da forma que entenderem, mas tenham sempre presente que o Sporting não pode continuar adiado. Ganhe quem ganhar, domingo será outro dia e o Sporting precisará de todos nós, do nosso amor pelo clube, para começar a sua reconstrução.»
Escreveu o Ricardo Roque:
«Bruno de Carvalho não foi à Madeira na última jornada. Não foi à Academia às 16 horas daquela 3.ª feira de maio... Não foi à final da Taça de Portugal no Jamor. Não vai à assembleia geral... Precisamos dele para quê?»
Escreveu o JPT:
«Que nos lembremos deste "És a Nossa Fé", desta nossa "fé". Que nas diferentes opiniões e modos de paixão possamos estar congregados, com os desacordos, que os há e muitos, mas sem conflitos. E amanhã também.»
Escrevi eu:
«Hoje o que está em causa é a devolução aos sócios da decisão soberana de escolha dos novos titulares de todos os órgãos sociais do clube - Mesa da Assembleia Geral, Conselho Directivo e Conselho Fiscal e Disciplinar - ou de apenas dois destes órgãos, com exclusão do Conselho Directivo. Opção legítima, democrática e com base estatutária. Só depende de nós, sim.»
Escreveu o António de Almeida:
«O que tenho absoluta certeza é que na hipótese dos sócios cometerem harakiri e votarem pela permanência do déspota, de hoje em diante não mais cessará a prepotência, o autoritarismo no nosso clube.»
Escreveu o Luciano Amaral:
«O homem é insuportável e danoso. Mesmo com ele fora vai ser difícil. Mas com ele lá tornou-se impossível.»
Escrevi eu:
«Não é o momento de olhar para o lado, assobiar de mãos nos bolsos, compor um soneto ou parar no meio da ponte. Este é o momento de tomar partido. Pelo Sporting ou pelos sete coveiros do Sporting.»
Escreveu o Ricardo Roque:
«Nas cerca de duas horas que levei na fila até votar senti uma imensa tristeza pelo que via e ouvia. O resultado não vai sarar a divisão, mas o sectarismo que vivenciei fez-me questionar sobre a minha condição futura na nossa instituição. O mal feito vai levar tempo a ser erradicado.»
Escreveu o José Navarro de Andrade:
«Cheguei às duas da tarde e, ordeiramente, só consegui entrar às três. Mas não foi no Pavilhão Atlântico que entrei, antes numa twilight zone: tinha regressado às RGAs de 75. Os apoiantes do Bruno, por táctica, iam arengando ao microfone uns atrás de outros. Não sei como vai acabar o dia. Menos imagino qual será o resultado da votação. Temo, porém, o pior. De qualquer maneira o Sporting está uma Jugoslávia, com Milosevic e tudo. Nunca me senti tão infeliz neste meu clube.»
Escreveu o JPT:
«A polícia sai com os sacos com os votos na mão, dizem os jornalistas. Mas está por confirmar. Reforços policiais chegam, rumores de manifestações espontâneas, expectativas de jacqueries. Um descalabro numa associação, uma enorme tristeza. Mas, ao mesmo tempo... acabou o pesadelo. Quanto muito haverá insónias. Mas o pesadelo? Acabou. E hoje é o primeiro dia do resto...»
Escrevi eu:
«Dia D: destituído. Agora há que colar os cacos. Com urgência.»
Escreveu o António de Almeida:
«Bem pode agora [Bruno de Carvalho] procurar subterfúgios, usar de manobras dilatórias ou mesmo impugnação, que os sportinguistas e o país não tolerariam qualquer chapelada à soberana decisão dos sócios. Vamos a eleições.»