Faz hoje um ano
Finda a época, era também o momento de fazer um balanço do comportamento de alguns jornais especializados em futebol. Foi o que procurei fazer a 30 de Maio de 2013, analisando o tratamento editorial dispensado por dois destes periódicos ao Benfica: ambos trataram-no como o campeão que nunca chegou a ser nessa temporada 2012/13:
«Deitar foguetes antes da festa, no futebol como no jornalismo, costuma dar mau resultado. Quando isso sucede, acontecem capas como esta do Record de 30 de Abril: olhando para ela, exactamente um mês decorrido, soa a um daqueles desejos de menino em véspera de Natal que não chega a concretizar-se no momento em que se desembrulham as prendas. "É tão bom, não foi?", rematava uma velha anedota de caserna. Devidamente transposto para a actualidade desportiva e jornalística, o antigo dichote pode agora ler-se assim: esteve quase a ser tão bom, não foi?
E é que não foi mesmo.»
«Nada como ler o jornal A Bola para deparar com notícias destinadas a tranquilizar o povo benfiquista. Como esta sobre Jorge Jesus, por exemplo, na página 2 da edição de terça-feira: "Quatro títulos em quatro anos".
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Quatro títulos na atribulada era de Jesus?!
Intrigado, fui ler. A notícia começa em tom épico: "Melhor arranque era difícil." Pena, para os benfiquistas, estar totalmente desactualizada: esse brilhante "arranque" correspondia afinal ao campeonato 2009/10...
Sempre no mesmo tom, a prosa prossegue: "Jesus começou por empolgar com futebol de ataque, golos e muita emoção. Para aquecer os corações, foi ganhando uma Taça da Liga (a primeira de três conquistadas durante os quatro anos de mandato) e culminou em apoteose com a celebração da conquista do campeonato, em Maio, na praça Marquês de Pombal."
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Conclusão: os "quatro títulos" a que o jornal favorito do SLB fez referência eram afinal... só um. Os restantes três - a Taça Lucílio Baptista - nem meios títulos são. Dará para "aquecer os corações"? A Bola jura que sim. Mas temos que dar o devido desconto ao periódico mais encarnado do País. Por lá, basta surgir uma pomba a esvoaçar do outro lado da janela para haver logo quem imagine tratar-se de uma águia imperial.
Mania das grandezas. Depois ninguém se admira por darem à luz prosas como esta.»