Euforia?
Vivemos num país (dá algum trabalho consultar os números e eles não são tão importantes assim para o caso) onde provavelmente metade de nós somos contemporâneos da ditadura. Está na maior parte de nós ainda enraizado o estigma do país pobrezinho, onde era proibido sonhar e em que era avisado não extravasar os sentimentos. Sorumbáticos e ensinados a nunca ambicionar alto.
O que tem isto a ver com o Sporting? Nada! E tudo...
Bruno de Carvalho e os seus pares começaram um trabalho hercúleo, para os mais distraídos. Teve/tiveram a visão, melhor, a perspicácia de contratar um treinador com provas dadas e que sentia o clube como seu e da mesma forma que o presidente que o contratou. Leonardo Jardim é um marco também, na história recente do Sporting: fez um trabalho notável e devolveu ao Clube, a nós todos, o orgulho de sermos o que somos. Não se lhe podia exigir mais que o que conseguiu, foi brilhante o seu trabalho. Saiu com um título invejável, para ele e para o Clube: pela primeira vez o Sporting "vendeu" um treinador! Posso enganar-me nesta previsão, mas perdurará por muitos anos como exemplar único! Depois veio Marco Silva, uma meia-esperança, uma vez que já tinha demonstrado no Estoril que qualidade não lhe faltava. Apesar das vicissitudes, dos amuos, dos afrontamentos e do mau feitio revelados, os jogadores ofereceram-lhe uma Taça de Portugal, coisa que já não era conquistada há anos. O mérito, obviamente, também é dele e relembro a vitória no Dragão, contundente, obra da forma como armou a equipa. Foi embora, de forma que, para quem não conhece o processo, foi o mal menor, já que acabou por prevalecer o bom senso e se chegou a um acordo de rescisão.
E depois caiu uma bomba em Alvalade e no país desportivo e não só: O Sporting contratou só o melhor treinador português (se tout court ou a treinar em Portugal, decidam os leitores) e as expectativas ficaram lá muito por cima, como seria de esperar, pois o homem era um ídolo no Benfica, onde foi o treinador que mais títulos havia conquistado. Terminará agora a primeira volta e qualquer que seja o resultado do jogo de Domingo com o Braga, seguirá em primeiro lugar e com cada vez mais nota artística de alto gabarito, como foi o caso dos dois últimos jogos, em casa contra um rival directo, o Porto, e em Setúbal, contra uma das equipas que melhor futebol praticam, daquelas que não usam o autocarro em campo.
Falo por mim, estou eufórico!
A minha educação, vinda dos tempos que referi no início desta conversa, continua a dizer-me para me conter, que não deite foguetes antes da festa, que não conte com o ovo no cu da galinha, que as cadelas apressadas parem os filhos cegos e um ror de provérbios que até parece que foram inventados com esse propósito claro de nos tirar o prazer de sonhar.
Pois eu recuso-me a deixar de sentir esse prazer! Estou eufórico, sonho com um Sporting campeão e ninguém me roubará este gosto sublime de me ver à frente da concorrência com argumentos que sustentam este meu sonho: No jogo jogado, damos uma cabazada aos adversários.
Euforia? Claro! Eu quero lá saber de tristezas, que essas não pagam dívidas.
E candeia que vai à frente alumia duas vezes...
Já disse que estou eufórico?