Eu tenho um filho que é benfiquista
É verdade, já aqui o referi várias vezes.
Mas não foi sempre assim, ele começou por ser sportinguista. Trajava com a verde e branca. Acompanhava-me a Alvalade nos jogos com menos gente, por razões óbvias e também, pensava eu, para lhe exacerbar o fervor clubístico, uma vez que teoricamente seriam mais as vitórias e a alegria de as comemorar.
O meu filho tem hoje 33 anos, é o mais velho de dois, portanto estamos a falar de idas a Alvalade no tempo do jejum de dezoito anos. E se ele assistiu a resultados miseráveis...
Um dia, num Sporting-Marítimo em que, salvo erro, também levámos três, partiu-se-me o coração quando ele me disse com um ar de raiva "pai, já não quero ser mais do Sporting!" Teria cinco, seis anos, não faço já ideia.
Por circunstâncias da vida (e da morte), um ou dois anos depois, na deslocação a Tavira para o funeral de um familiar chegado, o miúdo ficou em Tomar com familiares (porque era Natal e tínhamos ido passar o Natal com os pais). Benfiquistas, de quem eu gosto muito. Bastou um fim de semana! E convenceram-no com o quê? "O Benfica ganha sempre, não sejas do Sporting que não ganha nada"...
E ontem dei por mim a pensar no meu filho mais velho, quando olhei ao redor e vi as carinhas de muitos miúdos e miúdas, tristes, por verem que o Sporting não ganhou. A maioria deles não faz ideia porquê, não entendem ainda o jogo, mas os culpados por aquelas carinhas tristes sabem e é obrigação deles tudo darem para inverter o processo. É verdade que ser dum clube que ganha pouco (hoje apetece-me ser simpático) não se explica, mas hoje a pressão desde tenra idade também é diferente e os miúdos sofrem na pele, nos infantários, nas escolas depois, pelo facto de serem "verdes". Àqueles que podem viver sportinguismo diariamente, nas escolinhas de futebol, na natação, nos mais variados desportos que lhes proporciona o clube, é mais difícil quebrar. Aos restantes, porque é difícil uma criança entender o que é ser levado ao colo para além do acto propriamente dito, é mais fácil ir na onda de quem vence.
Este é um assunto que parecendo ser de importância quase nula, é talvez o maior desafio que tem hoje pela frente a direcção do Sporting. E a forma mais fácil de trazer novos adeptos e sócios, é ganhando. Não a qualquer custo mas com os nossos valores, onde a luta, a entrega total, o empenho, a resiliência têm que estar sempre presentes no espírito de quem nos representa. A quem não demonstrar este espírito, do presidente ao motorista do autocarro, a porta da rua é a serventia da casa. Convenço-me que o Sporting nunca acabará, mas se não forem tomadas medidas irá definhando aos poucos. Esta injecção de sportinguismo dos últimos anos, podem crer, tem prazo de validade!
Sabem uma coisa, o meu outro filho, o mais novo que tem 28 anos, é Sportinguista.
E sabem porque continua a ser Sportinguista? Porque detesta futebol. E porque convive muito mal com vigarices.