Ética - Voando sobre um ninho de cucos
Os Cucos são espécies parasitas que depositam os seus ovos nos ninhos de outras aves. A estas dá-se o nome de hospedeiros, na medida em que são elas que cuidam dos jovens cucos.
Dadas estas características, existe, em português corrente, a expressão "armar (-se) aos cucos", ou seja, armar-se em esperto e portar-se como se fosse superior, quando não se é.
O futebol português, dando como bom aquilo que a imprensa tem vindo a noticiar relativamente ao que se pode designar como Caso dos Emails, parece conter um conjunto de cucos, uma forma estranha de agentes, directa ou indirectamente ligados ao desporto-rei, com muita vontade de agradar ao seu hospedeiro e de se constituirem como "meninos bonitos" aos seus olhos.
Não me cabe a mim definir se tal é legal ou ilegal, mas certamente não será um comportamento ético muito aceitável aquilo que vem, alegadamente, descrito nos emails, surpreendendo o à-vontade com que estes parasitas circulam nos corredores do poder.
Caberia às autoridades reguladoras do sistema - FPF e Liga - explicar a todos nós como foi/é (?) possível que estes xicos-espertos tenham, alegadamente, enviado a um clube classificações de árbitros da Segunda Categoria que iriam para estágio para eventualmente passarem à Primeira Categoria, pedidos de melhoramento da nota do árbitro Manuel Mota ou cunhas para realização de jogos enquanto delegado da Liga, entre outras situações. Também está por explicar como os mesmos cucos fizeram, alegadamente, chegar a Pedro Guerra, correio electrónico contendo sms privados trocados pelo antigo presidente da Liga, Dr Fernando Gomes, ou aspectos da vida íntima dos árbitros de futebol.
Esperar-se-ia uma reacção dos reguladores. É certo que Fernando Gomes encaminhou sempre as suspeitas de irregularidades ou de crimes para as autoridades competentes (PGR). Assim foi no caso dos vouchers ou dos sms, assim terá sido também com os emails. Mas, até por isso causou estranheza a sua intervenção pública em que denunciou o clima de ódio no futebol português e as ameaças sobre os árbitros, o que pareceu a muitos observadores, um ataque aos que protestam a jusante contra o "status-quo", em detrimento da censura a quem terá estado na origem e dado azo ao coro de protestos a que se vem assistindo por parte de Porto e Sporting. Da Liga, ficámos agora a saber de umas alegadas mensagens - de conforto (?), de solidariedade (?) - enviadas por Pedro Proença a Pedro Guerra e Luis Filipe Vieira - que, no entretanto, questiona porque Manuel Mota (!!!), mas também Fábio Veríssimo e João Pinheiro não apitam o Benfica -, mas sobre o papel dos cucos, nada.
Quanto aos árbitros, também não houve uma tomada de posição firme sobre a alegada exposição da sua vida privada ou sobre um alegado pedido de melhoramento de nota a um dos seus colegas (que na prática poderia ter tido implicações na classificação de cada um deles), apenas uma ameaça de não disponibilidade para serem convocados para uns jogos da Taça da Liga, supostamente devido às ameaças que têm sentido, embora uma boa parte da imprensa tenha sugerido que estaria mais relacionada com exigências salariais.
No meio disto tudo, embora continue em desacordo quanto à forma como são transmitidos, como não entender os protestos por parte do presidente do Sporting, Dr Bruno de Carvalho? Mesmo ultrapassando limites e quase passando por louco, condena-se, qual Jack Nicholson no imortal filme de Milos Forman homónimo do título deste "post", a não conseguir alterar o modus-operandi do hospício onde reside o actual futebol português. É que sobre os ninhos de cucos nada lhe dizem e o leão, apesar de combativo e fogoso, não tem asas.