Ética - a morosidade da (in)justiça desportiva
Num país onde, infelizmente, o dinheiro é praticamente a única fonte de reconhecimento, os valores estão em profunda crise e a educação, sentido de cidadania e boa formação humana já há muito foram mandadas às malvas e passaram para segundo plano, o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (a)parece muito preocupado com a "lesão de honra e de reputação".
Entretanto, sobre o famigerado caso dos emails (e dos sms) continuamos a não saber nada, como se a demora, essa sim, não ferisse, aos olhos dos adeptos (no final do dia, o consumidor do "produto"), a reputação das competições profissionais e dos alegadamente envolvidos (que também têm o direito a um esclarecimento cabal dos factos). Observo que, enquanto no caso do túnel foram sendo produzidas diversas fugas (de onde, não sei) que permitiram à Comunicação Social ir acompanhando os seus desenvolvimentos, informando o público, alvitrando cenários penais, sempre pondo a espada sobre o Dâmocles do costume (o qual, durante esse tempo, também deveria ter tido o seu direito a "honra e reputação"), sujeito ao anátema da "cuspidela", estranhamente sobre o caso dos emails ainda não surgiu qualquer "noticia".
Em que mundo vive este CD? Um mundo onde Bruno de Carvalho viveu nove meses "lesionado" na sua honra e reputação, acusado na opinião pública de ter praticado um acto infame.
Pouco interessa que o (outro) presumível lesado na sua honra e re-pu-ta-ção tenha sido apanhado pelas câmaras do estádio gesticulando abundantemente e apontando o dedo ao opositor, atitudes tipicamente marialvas de um lutador durante as pesagens, que posteriormente, durante o "combate", tenha mostrado uma perícia de "boxeur", perante dois stewards de serviço, de fazer corar um Mike Tyson, tudo isto em simultâneo com uma atitude desafiante que expôs à saciedade o seu talento enquanto sentinela de porta-de-armas, arregimentando ao grito todo o balneário arouquense, e, ainda (uff,uff), a sua codícia no lançamento do martelo, perdão, da garrafa de água, muito embora o seu ensaio tenha sido invalidado pelos jogadores da sua equipa.
O resultado final disto tudo foi esta semana apresentado: uma suspensão de vinte meses para o senhor e de seis meses para o presidente leonino. Bem feito, Bruno, quem o mandou "atentar" contra o acima descrito? Claro que Bruno não joga, nem no campo, nem fora dele, presumo, pelo que os efeitos da referida suspensão são quase nulos. Já irreparáveis foram as perdas e danos para a imagem do presidente e do próprio clube, expostos ao "anátema da cuspidela" devido à falta de uma decisão célere da justiça desportiva, tudo isto para no fim se provar que estava inocente desse acto.
Vá lá que Bruno de Carvalho ainda é um rapaz jovem e goza de boa saúde porque, se já tivesse uma provecta idade, dado os factos reportarem a 6 de Novembro do ano transacto, muito provavelmente já teria falecido e a sua familia, em vez de um cartão de condolências, estaria agora a receber uma carta informando a sua suspensão, dir-se-ia, eterna ou etérea.