Ética - A educação e o desporto
Este postal ocorreu-me após um confesso adepto de um clube rival ter afirmado numa nossa caixa de comentários que as suas visitas a este blogue não eram de cortesia, significando isso que os seus comentários não seriam delicados, amáveis, educados ou civilizados, como se não fosse dever de uma pessoa que visita a casa de alguém portar-se de forma cortês, com elegância.
De facto, o desporto hoje está à mercê de um conjunto de energúmenos que confundem o que deveria ser a sã rivalidade entre 2 grandes emblemas com a guerra, a picardia com a bravata, o humor com o ódio, a troca de ideias com a violência verbal e física, a liberdade de pensamento com o totalitarismo de cartilhas.
Mais do que um problema do desporto, este é um drama das sociedades modernas. O desporto acaba por sublimar a falta de educação, de urbanidade, de boa formação humana, de valores, por ser uma válvula de escape, o circo romano dos nossos dias.
A ajudar a festa, a política de comunicação dos clubes agudiza o problema. Em vez de realçar os méritos do que faz e como faz, a comunicação incide sobre o adversário, dir-se-ia (erradamente) inimigo, deitando continuadamente lama para a ventoinha, sem qualquer eficácia e ao arrepio do mais elementar bom-senso, descurando o efeito das suas palavras nos adeptos.
Uma comunicação eficaz deve basear-se essencialmente no "porquê" das coisas. A bandeira da verdade desportiva, por exemplo, é meritória, na medida em que antagoniza na cabeça dos adeptos com o ganhar a qualquer preço. As pessoas entendem porque é que se persegue esse caminho, compreendem o valor da ética e do "fair-play" e está a ser dado um bom exemplo para a sociedade.
Nem tudo o que é legal, é ético. Mas, necessáriamente, o que é ético tem de ser legal. A verdade desportiva tem de ser acompanhada por um conjunto de regras definidas pelos supervisores desportivos - impõe-se um Código de Ética do agente desportivo - e pela actuação das autoridades, na certeza de que o desporto e, em concreto, o futebol, não pode ser visto pelos seus cidadãos como um fenómeno à parte da sociedade.
Neste marasmo, cumpre-me registar o exemplo de comportamento civilizacional dado por Miguel Maia e pelo médico do Sporting - Dr Miguel Costa - no último Domingo, por ocasião do derby que marcou o regresso (vitorioso) do nosso clube ao voleibol, que prontamente auxiliaram e prestaram assistência ao atleta benfiquista Ary Neto, lesionado com gravidade, enquanto o público, esmagadoramente afecto ao Sporting, com "fair-play", aplaudia o voleibolista encarnado. O Benfica, no Twitter, agradeceu o apoio prestado pelo médico leonino, um gesto igualmente de salientar. Bons exemplos!