Estatutos, eleições e legitimidade...
Como democrata acredito que todos os cidadãos devem votar, que a cada votante deve corresponder um voto. Em eleições nacionais não é possível que um país seja infiltrado por votos de países terceiros, mesmo que alguns naturalizados tenham adquirido a nacionalidade por razões diversas, nunca serão em número suficiente para manipular uma eleição. A coisa pode ser ligeiramente diferente em eleições regionais, alguns caciques podem ser tentados, mas ainda assim não é fácil.
Quando falamos de associações, o cenário é bem diferente. Ninguém é obrigado a filiar-se num partido ou clube. Obviamente cada associação possui legitimidade para se organizar e precaver eventuais infiltrações. É por essa razão que na esmagadora maioria dos clubes, a um sócio não corresponde um voto. A questão colocou-se no Sporting em 2011 e voltou à baila ontem, porque João Benedito teve mais votantes, mas Frederico Varandas acabou eleito com mais votos.
Em primeiro lugar as regras eram conhecidas por todos à partida, pelo que não podem sofrer qualquer contestação quanto à sua legitimidade. Eu também gostaria que houvesse lugar a segunda volta caso ninguém atingisse a maioria absoluta dos votos e que o Conselho Fiscal fosse eleito pelo método de Hondt. Há espaço e tempo, para que seja feita uma reflexão sobre os estatutos e propostas alterações à decisão dos sócios, com ponderação e sem chantagem de aprovação sob ameaça de demissão.
Em tempos, Jorge Gonçalves submeteu a proposta de 1 sócio, 1 voto, durante o seu consulado de má memória. O resultado foi uma AG que acabou mal. À época eu era um jovem com apenas 4 votos, mas estava contra. O rosto opositor da proposta foi o saudoso presidente João Rocha, que subiu à tribuna, com a sua paixão pelo clube exaltou os ânimos e discursou alertando para o perigo iminente de cairmos no populismo. Começou ali o fim da presidência, Jorge Gonçalves convocou eleições antecipadas para clarificar posições, acabou perdendo as mesmas para Sousa Cintra.
Poderemos discutir o assunto, até diminuir alguma diferença entre sócios antigos e recentes, a idade aqui pode ter alguma influência, mas alerto que existem associados com 50 anos de idade mas pouca antiguidade, ao passo que outros há com 30 anos de idade e igual tempo de sócio. Existem sócios tipo A e tipo B. Actualmente qualquer sócio com 1 ano de inscrição pode votar. Seria relativamente fácil infiltrar o clube, se ficássemos desprotegidos destes mecanismos de defesa. Quando votei a primeira vez, tinha apenas 1 voto, desde então os estatutos sofreram alterações, hoje teria 13 votos, mas tenho 10. O que significa que houve alguma diminuição no peso dos votos entre sócios. Mesmo que ainda exista espaço para diminuir alguma dessa diferença, não faz sentido a meu ver que algum dia seja 1 sócio, 1 voto. Mas é apenas a minha opinião, tão legítima quanto a de qualquer outro sócio.