Estado de emergência e treino - incompatível ou não?
Vivemos tempos difíceis e o estado de emergência exige limitações de circulação e de contacto.
Além disso, a alteração das nossas rotinas diárias no trabalho e nas relações familiares/sociais implica graves mudanças.
Os atletas profissionais devem estar preocupados com a sua condição física e psíquica à data mas também com os efeitos que esta pausa pode acarretar no seu futuro.
Manter uma alimentação saudável e respeitar períodos de descanso são regras de ouro mas num caso destes a rotina de treino e de competição são condições essenciais. Neste nível, treinar em casa não é solução.
Já compreendemos que não é possível manter a rotina de competição, mas será impossível afastar a rotina de treino?
Durante anos, assistimos às pausas das Ligas durante o mesmo período, quando os jogadores aproveitavam para gozar as suas merecidas férias. Por acaso alguém acha possível que este ano os jogadores não gozem um período de férias no Verão? Até poderá ser mais curto do que é habitual mas vão gozar.
Este ano a realidade é diferente e como tal, também devíamos equacionar o que podemos fazer diferente. Não sabemos qual o modelo adoptado para a conclusão da Liga ou para o apuramento de competições internacionais mas devíamos estar a preparar o futuro.
Durante anos, após as férias, a regra era os jogadores saírem de Portugal em estágio com os seus colegas, no intuito de treinarem e ganharem rotinas de equipa.
Por vezes, e quando existiam fracos recursos económicos, as equipas chegavam a realizar pré-temporadas nas Academias. Até tivemos um clube em Portugal que pretendeu utilizar a Academia de Alcochete na sua pré-época.
Alias, os treinadores são unânimes quando referem que a pré-temporada é um dos momentos mais importantes da época e que uma equipa sem pré-temporada não é equipa.
Assim, indo diretamente ao que interessa, qual a razão de o período de quarentena não ter sido passado em Alcochete, a treinar e trabalhar com os atletas?
Podiam ter ficado todos em Alcochete a dormir, comer, trabalhar e descansar. Seria injusto para os profissionais? Compreendo o sacrifício de estarem fechados no local de trabalho, sem acesso à sua família. Mas já não fazem tudo isso quando vão para as pré-temporadas?
Seria uma exceção à regra num período em que todos fazemos sacrifícios.
Se não queriam ficar todos em Alcochete, podiam ter optado por uma solução alternativa. O futebol americano treina os sectores (defensivo e ofensivo) em separado.
Por exemplo, durante os primeiros quinze dias de quarentena, permanecia em Alcochete a equipa técnica com os jogadores do sector defensivo e os restantes ficariam em casa. Volvido esse período, o sector atacante permanecia em Alcochete na companhia da equipa técnica e o sector defensivo ficava em casa durante o período de quarentena.
Será esta ideia tão descabida, nomeadamente num clube onde a equipa técnica é recente e necessita tempo para conhecer o plantel e treinar com os jogadores?
Para mim não é.