Esta nossa equipa merece ser bicampeã
Estoril, 0 - Sporting, 3
Uma das imagens da partida: Geny celebra à Bruno Fernandes após derrubar muralha estorilista
Foto: José Sena Goulão / Lusa
Parecem estar já muito longe os tempos em que íamos à Amoreira e vínhamos de lá derrotados por 0-2, ouvindo depois o treinador queixar-se de que a culpa tinha sido «do vento».
Mas foi há menos de sete anos: aconteceu na época 2017/2018, de péssima memória para todos nós.
Vivemos dias diferentes desses. Muito melhores, felizmente. Voltámos anteontem ao estádio do Estoril e trouxemos de lá uma vitória ampla, por 3-0. Alguns chamar-lhe-ão até goleada. Melhor até do que na época passada, em que nos sagrámos campeões: então o triunfo foi escasso, apenas por 1-0, mas é verdade que nessa altura já tínhamos o campeonato ganho.
A superioridade leonina voltou a ser evidente. A primeira parte proporcionou aos adeptos do Leão, em evidente maioria nas bancadas, momentos de puro espectáculo futebolístico. Um luxo. Com alguns jogadores a brilharem: Trincão, Morita, um surpreendente Matheus Reis, o cada vez mais consistente Debast, um Diomande já tornado digno sucessor de Coates.
O melhor foi o ala direito que joga de pé canhoto, craque da selecção de Moçambique: Geny. Simplesmente Geny, um singelo nome de quatro letras. Nome de campeão.
Foi ele a desblqouear um encontro que começou por parecer difícil pelo motivo do costume: o Estoril, agora treinado por um escocês, estacionou o autocarro, o que nos forçou a ensaiar o habitual carrossel para penetrar aquela compacta linha defensiva.
Felizmente eles cederam-nos espaço nas alas, que dominámos por completo.
À esquerda, Nuno Santos fez o que quis, articulando atrás com Matheus, muito subido, e no interior com Maxi Araújo, em estreia como titular e cheio de vontade de mostrar serviço.
À direita, cpm Geny na ala e Trincão no espaço interior. Ambos puseram a cabeça em água à turma estorilista. Com Debast a distinguir-se, largos metros atrás, com a precisão dos seus passes desenhados em linha recta.
Enquanto Nuno não descola da linha, o moçambicano ensaia contínuos movimentos interiores. Num deles, em que quase parecia avançado-centro, foi servido de modo magistral por Matheus e mandou-a sem contemplações para o fundo das redes.
Aconteceu ao minuto 25': naquele instante tivemos a certeza de que a vitória já não nos fugia,
A confirmação, até para os mais renitentes, surgiu seis minutos depois, premiando a abnegação de Morita, também muito adiantado: o internacional nipónico deu a melhor sequência ao trabalho artístico de Trincão na meia-direita que trazia selo de golo.
Assim fomos para o intervalo.
A história da segunda parte foi diferente. Com a equipa a gerir esforço, com bola ou sem ela, já a pensar no embate de terça-feira, na Holanda, com o PSV para a Liga dos Campeões.
Nessa fase o Estoril cresceu, avançando enfim no terreno, embora sem nunca criar situações de verdadeiro perigo junto da nossa baliza. Houve cerca de 20 minutos de equilíbrio, mas as redes à guarda de Israel mantiveram-se intocáveis.
Há seis jogos que não sofremos golos.
A bola ainda chegaria ao fundo da baliza, sim, mas do lado oposto. Daniel Bragança, naquela que estará a ser a melhor época da sua carreira, rematou com força, a partir da esquerda, e viu o esforço coroado de êxito. Assim chegámos ao desfecho, já aos 90'+1, novamente com assistência de Trincão.
Esta equipa sonha ser bicampeã. E merece chegar lá. Quase todos nós, adeptos, merecemos também. Para quebrar um jejum que dura há sete décadas. Vai ser desta, acreditamos nisso.
Breve análise dos jogadores:
Israel - Pouco trabalho, bem auxiliado por toda a defesa. Quarto jogo consecutivo sem sofrer golos.
Debast - Distingue-se na qualidade do passe longo, rasteiro e geométrico.
Diomande - Comanda a defesa, sem discussão. E continua a tentar o golo de cabeça, lá na frente.
Matheus Reis - Monumental nota artística na assistência para o primeiro golo. Ousado nas incursões.
Geny - Homem do jogo. Marcou o primeiro, aos 25', e inicia o segundo com lançamento lateral.
Morten - Mais contido, foi competente na vigilância do nosso meio-campo defensivo.
Morita - Pareceu estar em todo o lado. Estava no sítio certo, aos 31', quando marcou o segundo. Para ele, o primeiro nesta época.
Nuno Santos - Dominou corredor esquerdo, em constante vaivém junto à linha. Articulou bem com Maxi.
Trincão - É um dos "violinos" deste Sporting. Exibição coroada com duas assistências para golo - o segundo e o terceiro.
Maxi Araújo - Estreia a titular, ocupando a posição do lesionado Pedro Gonçalves. Bons apontamentos.
Gyökeres - A notícia foi não ter marcado neste jogo. Pela primeira vez na Liga 2024/2025. Mas trabalhou bem para a equipa, lá na frente.
Daniel Bragança - Entrou aos 58', rendendo Morten. Foi com braçadeira de capitão que marcou o terceiro, aos 90'+1.
Gonçalo Inácio - Saltou do banco aos 58', substituindo Matheus. Veio de lesão, está ainda preso de movimentos. Precisa de recuperar ritmo.
Harder - Substituiu Maxi Araújo aos 58'. Tentou o golo num cabeceamento aos 80': andou lá perto.
Quenda - Entrou aos 75', com a saída de Gyökeres. Actuou como ala direito, enquanto Geny transitava para a esquerda. Não sobressaiu.
Eduardo Quaresma - Também vindo de lesão, substituiu Debast aos 83'. Grande recuperação aos 86'.