Erros elementares de comunicação
Bruno de Carvalho não resiste ao Facebook.
Voltou a ceder ao impulso do teclado, repetindo erros anteriores. Com mensagens encriptadas, sem destinatário preciso, e em que o essencial fica de lado. E o essencial é a necessidade urgente de robustecer a equipa de futebol, contribuir para a coesão do grupo de trabalho e evitar a dispersão de energias anímicas com temas secundários e alvos menores.
Na primeira mensagem, publicada na véspera do Borussia-Sporting, o presidente alude à suposta campanha eleitoral para a eleição de Março - na qual, convém sublinhar, ainda não deixou claro se tenciona apresentar-se como candidato. É um assunto irrelevante no contexto actual. Ainda por cima o presidente aborda-o de forma incompreensível, esgrimindo contra moinhos de vento, lançando acusações a pessoas cujo nome omite. Esquece que a clareza é uma das virtudes fundamentais da comunicação.
Mensagem errada no momento errado, pois.
Na segunda, divulgada ontem, voltam as alegações imprecisas, regressa o mesmo tom de desafio a pessoas nunca nomeadas, a mesma escolha de um tema que só contribui para envolver o Sporting em questões menores quando a esmagadora maioria dos adeptos aguarda palavras de confiança e estabilidade.
É certo que Bruno de Carvalho tem motivos para se sentir magoado com a devassa à sua vida privada ocorrida nos últimos dias. Mas uma coisa é o protesto veemente e o apelo que ninguém pode negar-lhe à necessária protecção do seu reduto familiar. Outra é confundir, no mesmo texto, a sua vida privada com ocorrências públicas relacionadas com o Sporting.
Aludir em termos ambíguos a uma hipotética violação do dever de confidencialidade que terá originado uma fuga de informação há semanas ou meses equivale a transmitir de novo a ideia de instabilidade em Alvalade. Quando aquilo que devia ser a preocupação máxima do presidente era precisamente o inverso: tranquilidade e coesão na frente interna.
Repito o que já escrevi aqui diversas vezes: em comunicação é fundamental a escolha do tema, da ocasião e do modo de fazer passar a mensagem.
Bruno de Carvalho, que já teve pelo menos quatro equipas de comunicação desde que iniciou funções como presidente do Sporting, imagina-se um virtuoso na matéria. Mas não é. Se o fosse, só recorreria ao Facebook em momentos cirúrgicos para transmitir mensagens concisas e compreensíveis. E jamais elegendo figuras menores como supostos destinatários das suas entrelinhas. Eu, por exemplo, posso fazê-lo na minha vulgar condição de internauta. Mas o presidente não deve agir assim.
Recusando dar ouvidos a especialistas, Bruno de Carvalho perde o foco, confunde o essencial com o acessório, baixa a fasquia. Leio os seus dois mais recentes textos feicebuquianos e fico com a sensação ainda mais nítida de que poderiam ter sido escritos por alguém de olhos vendados num quarto escuro.