Entrar o ano da pior maneira: assim não dá
Marítimo, 1 - Sporting, 0
Sporting tropeça no "caldeirão" dos Barreiros: tudo se torna cada vez mais difícil
Foto: Homem de Gouveia / Lusa
Tinha tudo para dar certo. Mas deu errado. Desde o primeiro minuto neste embate com o Marítimo, anteontem, no Funchal. A equipa da casa, que ocupa o penúltimo lugar do campeonato e só tinha registado uma vitória (fora) até esta 15.ª ronda da Liga, encostou o Sporting às cordas, impossibilitou-nos de sair com a bola controlada, condicionou a táctica de Rúben Amorim e derrotou-nos com um golo de penálti - castigando falta infantil, totalmente escusada, de Mateus Fernandes.
Entrámos assim da pior maneira em 2023. Perdendo (0-1) contra uma equipa que ainda não tinha vencido no seu estádio, jogando a meio-gás, sem vitalidade nem ânimo. Como se receássemos progredir na tabela classificativa após termos visto o Benfica perder com o Braga (na jornada anterior) e o FC Porto empatar frente ao Casa Pia (nesta ronda).
Está visto que não temos equipa para situações de pressão alta. Parece que estes jogadores comandados por Rúben Amorim se dão melhor quando andam quase a meio da tabela, sem o stress dos lugares de topo. Algo incompatível com o lema fundador do clube - ser «tão grande como os maiores da Europa». Algo inconcebível para um emblema que tem como senha estas quatro palavras de ordem: «Esforço, dedicação, devoção e glória».
O esforço andou ausente do relvado funchalense. A dedicação foi mínima, a devoção foi residual, a glória foi nula.
Quinta derrota em 15 jornadas - perdemos uma em cada três. Temos agora o Benfica 12 pontos à nossa frente. o Braga seis pontos acima de nós, o FCP com mais cinco. E atenção ao Casa Pia, que continua a morder-nos os calcanhares: está apenas com menos um.
Rúben Amorim parece ter abdicado daquela ideia do «jogo a jogo», que tão bom resultado teve há dois anos, quando vencemos o campeonato. Desta vez abdicou totalmente ou parcialmente de três titulares, já a pensar no desafio seguinte, contra o Benfica. Pedro Gonçalves fez-se "amarelar" na jornada anterior para limpar os cartões nesta, Nuno Santos só saltou do banco de suplentes aos 57' e Coates saiu aos 75' - estes dois também estão à queima.
A verdade é que o Sporting, para não tropeçar na Luz, naufragou nos Barreiros. Péssima opção do treinador.
Morita, que chegou do Catar lesionado e ainda não recuperou, é outro titular indisponível. St. Juste, um dos "reforços" mais dispendiosos de sempre, até hoje só cumpriu um jogo inteiro: desta vez actuou só nos 20 minutos finais. O argentino Talongo, médio defensivo recém-chegado, assistiu à partida do banco de suplentes sem calçar.
A inédita dupla Ugarte-Mateus Fernandes foi impotente para travar o ímpeto ofensivo do Marítimo - com novo treinador, novo guarda-redes e um novo ala esquerdo (o brasileiro Leo Pereira) que promete brilhar na Liga portuguesa. A célebre "saída em construção" do Sporting começa a ser neutralizada por qualquer equipa adversária que saiba estudar a lição: voltou a acontecer. Sem plano B, enquanto o Rúben Amorim assistia, com aparente resignação, ao péssimo desempenho dos seus jogadores.
Nos minutos finais, o desespero do costume: todos à frente, a ver se pingava uma bola perdida que pudesse entrar. Até Adán lá foi. Quando o mais experiente nestas situações, Coates, já não estava em campo. E víamos mais três jogadores amarelados por protestos: Porro, Matheus Reis e Esgaio (este, caso insólito, no banco de suplentes).
É verdade que o árbitro Helder Malheiro fez vista grossa a um penálti sobre Porro, ao minuto 50. Mas a derrota do Sporting frente ao antepenúltimo não se explica por isto. O problema é muito mais profundo e parece ser bastante mais grave.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Passou parte do tempo a jogar com os pés, tentando aliviar a bola da nossa área. Sofreu o golo solitário da marca dos 11 metros: continua sem conseguir defender penáltis.
Gonçalo Inácio - O mais seguro e tranquilo dos nossos jogadores, com cortes providenciais, compensando falhas dos companheiros. Competente nos passes longos, desaproveitados.
Coates - Transmite segurança: não foi por ele que a equipa claudicou. Quando poderia ser mais útil, impondo a sua estatura na busca de um golo de bola parada, já tinha saído.
Matheus Reis - O mais audaz dos nossos centrais, mas também o mais intranquilo. Alterna momentos de bom futebol com lapsos de desconcentração difíceis de entender.
Porro - Veloz, combativo, fez um centro primoroso aos 17', afastando a pressão adversária com um centro milimétrico para Paulinho marcar. Foi sempre um dos mais inconformados.
Ugarte - Regressou após castigo. Competente como médio defensivo, fracassou na parceria com Mateus Fernandes: faltou-lhe Morita para fazer a diferença. Continua infeliz no remate.
Mateus Fernandes - Estreou-se como titular na Liga. Tentou mostrar serviço, sem conseguir. Falhou passes, intercepções, ligação com o ataque. Fatal, o penálti que cometeu aos 53'.
Arthur - Substituiu Nuno Santos, poupado a pensar no clássico do próximo domingo. Tão discreto como ineficaz. Foi anulado como ala esquerdo. Saiu aos 57': o lugar é de Nuno.
Edwards - Recebeu um amarelo muito cedo, logo aos 11. Parece tê-lo afectado. Foi-se retraindo, sem fazer a habitual diferença, até se tornar inoperante e ser substituído.
Trincão - Uma das suas piores exibições pelo Sporting. Nada lhe saiu com precisão. Também não fez grande esforço nesse sentido. Ou passava mal ou recebia mal a bola.
Paulinho - Teve uma oportunidade (17'), travada por grande defesa do guarda-redes Carné. Depois revelou fragilidades no posicionamento, desaproveitando o pouco que lhe surgiu.
Nuno Santos - Só aos 57' Amorim se convenceu que era mesmo preciso colocá-lo em jogo. Ele correspondeu, aguerrido como sempre. Mas sozinho não conseguiu fazer a diferença.
Rochinha - Rendeu Mateus Fernandes aos 65'. Frágil nos confrontos individuais, movimentou-se muito mas foi quase sempre inofensivo. Falta-lhe envergadura física.
St. Juste - Após longa ausência, provocada pela quarta lesão desde que chegou, substituiu Coates (75'). Actuou mais à frente, quando o Marítimo já não saía do seu reduto. Em vão.
Jovane - Substituiu Edwards (75'). Displicente, desconcentrado, parece apostado em não vingar no Sporting. Marcou um canto de modo caricato, atirando a bola para fora.