Empresários e comissões
Um destes dias, em conversa com alguém que passou brevemente pela presidência dum clube de Lisboa há uns bons anos, ele dizia que uma vez pegou no telefone para falar com um jogador que até conhecia, para o convidar a vir para o clube, ele sim senhor que sim a tudo, até que no dia seguinte recebeu uma chamada do empresário a dizer que podia esquecer o jogador e qualquer um representado por ele. E aconteceu assim mesmo. Se calhar por isso mesmo não durou lá muito.
Recordo-me também duma conversa telefónica mesmo ao meu lado enquanto esperava pela abertura de portas do estádio do Bonfim no tempo de Keizer, do empresário ou de alguém ligado a ele, do Matheus Pereira, num frenesim para falar com Hugo Viana sobre o regresso imediato do jogador do empréstimo mal sucedido da Alemanha, coisa que acabou por não se concretizar.
Quer se concorde ou não com a situação, ou que se tente impor regras, no futebol profissional de hoje os jogadores funcionam como pequenas (?) empresas onde o CEO é o empresário. Claro que o dono da empresa (o jogador) pode mudar de empresário, mas o que não pode é pensar que pode fazer o que quer e o que lhe apetece. E assim, um clube sabe que ao lado dum seu jogador está sempre o seu empresário. O que me faz lembrar um tinto da minha terra...
Quando se analisam as boas ou má compras e vendas do Sporting nos últimos tempos, não se pode simplesmente dizer que o Sporting não devia ter vendido A ou B pelos valores que conseguiu sem perceber a dinâmica da relação com jogador e empresário.
Para um empresário é insustentável ter um jogador com potencial como Matheus Pereira, Domingos Duarte ou tantos outros, a saltar de empréstimo em empréstimo sem perspectivas de chegar a titular do seu clube e depois até dar o salto para a alta roda, e vai tentar forçar a saída de todas as formas para um clube que o recompense a ele e ao jogador. O Sporting tem de entender isto: ou os convence que é para apostar a sério ou tem mesmo que vender. Se não o fizer corre o risco de o ver sair a custo zero para a concorrência, como aconteceu com Carrillo.
Agora está a acontecer algo semelhante com Gonzalo Plata e Rafael Camacho, dois extremos talentosos com dificuldades em imporem-se no esquema sem extremos de Amorim, e com os dois pontas de lança emprestados, Pedro Marques e Pedro Mendes. Ou o Sporting cria as condições para que os jogadores evoluam na equipa principal, e Amorim já veio dizer que está disposto a isso no caso de Plata, ou vai ter mesmo que vender.
Falar de empresários é falar de comissões. E como hoje nada se faz sem eles, há comissões nas compras, nas vendas, nos primeiros contratos, nas renovações, cada caso é um caso, não existem regras definidas.
O esforço que o Sporting está a fazer na fidelização dos jovens e dos mais importantes do plantel obviamente tem custos de intermediação, aos quais acrescem as compras e as colocações de quem se pretende colocar.
Com tudo isso é bom saber algumas coisas:
1. Que a fase dos "negócios" de corda ao pescoço decorrentes do assalto a Alcochete está ultrapassada, e é coisa para não mais repetir, apenas para responsabilizar quem lá foi assaltar e quem criou as condições para o assalto.
2. Que não estão a acontecer compras "esquisitas" de "iniciativa presidencial", tipo Spalvis e Castaignos, nem autocarros de "promessas" para a equipa B, tipo Sackos, Dramés e Gazelas, mesmo nas piores compras se pode entender a racionalidade das mesmas.
3. Que segundo a FPF (https://maisfutebol.iol.pt/servicos-de-intermediacao/fc-porto/negocios-sad-do-benfica-continua-a-ser-a-que-mais-paga-em-comissoes) o Sporting é o clube que dos 4 maiores portugueses menos pagou em comissões nos últimos tempos:
1. Benfica : 20,3 M€
2. Porto: 15,4 M€
3. Braga: 9,9 M€
4. Sporting: 8.5 M€
Longe vão os tempos em que o ex-presidente na sequência do caso Adrien mandava os jogadores defenderem os seus interesses, porque ele estava lá para defender os interesses do Sporting. Claro que depois alguns fizeram... isso mesmo, e quem se lixou foi... ele mesmo. E também o Sporting.
Agora o que se vê é um Sporting próximo dos jogadores e dos seus diferentes empresários, sem qualquer posição dominante da Gestifute/Jorge Mendes, e é assim que deve acontecer. Obviamente quando for o momento das grandes vendas lá aparecerá o maior empresário do mundo a intervir no negócio, mas isso pelos vistos é incontornável, e servindo os interesses do Sporting nada a opor.
#OndeVaiUmVãoTodos
SL