Em defesa de Marco Silva
Bastou apenas um jogo, saldado com um empate fora de casa marcado pela equipa adversária a dois minutos do apito final, para vermos regressar um dos piores vícios dos adeptos leoninos: o tiro ao treinador.
Marco Silva, confrontado ao longo da semana com uma situação muito delicada do foro disciplinar que o fez perder em simultâneo dois jogadores muito importantes, começou a ser alvo de críticas duríssimas por parte daqueles que gostariam de ver Alvalade transformar-se novamente em cemitério de treinadores.
A verdade é que ontem à noite tudo poderia ter terminado de forma bem diferente se o melhor jogador do Sporting não tivesse sido também o pior. Refiro-me ao muito desgastado Carrillo, à beira da exaustão, que com um corte disparatado no centro da área leonina, aos 90 minutos, permitiu o golo da Académica que empatou a partida.
Marco Silva, que já se vira forçado a esgotar as substituições, não tem culpa disso. Como não tem culpa de que Cédric se tivesse lesionado ao terminar a primeira parte ou que William Carvalho cometesse uma falta evidente, em zona não-perigosa do terreno, quando já tinha um cartão amarelo.
São razões de sobra para não começar a alvejar o treinador quando apenas foram cumpridos 90 minutos de jogo oficial na nova temporada. Lendo o que se tem escrito em alguns blogues e redes sociais, só faltou proclamar Paulo Sérgio - que tão criticado foi em Alvalade - como melhor treinador do que Marco Silva.
Nenhum projecto se constrói sem tempo. Alguns dos que agora contestam o ex-técnico do Estoril, suspirando com saudades de Leonardo Jardim, são precisamente os mesmos que há um ano acolheram com desconfiança a chegada do técnico madeirense ao clube enquanto suspiravam com saudades do antecessor, Jesualdo Ferreira.
Este é outro vício antigo no Sporting: quem esteve é sempre superior a quem está.
Quanto ao resto: não vale a pena falar mais de Rojo, como não vale a pena falar de Dier. O Sporting só deve contar com quem continua no clube e com quer jogar. Não pode contar com quem já partiu nem deve contar com quem recusa vestir a camisola verde e branca.
Há quem conteste, referindo que isto são frases de quem professa uma fé cega nos destinos leoninos. Mas não: trata-se apenas da afirmação de um princípio de base.
Se não vigorasse este princípio, podíamos fechar a loja. Seríamos outra coisa qualquer, mas não o Sporting Clube de Portugal.