Ei-lo que parte (para o Karpaty)
Enquanto jornalista sempre me interessei por aqueles que nunca chegam a cumprir o potencial que a certo momento lhes apontaram. Não faltam casos daqueles que, como Marlon Brando em ‘Há Lodo no Cais’, “could have been contenders”. No entanto, como o jornalismo se concentra quase sempre nos casos de sucesso, foi com enorme agrado que li nesta terça-feira a entrevista que André Ferreira, do ‘Record’, fez a Cristian Ponde, a esperança adiada da formação leonina que constará da lista dos 42 de que a Comissão de Gestão se livrou nos últimos meses.
Recordo-me bem de Cristian Ioan, o miúdo filho de imigrantes romenos que em 2005 deu nas vistas em Olhão e foi contratado aos dez anos pelo Sporting. No início treinava no Algarve e só vinha a Alcochete para os jogos, mas logo se integrou na geração onde despontavam Francisco Geraldes ou Daniel Podence. Foi confirmando o tal potencial escalão após escalão, mas uma grave lesão no joelho levou a que ficasse fora das contas da Selecção para o Mundial de Sub-20 e dificultou a transição para sénior. Emprestado ao Covilhã depois de uma excelente época na equipa B, a essa equipa regressou, sendo um daqueles que não conseguiram evitar a despromoção.
Das palavras de Cristian Ponde ao ‘Record’, retenho aquilo que o avançado, reforço do clube ucraniano Karpaty, desabafou, com evidente mágoa: “Acho que a minha situação foi mal gerida e claramente merecia uma oportunidade. Não se desiste assim de um jogador de um ano para o outro. Daí ter tomado a decisão de sair.”
Sendo evidente que nem todos os talentos da formação podem chegar à equipa principal, seja pelo talento intrínseco ou pela abundância conjuntural de outros talentos nas posições em que jogam, convém pensar se não haverá casos em que o Sporting desiste com excessiva facilidade de quem vai crescendo na Academia. Assim terá acontecido com Ponde, ou com Filipe Chaby, e talvez ainda venha a suceder com Geraldes, Palhinha ou Matheus. Mas não tem forçosamente que ser assim.