Ecos do Europeu (22)
Finalmente a França foi capaz de marcar um golo em lance corrido. Ao sexto jogo. Que foi também o último. Com Mbappé a assistir, num centro irrepreensível (repara, Rafael Leão: é assim que se faz), e Muani a erguer-se, enviando-a de cabeça na direcção do segundo poste até terminar aninhada nas redes.
Aconteceu ontem, ao minuto 8 do Espanha-França, espécie de final antecipada do Europeu de Futebol disputada em Munique. A vice-campeã mundial em título dava enfim um ar da sua graça após ter eliminado Portugal nos quartos-de-final com a colaboração do inútil João Félix, que falhou um penálti na ronda decisiva.
Mbappé, astro maior da França, esgotou o seu engenho naquela assistência madrugadora. Não voltou a causar perigo. Aos 57', rematou frouxo, à figura, para defesa fácil de Unai Simón. Aos 86', desperdiçou ocasião soberba despejando a bola para a bancada. Se fosse Cristiano Ronaldo a fazer tal coisa, logo a turba tuga desataria aos gritos, exigindo-lhe que metesse os papéis para a reforma.
A França, quase sempre inferior à Espanha, pareceu conformada com aquele magro avanço. Pura ilusão: em quatro minutos, nuestros hermanos viraram a meia-final a seu favor.
Aos 21', golaço de Lamine Yamal num remate em arco a meia-distância fazendo a bola embater no ferro antes de entrar. O benjamim do Barcelona, com 17 anos incompletos, tornou-se assim o mais jovem artilheiro da história dos campeonatos da Europa. Merece tal distinção: é um dos grandes obreiros do magnífico percurso espanhol no Euro 2024.
Aos 25', consumava-se a reviravolta. Num remate cruzado de Olmo que ainda embateu no pé de Koundé. Repunha-se a justiça no marcador.
Estava construído o resultado. Na segunda parte, os espanhóis seguraram o resultado, mesmo tendo concedido a iniciativa pontual de ataque à selecção adversária. A vitória estava atada e bem atada. Com Rodri a confirmar-se como um dos melhores médios do mundo: quase toda a construção de lances ofensivos passou por ele. Olmo, desta vez titular, justificou a aposta nele feita pelo seleccionador Luis de la Fuente. E Nico Williams, embora muito policiado por Koundé, exibiu todo o seu engenho como extremo-esquerdo clássico (embora de pé trocado).
Nem sempre ganha a melhor equipa. Desta vez aconteceu. Espanha está na final, a sélection bleue regressa a casa. Com um triste título: foi, neste século, o semifinalista com menos golos marcados num Europeu: apenas quatro. Ficando aquém da Grécia, com seis golos no Euro 2004 que venceu à nossa custa.
Portugal está vingado? Nem por isso. Mas não restam dúvidas: os espanhóis merecem seguir em frente. Ninguém como eles exibe futebol de tanta qualidade no Europeu da Alemanha.
Espanha, 2 - França, 1