É urgente devolverem-nos a grandeza
Texto do leitor João Gil
Eu não me importaria rigorosamente nada de ser presidente do Sporting Clube de Portugal.
Mas há duas coisas que são reais. Pelo caminho das pedras, dificilmente o Sporting voltará a ser campeão, a não ser pontualmente, como nas últimas décadas.
O Sporting foi ultrapassado em organização, em dimensão e em potencial pelo SLB (já era maior em número de adeptos e o fosso cavou-se e é um abismo, hoje) e pelo FCP, clube menos nacional, mais muito mais poderoso, determinado e unido, que graças a esse espírito bairrista e regional virou a seu favor o desnível que sempre existiu em Portugal favorável ao centralismo de Lisboa e do clube do regime (do antigo e do novo) e fez das conquistas europeias e mundiais o caminho para uma internacionalização que ainda hoje o coloca muito à frente de qualquer clube nacional, nesse capítulo.
Sem dinheiro, ou se continua o caminho das pedras e temos a sorte de aprender com o caminho, mas não se ganha nada, porque os outros não estão parados à espera do Sporting, ou entra uma injecção massiva de capital, competência na gestão dos negócios da bola, profissionalismo e rigor, ou o Sporting pode encomendar as suas aspirações de grandeza e ir esperando sentado que a grandeza não voltará tão cedo. E com ela, as vitórias, os troféus e a atractividade dos melhores profissionais, sejam eles dirigentes, treinadores, jogadores, empregados de escritório, patrocinadores, o que for.
Os clubes que nunca foram grandes podem aspirar a ser maiores. Os que foram e são grandes, pela sua dimensão social, não podem aceitar ser pequenos. Isso não existe. É um contra-senso e a antítese do Sporting.
Um gigante, quando encolhe, encolhe de vez. Portanto, a questão para o Sporting não é ter dirigentes que nos digam que temos de aceitar a derrota, ser pequeninos para voltarmos a ser grandes. Nenhum Sportinguista que tenha conhecido a grandeza avassaladora do Sporting campeão pode engolir facilmente semelhante ideia. Isso simplesmente não passa pelo gasganete do Sportinguista médio. Mas admitamos que sim, essa é a solução. Então esqueçamos o regresso a glórias passadas, que passaremos a disputar terceiros lugares com o Braga, que é a realidade com que já estamos confrontados no presente. Daí a ganhar vai um abismo.
Se vai um abismo para o Braga, por que razão havemos de pensar que não irá para o Sporting?
Portanto, ou entra dinheiro às centenas de milhão, ou podemos fazer as malas e ir torcer por outro clube qualquer. Podemos sempre escolher um clube estrangeiro, para não termos de passar pela vergonha de ter de escolher entre o FCP, o SLB ou o SCB para termos o prazer de sermos afiliados e adeptos de um clube realmente vitorioso.
Muito ecletismo.... mas pouco atletismo...
Afinal de contas, o Sporting nasceu clube de futebol, para ser tão grande como os maiores da Europa e não para ser pequenino, tão pequenino como os mais pequeninos de Portugal. E também não foram destemidos e visionários jogadores da malha ou de corredores de saco de batatas que o fundaram.
Frederico Varandas é idóneo e sério. O problema não é de idoneidade ou de seriedade. E também não precisa de anunciar que o Sporting não está em condições de disputar títulos, já o disse com toda a clareza em varias ocasiões. Não percebeu quem insiste que o presidente não o disse. Propalar aos quatro ventos as próprias fraquezas uma vez por semana, para contentar uns quantos, nunca fez de nenhuma organização vencedora. Pelo contrário.
Eu, pela minha parte, sócio e adepto do Sporting, que cresci a ouvir as defesas do Damas e os golos do Yazalde e as façanhas do Joaquim Agostinho, não quero ouvir isso. Quero ouvir o exacto oposto. E quero ter alguém à frente do clube que me devolva essa grandeza, já, a partir de amanhã.
Enquanto não estiver legalmente autorizada tão profunda alteração genética no DNA do Sporting, é isso que eu exijo como sócio pagante dos dirigentes do Sporting.
Texto do nosso leitor João Gil, publicado originalmente aqui.