É um cósmico
A caminho de levar a criança à escola, ouço no carro a justificação de Cosme para o "erro" do segundo golo da Académica em Alvalade. É uma cosmédia. Ou um inacreditável exercício de sacudir a água do capote. Diz Cosme que viu o auxiliar assinalar o fora-de-jogo e respondeu logo pelo intercomunicador que tinha dúvidas sobre a decisão. Diz Cosme que foi chamado pelo auxiliar (chamado, repete) e que insistiu nas dúvidas. Diz que, perante as ditas dúvidas, o auxiliar lhe disse então para validar o golo. Portanto, ele, que era o chefe da equipa, colocou o peso da chefia sobre o subordinado, mas depois só fez o que o subordinado lhe disse para fazer, subordinado esse que já tinha decidido de outra maneira e tinha decidido bem. Eu, se fosse ao auxiliar, nunca mais queria semelhante criatura para chefe, incapaz de assumir as culpas e atirando tudo para cima de quem faz bem o seu trabalho.
Note-se que este exercício lamentável resulta de uma autorização especial do Conselho de Arbitragem para deixar o cósmico falar. Uma decisão que, se não é inédita, muito longe não deve andar. Mas que só apareceu porque, desta vez, o escândalo foi tão grande que não foi possível ignorá-lo. É que não houve um jornal nem um comentador que não visse o que se passou. Se não tivesse havido barulho, Cosme teria constatado o erro e seguido para bingo. A ver quantos cosmes aparecem mais daqui até ao fim.