E contudo, ele é humano
É inevitável continuar a falar do ex-treinador do nosso clube, Ruben Amorim.
Se a herança que deixou é pesada, eu diria leve, que deixar a equipa destacada no primeiro lugar da Liga, com dez pontos na Liga dos Campeões, nas meias da Taça da Liga e dentro da Taça de Portugal, se acarreta responsabilidade ao seu sucessor, também lhe deixa meio caminho andado para o sucesso, se a herança que deixou é pesada, dizia, a que recebeu não é melhor. Há até uma substancial diferença que paradoxalmente pode ser semelhante e passo a discorrer:
João Pereira herdou uma equipa a carburar com a precisa mistura de ar e combustível, ainda que o combustível seja um pouco (muito, para ser rigoroso) mais barato que o que Ruben Amorim encontrou em Manchester. Já o agora treinador dos "Red Devils", encontrou uma equipa com combustível a mais e ar a menos, daí demorar a sair fumo branco pelo escape.
Ontem assisti ao jogo entre o Arsenal, que nos "espetou" cinco sem resposta há pouco mais de uma semana e o Manchester United recheado de estrelas, a perder por 2-0 (que poderiam ser 3, ou 4, ou mais) e a levar "um baile de bola", com apenas dois remates enquadrados e desses um com "selo de golo" e apenas por volta dos 70'. Ou seja, a diferença de orçamento redundou num desempenho igual, a suposta superioridade individual foi semelhante, foi medíocre. E neste desempenho medíocre do MU vi várias coisas, algumas que me preocuparam e discorro de novo:
O sistema de jogo tão querido de Amorim começa a estar lá. Bruno Fernandes, p.e. até defende, coisa que raramente o via fazer até à chegada de Ruben, que eu acompanho com regularidade os jogos do MU; As dinâmicas de jogo começam a ser as que tinha no Sporting, a utilização de dois alas, etc. aquilo a que nos habituou, até aquela irritante troca de bola entre o GR e os defesas a "dois" metros da baliza. O que me preocupou foi o recuo de Bruno Fernandes, mais para 6, a defender e 8, a atacar e a falta de uma referência na frente de ataque. Perceberam já quem encaixa aqui na perfeição, certo? Isso, Pedro Gonçalves e Viktor Gyokeres.
Com o dinheiro que abunda por aquelas bandas, e a coisa por lá não é como por cá, a concorrência é grande e não se resume a três e mais um ou outro que de vez em quando manda um fogacho, temo que para fazer andar em ritmo de cruzeiro e a carburar bem esta equipa de Manchester, em Janeiro, se por cá a mistura de combustível se continuar a deteriorar, estas duas peças do tão bem oleado motor sportinguista nos sejam surripiadas em modo gangue dos catalizadores, que é como quem diz, quando dermos por ela, já o motor está completamente desiquilibrado e a emitir demasiado CO2 e a fazer mais barulho que a produzir força, isto é, a marcar golos, ou, parafraseando um ex-primeiro-ministro, a produzir "(isto é) só fumaça".
Resumindo: O jogo de ontem em Londres não foi muito diferente do jogo em Lisboa na semana passada, apenas o resultado foi diferente. Pontos a favor e contra em ambos: JP tinha a favor uma equipa rodada e a carburar na perfeição e contra, o poderio do adversário e a sua recente posse como mecânico-chefe; Deu barraca da grossa, principalmente porque resolveu inventar; RA tinha contra uma equipa ainda sem rotinas, em crise clara de identidade, com cada peça a trabalhar por si, desiquilibrada, que minimamente conseguiu pôr a jogar, mas que evidenciou que lhe falta a necessária rodagem, para seguir sem percalços na prova. Contra ambos estava a equipa que melhor está neste momento na liga inglesa e isso não é de menosprezar.
A pergunta-chave é: Isto é mais difícil para quem? Para Ruben, ou para João? Eu direi que para João, porque me parece menos preparado, o que é normal, começou mais tarde na função e herdou uma equipa que estava bem, mas que era a imagem de "outro" e está a ser difícil entender-se com os jogadores e os jogadores com ele. Seria avisado, uma vez que praticamente não há tempo para treinos profundos, continuar como estava, que no futebol há frases sábias como a que diz que "em equipa que ganha não se mexe" e depois, na pré-época, com os que ficassem e outros que indicasse para vir, começar a dar o seu cunho pessoal à equipa. O Ruben tem que fazer o contrário, tem que devolver ao jogo uma equipa animica, técnica e tacticamente destroçada e para alguém que entende tão bem o jogo, se tiver o condão de agarrar o balneário como teve no Sporting, mais cedo do que tarde as coisas melhorarão e o MU voltará à tona e a discutir títulos.
No entanto, como o que me interessa é o futuro do Sporting, o que eu queria era que o MU já estivesse a 100%, a "TOP" como dizem nuestros hermanos, para não se lhes meter na idéia de virem cá buscar já em Janeiro duas ou três das nossas peças fundamentais. É que um motor pode funcionar sem um ou dois segmentos, gasta um pouco mais de óleo e perde compressão e força, mas sem piston e cambota é que não funciona mesmo.
Ah! O título do post. É que Amorim também perde, é um mortal como João Pereira.