Doze notas sobre o jogo de hoje
1. Quem disse que Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma não combinam em campo? Seja quem for, deve estar a morder a língua a esta hora. Os dois jogadores formados no Sporting protagonizaram uma jogada magistral no último minuto do Dinamarca-Portugal de hoje. Uma jogada que deu a vitória à equipa das quinas. Com remate vitorioso de Ronaldo coroando uma assistência perfeita de Quaresma.
2. Um dos momentos deste jogo em que a selecção portuguesa obteve três preciosos pontos na qualificação para o Europeu de 2016 ocorreu já depois do apito final, quando Cristiano Ronaldo fez questão de dar um abraço caloroso a Quaresma, que foi seu colega na academia de Alcochete - uma das melhores escolas de formação de futebolistas do mundo. Este gesto, mais que mil palavras, demonstrou bem como está elevado o moral nesta selecção agora sob o comando de Fernando Santos.
3. Foi no banco, como lhe compete, que o seleccionador comandou as operações. Todos aqueles que criticaram a escolha do sucessor de Paulo Bento porque Fernando Santos estava castigado pela FIFA terão a partir de agora sérios motivos para rever opiniões. Porque a providência cautelar em boa hora invocada pelos juristas da Federação Portuguesa de Futebol, e que teve acolhimento nas instâncias jurisdicionais competentes para o efeito, permite-nos ter quase a certeza de que aquela absurda pena de oito jogos de suspensão será anulada, em parte ou no todo. Se teve algum efeito positivo foi o de unir os jogadores em torno do seleccionador.
4. "A felicidade procura-se", declarou Fernando Santos no fim do jogo. E, de facto, Portugal procurou atingir esse patamar, sem desfalecer, do princípio ao fim do desafio contra a Dinamarca. Cristiano Ronaldo já tinha avisado, na conferência de imprensa de anteontem, ao ironizar sobre a curta distância entre este país e a Suécia, onde faz agora um ano ele conseguiu o apuramento de Portugal para o Mundial do Brasil com uma exibição de cinco estrelas. Ronaldo resolveu esse apuramento, com dois remates certeiros contra os suecos. Esta noite também foi ele a resolver, com o solitário golo que ditou a derrota dos dinamarqueses em casa.
5. Portugal voltou a revelar um bom colectivo. Com atitude, carácter, confiança. Não houve grandes assimetrias, o conjunto funcionou nos diversos sectores. Revelando maior entrosamento entre a defesa e o ataque, encurtando distâncias entre linhas, sem os desequilíbrios ocorridos na primeira parte do França-Portugal. Os laterais estiveram mais protegidos pelo meio-campo e até o tridente ofensivo se integrou em manobras defensivas sempre que a equipa necessitava desse reforço.
6. Quero, no entanto, destacar o desempenho de um jogador: Ricardo Carvalho. Teve uma actuação quase perfeita no eixo da nossa defesa, que nunca sofreu os sobressaltos registados na partida da semana passada, contra a França. Sólido, seguro, atento, solidário, competente, o defesa do Mónaco - recém-regressado à selecção após três anos de ausência - correspondeu em toda a linha à confiança que o seleccionador nele demonstrou. Tornando-se a confirmação viva de que não faz qualquer sentido olhar para o bilhete de identidade nem instituir castigos perpétuos ao mais alto nível do futebol português.
7. Cédric subiu muito de rendimento em relação ao jogo anterior, comprovando que o seleccionador acertou em cheio ao apostar nele como lateral direito. Mais apoiado, demonstrou neste desafio todas as qualidades que bem lhe conhecemos no Sporting: espírito de luta, combatividade, energia inesgotável, uma vontade indómita de vencer. Está a agarrar da melhor maneira o lugar, que já era dele nos escalões mais jovens. Não esqueçamos que se distinguiu nesta posição como vice-campeão mundial de sub-20, na Colômbia.
8. William Carvalho jogou desta vez como titular, na posição de médio defensivo, e reforçou a segurança da equipa nacional. Foi uma das das alterações introduzidas pelo seleccionador no onze titular, ao fazê-lo alinhar no lugar que coubera a André Gomes no jogo anterior. A outra alteração, também coroada de êxito, foi a entrada de Ricardo Carvalho para a posição anteriormente ocupada por Bruno Alves.
9. Motivo de orgulho para todos nós: cinco titulares do Sporting contribuíram para esta importante vitória da selecção nacional fora de casa. Em todos os sectores da equipa. Do guarda-redes (Rui Patrício, com duas boas defesas) ao ataque (Nani, que esteve perto do golo aos 26', a passe de Cristiano Ronaldo), da defesa (Cédric) ao meio-campo (William e João Mário, que substituiu Nani aos 68').
10. A sorte faz parte do jogo. E Fernando Santos confirmou hoje ser um treinador com sorte ao conseguir três pontos no minuto final. A verdade, no entanto, é que procurou sempre a vitória. Isto ficou bem patente nas substituições efectuadas: João Mário para o lugar de Nani, Éder para o lugar de Danny, Quaresma para o lugar de Tiago. Esta última acabou por ser a chave que ditou o desfecho do desafio.
11. A Academia de Alcochete é um viveiro de talentos - a tal ponto que não se limita a formar excelentes jogadores portugueses. Também o guardião dinamarquês, Kasper Schmeichel, é fruto da formação sportinguista, tendo começado por dar os primeiros passos desportivos no nosso clube, onde o seu pai, Peter, se sagrou campeão nacional, como um dos melhores guarda-redes leoninos de todos os tempos.
12. Uma palavra final para o árbitro. O alemão Felix Brych podia ter transformado esta partida num festival de cartões, imitando o péssimo exemplo da medíocre arbitragem portuguesa. Mas limitou-se a exibir um cartão a Ronaldo, aos 90 minutos. Nada mais. Fica o exemplo, na expectativa de que possa um dia ser seguido por cá.