Dois saíram do banco para fazer a diferença
Estoril, 0 - Sporting, 1
Paulinho celebra o golo que nos valeu mais três pontos, com estádio da Amoreira a transbordar
Foto: Rodrigo Antunes / Lusa
Após dias de apoteose e festejos, confirmada a nossa conquista do campeonato nacional de futebol, entrámos em campo descontraídos. Não era jogo só para cumprir calendário, esta nossa deslocação ao Estoril - mas até parecia. De tal modo que a primeira parte se foi disputando em ritmo lento, quase a passo. Noutro contexto, os adeptos que enchiam o estádio da Amoreira talvez ficassem descontentes. Mas desta vez deixaram passar. Só houve tempo, espaço e vontade para aplaudir a equipa.
O Estoril também estava tranquilo. Acabara de assegurar a permanência no primeiro escalão do futebol português, facto que recompensava o esforço da equipa, de inegável qualidade. Por isso não faltou quem estranhasse que nesta recepção ao Sporting os "canarinhos" se apresentassem com excessivas cautelas defensivas, num bloco compacto e muito baixo, sem tentarem discutir o resultado. Agarrados à perspectiva de conservarem o empate a zero à medida que os minutos se escoavam.
Se não era, pelo menos parecia. Durante quase toda a primeira parte mal incomodaram a baliza leonina, desta vez entregue a Diogo Pinto, formado na Academia de Alcochete e em estreia absoluta na equipa principal. Mas antes do apito para intervalo o jovem guardião de 19 anos apanhou um susto ao ver a bola embater num poste.
Da nossa parte, quase nada. Gyökeres, vigiado de muito perto por Pedro Álvaro, parecia metido num colete de forças: mal conseguia espaço de manobra. Quando enfim se libertou, aos 37', serviu de bandeja Daniel Bragança, mas o jovem médio desperdiçou a oferta, atirando muito por cima.
Havia que alterar alguma coisa. E assim fez o treinador leonino. Aos 57' mandou sair Matheus Reis, trocando-o por Nuno Santos, e Daniel Bragança, que cedeu lugar a Paulinho. Notou-se logo a mudança: a equipa tornou-se mais veloz, mais objectiva, mais acutilante. Foi apertando o Estoril, condicionando-lhe não só o espaço de manobra como a própria lucidez táctica. Estava escrito que o Sporting não sairia da Amoreira sem os ambicionados três pontos.
Avisos da reviravolta em curso não faltaram. Saídos dos pés de Esgaio (62'), Gyökeres (63') e Trincão (76'). Nenhum deles marcou devido a extraordinárias defesas de Marcelo Carné: o brasileiro parecia travar tudo, naquela tarde de sábado, dia 11, em que disputámos o penúltimo desafio do campeonato em curso.
Mas nem ele foi capaz de impedir o golo concebido e executado pela dupla que havia saltado do banco - a mesma que já brilhara na partida anterior, contra o Portimonense. Cruzamento milimétrico de Nuno Santos e finalização perfeita de Paulinho com o seu pé menos bom, o direito. Nona assistência de Nuno, 14.º golo do avançado nesta Liga 2023/2024. Números que dizem muito do desempenho de ambos.
O Estoril ainda tentou reagir, em busca do empate, mas mostrou-se incapaz de transformar este desejo em realidade. Os caminhos para a baliza leonina estavam tapados, mesmo sem o nosso maior recuperador de bolas em campo: Morten foi poupado. Ainda houve tempo para Rúben Amorim dar minutos a outro miúdo da nossa formação, Miguel Menino, em estreia pela "equipa grande" logo com o título de campeão nacional. Um dos 28 actuais leões que até à data se podem orgulhar disso.
Repetiu-se o padrão: festa no relvado, festa nas bancadas, milhares de adeptos felizes a celebrar a vitória e a refestejar o título. E dois novos recordes superados, comprovando que não era jogo a feijões: atingimos a nossa maior pontuação de sempre num campeonato: 87, superando a marca de 2016. E batemos o nosso recorde de vitórias na prova máxima do futebol português: 28 em 33 partidas. Apenas doze pontos desperdiçados desde Agosto.
Mérito de Amorim e dos jogadores que formam uma das melhores equipas leoninas de todos os tempos. Ainda a vemos intacta e já começamos a sentir saudades dela.
Breve análise dos jogadores:
Diogo Pinto - Estreia absoluta na nossa equipa principal, face às ausência por lesão de Adán e Israel. Talvez tenha temido, mas não tremeu.
Diomande - Tarde tranquila na Amoreira, acorrendo às dobras de Esgaio. Por vezes a brilhar, como aconteceu aos 89'.
Coates - Fez valer a experiência. Corte providencial aos 2', grande intercepção aos 88'. Tentou o golo, cabeceando ao lado (90'+2).
Gonçalo Inácio - Pareceu demasiado descontraído e algo desconcentrado, sobretudo no primeiro tempo. Depois melhorou.
Esgaio - Bom passe ofensivo aos 37'. Disparo com selo de golo aos 62', testando reflexos do guarda-redes Carné. Saiu aos 89'.
Daniel Bragança - Não esteve nos seus dias mais inspirados. Desperdiçou oferta de Gyökeres atirando por cima (37'). Saiu aos 57'.
Morita - Pareceu ressentir-se da ausência de Morten, seu parceiro mais habitual. Aos 90'+1 cedeu lugar a Koba.
Matheus Reis - Regressou ao onze titular mais de um mês depois. Actuação demasiado discreta. Saiu aos 57'.
Trincão - Grande lance individual aos 29': passou por quatro. Disparou tiro com pé-canhão: foi quase golo (79').
Pedro Gonçalves - Algo errante, pareceu alheado do jogo. Atirou muito por cima (11'). Entregou bola (27'). Substituído aos 89'.
Gyökeres - Libertou-se enfim da marcação para rematar uma bomba aos 63': Carné defendeu in extremis. Iniciou construção do golo.
Nuno Santos - Entrou aos 57', substituindo Matheus. Grande cruzamento aos 62'. Outro ainda melhor, aos 81': a bola entrou.
Paulinho - Substituiu Daniel Bragança (57'). Faltava desatar o nó: ele conseguiu, marcando golo solitário. Melhor em campo.
Menino - Jogador da formação, teve estreia absoluta na equipa A ao render Pedro Gonçalves, aos 89'.
Fresneda - Entrou para o lugar de Esgaio aos 89'. Rendeu quase nada, continua sem deslumbrar.
Koba - Substituiu Morita aos 90'+1. Entrou só para queimar algum tempo. Muito aplaudido no seu antigo estádio.