Diante do Borussia
Para a segunda jornada desta edição da Liga dos Campeões (a "Xampions" como alguns dizem, sabe-se lá porquê...) reuniu-se o painel comentadeiro do És a Nossa Fé - reanimando o convívio orgânico, algo não só urgente como convocado pelo recente alijar dos cuidados sanitários, consagrado pela extinção do Grupo de Trabalho (a "Task Force" como diz o Estado, saberá o Demónio Inculto porquê...) para a Vacinação contra o Covid-19.
Em assim sendo, nas cercanias das instalações da RTP congregou-se o trio composto pelo camarada-coordenador Pedro Correia, o consagrado José Navarro de Andrade e o júnior jpt, ausente da fotografia pois então ao telefone. O encontro foi antecedido por um frugal repasto, o qual cruzou o hino da competição (momento sempre a respeitar...) e se alongou pelos primeiros 45 minutos da compita. Sobre um pano em tons ocres - típicos da velha simbologia "Africana" -, adquirido cerca da Ilha de Moçambique, e ali aposto em explícita homenagem aos nossos apoiantes do Sporting Clube de Moçambique, comeu-se (o que agora se diz "degustar", sabe-se lá porquê...) frango oriundo da prestigiada Casa de Frangos de Moscavide, precedido e sucedido por camarões moçambicanos adquiridos na empresa Lidl, tudo orlado com uma saudável salada rica de manufactura caseira e polvilhado por um sortido de amêndoas, amendoins e castanhas de caju, proveniente do estabelecimento Pingo Doce. Para conclusão, ou sobremesa, surgiram uns aprazíveis biscoitos da Padaria da Arrifana. Nesse entretanto foram bebidas cervejas: como sempre a nossa querida Super Bock, claro, mas também acompanhada por algumas Argus, em homenagem aos nossos Adan, Porro e Saravia.
Sobre o jogo de futebol muito haverá a dizer. No entanto presumo que serei algo redundante se me explanar sobre a matéria. Pois um dos membros do trio foi recebendo largas dezenas de mensagens de um grupo de convívio telefónico, composto por bloguistas de tendência sportinguista, e assim decerto que a blogosfera leonina estará já repleta de textos congregando e sintetizando tamanho manancial opinativo discorrido por conhecedores ("connoisseurs", dizia-se antes e sei bem porquê...) do desporto-rei mais exímios do que eu. Ainda assim deixo alguns tópicos:
1. O que fundamental se retira deste Borussia-Sporting é o primado do mandamento "jogo a jogo". Ontem, em termos colectivos a equipa esteve bem, apesar da derrota. Jogo muito difícil, contra uma equipa fortíssima. Não sigo muito a crença no primado da experiência europeia (vejam-se os simpáticos neófitos moldavos que ontem gelaram os merengues) mas haverá um ritmo de jogo - o que não é sinónimo de intensidade de preparação física e táctica - algo diferente, que é preciso ir absorvendo. Um processo de maturação, em curso - o tal mandamento "jogo a jogo"-, e que creio será muito rápido, até pelo excelente comandante desta equipa e pela sageza ponderada que a presidência apresenta, que assim se apresta a deixar medrar tão bela matéria-prima. Este desafio mostrou que o descalabro diante do Ajax foi o de um dia aziago. E que "acontece aos melhores", como alguns dos nossos rivais poderão hoje concordar.
Por tudo isto não posso deixar de sorrir com a memória de todos aqueles "stôres" que há quinze dias foram para as reuniões de notas clamando que o aluno Amorim (aquele miúdo, o Rúben) "não tinha estudado bem" para o teste Ajax. Que nota lhe darão hoje? Pelo menos um 10 (ou 3), espero.
2. Por falar no tal estudante Rúben Amorim: que belo exame oral ele fez, já nas declarações pós-jogo. É um orador muito atilado, o rapaz, dominando a matéria e apresentando-a com o tom certo. E isto nele é uma constante. Só por isso justifica passar de ano. E para mim julgo que deverá ser o delegado de turma.
3. "A doutrina divide-se" sobre o efeito Matheus Nunes no meio-campo leonino. Gabo-lhe a codícia e o arrojo ofensivo, a maestria no drible, a visão ("lateral" compõe-se agora) de jogo, e exulto com as suas arrancadas desequilibradoras, tão ao gosto das molduras humanas. Mas noto-lhe alguma apatia defensiva, descompensadora do necessário rigor colectivo. Estou certo que rapidamente, sob a tutela de Mestre Amorim e no contexto de tão difíceis contendas internacionais, o jogador amadurecerá essa dimensão tão necessária à "alta competição". Mas até lá abrem-se, por vezes, algumas auto-estradas ali no miolo.
4. Uma boa surpresa, vinda de jogador que até agora pouco me convencera, o outro Matheus, Reis.
5. A confirmação de que se há vida para além de Coates ela é bocado mais difícil. Também por isso o bom desempenho defensivo, sublinhado com os múltiplos foras-de-jogo provocados. Alguns a assustarem-nos, mas isso ainda mais demonstra a excelência e o rigor das manobras defensivas que os causaram. Algo indissociável da actuação do patrão.
6. Justiça seja feita a Rúben Amorim: tem dado excelentes guiões a João Palhinha, e ele muito bem os interpreta. Julgo que é já credor de um Globo de Ouro, e antevejo que em breve ganhará um troféu BAFTA.
7. É evidente que Paulinho é um excelente avançado, joga e faz jogar. Encaixado numa defesa fortíssima (onde pontifica o célebre Hummels) e num jogo difícil, em que escassearam as possibilidades de ataque continuado que se tornasse disruptivo, o nosso ponta-de-lança teve ganas de criar algumas dificuldades extremas ao colosso do Ruhr. É um prazer vê-lo actuar. Em particular naquilo que tanto desagrada aos mais enfáticos das bancadas e sofás: é usual vê-lo criar, com arreganho e/ou argúcia, situações perigosas nas áreas adversárias e nos momentos decisivos preferir esperar ou passar a bola a um colega. Pois, inteligente, percebe que um remate não terá sucesso. Crispados pela emoção os sportinguistas não lhe perdoam que lhes negue o "frisson" momentâneo do disparo, destrambelhado ou "enquadrado", que não seja um populista atreito à demagogia do remate "para a bancada (ver)". Preferem, o que é normal porque é de futebol que se trata, a Emoção à Razão. Mas conviria que depois dos jogos, no remanso da ressaca, se tomasse consciência disto: Paulinho tem razão. E é, repito, um excelente avançado.
8. O jovem Jovane está num encruzilhada. Ou segue a Djaló ou continua para Gelson. É voluntarioso e é talentoso. Talvez seja tímido, talvez jogue amargurado. Ontem entrou arredio. Porquê? Espero que a "estruture" o "alavanque" para a boa carreira que lhe é tão possível.
Em suma, espero que os próximos meses, já pós-Covid, me sejam algo soalheiros, após a bruma destes meus últimos anos. Pois se assim acontecer daqui a uns meses, em Maio de 22, poderei compor uma mesa menos frugal e mais refinada. Dado que este trio comentadeiro combinou que será nestas instalações que assistiremos à final da Liga dos Campeões. Soube que há quem prefira para esse jogo ter como adversário o Paris Saint-Germain, essa colecção galáctica. Eu, por razões ideológicas, avesso que sou ao patrão reino teocrático Catar, e por razões estritamente futebolísticas, antes anseio que joguemos essa final contra uma equipa inglesa. O Manchester United, de preferência. Por razões óbvias.
Ou então, porque não?, iremos os três ver o jogo in loco. E com quem se nos queira juntar, claro. Pois #EsteAnoTambémÉ!