Desastre comunicacional
Foto: André Kosters / Lusa
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Apetece perguntar se ainda resta alguém a orientar a comunicação do Sporting. Frederico Varandas falou esta tarde aos adeptos, apresentando o seu sexto treinador em 18 meses, no preciso momento em que o procurador Rosário Teixeira falava ao País, anunciando as conclusões do Ministério Público no debate instrutório da Operação Marquês. Não podia haver pior coincidência. Ninguém em Alvalade estava ao corrente desta última comunicação? Não teria sido possível antecipar ou retardar o anúncio de Varandas?
A coincidência é ainda mais desastrada por ocorrer no dia seguinte às buscas da Autoridade Tributária nas instalações leoninas e de sete outros clubes desportivos, no âmbito da operação Fora de Jogo, que constituiu 47 arguidos - entre eles o actual presidente do Sporting e o seu antecessor Bruno de Carvalho.
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Há muitas formas de comunicar, além da expressão verbal. Com a expressão corporal, facial e gestual também se comunica - para o bem e para o mal. Durante os seis minutos e 52 segundos em que se dignou falar, Varandas esteve o tempo todo com cara de poucos amigos e semblante de "tirem-me daqui": tenso, rígido, procurando aparentar impassibilidade em vez de conseguir transmitir empatia - instrumento fundamental de qualquer liderança.
A empatia, quando não nasce connosco, é algo que pode adquirir-se por treino. Mas no caso dele já foi possível perceber que treinou muito pouco ou treinou mal. Em perfeito contraste com a expressão sorridente e descontraída do novo técnico, que neste aspecto deu uma lição ao presidente.
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Quanto ao que disse, como de costume, foi confrangedor. «Não tenho problema nenhum em investir no treinador certo», declarou, com óbvia deselegância, visando os técnicos que antes contratara, designadamente Marcel Keizer e Silas, que nesta óptica seriam os treinadores errados - embora escolhidos também por ele. «Por vezes o que é barato sai caro», insistiu, em nova demonstração desprimorosa para o técnico "barato" que acaba de despedir seis meses após o ter contratado.
«O treinador certo, num ano, faz valorizar o plantel em 30 ou 40 milhões de euros», disse também. Permitindo que se conclua, obviamente, que Keizer e Silas foram treinadores errados. Sendo assim, o que devemos então concluir do presidente que se descarta de técnicos como quem muda de camisa, confirmando Alvalade como funesto cemitério de treinadores?
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O ex-director clínico do Sporting, ao concorrer à presidência, jurou aos adeptos que Peseiro seria o seu treinador. Quebrou a jura. Disse apostar em Tiago Fernandes e logo o pôs a andar. Trouxe Keizer, mas o holandês só aguentou dez meses. Lançou um repto a Pontes, mas sem o menor sucesso. Contratou e despediu Silas em meio ano.
Era a ocasião certa para um mea culpa do presidente. Que, obviamente, não aconteceu. Até nisto Frederico Varandas é um desastre comunicacional.