Decepcionados, irritados, inconformados
Sporting, 0 - Chaves, 2
Pela primeira vez, fomos derrotados no nosso estádio pelo modesto Chaves, recém-promovido à Liga 1 após estar quatro anos fora do maior escalão do futebol português.
Dois golos sofridos em três minutos, aos 60' e aos 63', ditaram este resultado, testemunhado por mais de 31 mil espectadores no Estádio José Alvalade. E geraram enorme frustração: foi a segunda derrota consecutiva, foi o nosso segundo jogo sem marcar, já levamos oito golos sofridos em quatro jornadas - quase metade (17) do registado em toda a época anterior.
A defesa esteve de novo irreconhecível. O meio-campo foi inoperante. A linha avançada voltou a ressentir-se da ausência de um jogador de referência vocacionado para aproveitar os sucessivos centros, interceptados pela defesa adversária por absoluta incapacidade leonina no jogo aéreo. A equipa produziu 47 cruzamentos, todos infrutíferos.
Descalabro exibicional. Que parece consequência de uma séria quebra anímica.
O mais inexplicável é que esta tremideira tem vindo a afectar sobretudo aqueles que já cá estavam, não tanto os que vieram. No sector defensivo, designadamente aquele quarteto inicial que anteontem começou o jogo: Antonio Adán, Gonçalo Inácio, Sebastián Coates e Luís Neto. Todos campeões nacionais em 2021.
A defesa naufragou em Braga, naufragou no Dragão e naufragou agora em Alvalade.
Anda a precisar de nadador-salvador. Ou de um terapeuta emocional.
Rúben Amorim pareceu perdido desde o momento em que escalou o onze para este jogo. Deixando no banco St. Juste, o mais caro defesa contratado desde sempre pelo Sporting. Morita, outro reforço, manteve-se também no banco.
Que mais?
Colocou Edwards como avançado-centro sem que o inglês reúna características que o favoreçam nessa posição.
Deu ordem a Pedro Gonçalves - o nosso maior goleador - para recuar no terreno, fixando-o como médio de transição no corredor central.
Equívocos atrás de equívocos. Com reflexos na leitura do jogo e nas próprias substituições, que não produziram efeito.
Depois foi sempre a derrapar. Até chegar ao ponto de mandar avançar Coates para ponta-de-lança improvisado na meia hora final.
Não admira, neste contexto, que os jogadores derrapassem também.
Eis a verdade, cada vez mais indesmentível: o plantel é curto. Perdemos Palhinha, Sarabia, Tabata e Matheus Nunes.
Faltam-nos dois jogadores de qualidade. Um médio posicional, com domínio no jogo aéreo e capacidade de choque, que funcione como primeiro tampão defensivo. E um matador lá na frente, com vocação clara para o golo.
Nenhum dos reforços que chegaram este Verão (Trincão, Rochinha, Morita...) tem estas características.
Continuo a considerar também que nos falta um guarda-redes que possa ser de facto substituto e sucessor de Adán a qualquer momento. Basta um castigo, basta uma lesão, para ficarmos com esse lugar desguarnecido. Fazer sentar Israel e André Paulo no banco, em simultâneo, não disfarça esta lacuna.
E a verdade é que também estamos curtos de centrais. Nesta noite de sábado, realmente para esquecer, Gonçalo Inácio fez três(!) posições na defesa, algo impensável numa equipa com os pergaminhos e a ambição do Sporting.
Foi um jogo que irritou profundamente a massa adepta.
À hora da despedida, escutou-se uma sonora vaia em Alvalade. Dos adeptos decepcionados, irritados, inconformados com esta derrota.
Injusto para quem já tantas alegrias nos deu? Admito que sim. Mas é a democracia clubística a funcionar no estádio. E um direito inalienável de quem paga bilhete para assistir aos jogos.
Que o façam no fim, se for o caso, e não no meio das partidas - é o apelo que aqui deixo.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Noite infeliz, com responsabilidade no primeiro golo, por deficiente colocação entre os postes, e num lance de que poderia ter resultado o terceiro do Chaves.
Neto - Titular durante a primeira parte, em que foi somando passes errados, jogando com incompreensível nervosismo, sem fazer render a experiência. Saiu ao intervalo.
Coates - Incapaz de fazer sair a bola com qualidade no início das acções ofensivas. Passou a meia-hora final plantado sem préstimo na grande área do Chaves.
Gonçalo Inácio - Talvez a sua pior exibição de sempre na equipa principal. Quase tudo lhe saiu mal - no passe, nas dobras e nos duelos individuais.
Esgaio - Entrou como titular, com Porro a cumprir castigo. Incapaz de acrescentar qualidade no passe lá na frente e sem exibir segurança defensiva.
Ugarte - Canalizou parte do jogo ofensivo na primeira parte. Amarelado num lance em que podia ter visto vermelho, aos 45'+3, saiu para evitar expulsão.
Pedro Gonçalves - Amorim errou ao colocá-lo atrás do tridente ofensivo, mais longe da baliza. Mesmo assim, o remate mais perigoso foi dele: aos 13', atirando ao poste.
Nuno Santos - Desta vez foi titular. Inconformado, jogando mais com o coração do que com a cabeça, centrou muito mas sempre sem perigo. Esforço inglório.
Trincão - Exibição insuficiente. Demonstra boa técnica, mas faltou-lhe intensidade. Nunca foi capaz de fazer a diferença nas diagonais da linha para o centro.
Rochinha - Estreia infeliz como titular. Tentou o golo aos 14', 38', 44' e 45'+3, mas sem conseguir desfazer o nulo. Foi-se apagando, com o conjunto da equipa.
Edwards - Numa equipa sem ponta-de-lança, tentou aproximar-se desta posição. Mas rende mais como interior direito. Activo nos 45' iniciais, apagou-se no segundo tempo
Matheus Reis - Fez todo o segundo tempo, como central à esquerda, rendendo Neto com Gonçalo a transitar para a direita. Tentou desequilíbrios ofensivos, sem sucesso.
Morita - Fora do onze titular, entrou só aos 60', substituindo Ugarte. Os dois golos surgiram logo a seguir. O japonês, sem culpa nos lances, entrou no pior momento.
St. Juste - Chegou ao Sporting para ser titular da defesa, mas tarda em afirmar-se. Entrou por troca com Esgaio só aos 65'. Continua sem demonstrar ser reforço.
Rodrigo. Foi a última cartada do técnico, entrando aos 74', com Rochinha a sair. Teve ainda tempo para tentar o golo, aos 89', num pormenor de grande classe.