Debaixo de chuva, primeira vitória a Norte
Famalicão, 1 - Sporting, 2
Porro, sempre muito combativo no dilúvio de sábado à noite em Famalicão
Foto: Manuel Fernando Araújo / Lusa
Quebrou-se o enguiço: pela primeira vez nesta temporada, o Sporting conseguiu uma vitória a Norte. Numa partida disputada debaixo de chuva, por vezes muito forte, em que não era possível construir lances dignos de nota artística, foi clara a intenção de resolver cedo a questão e trazer três pontos do estádio do Famalicão, algo que não nos sucedia há 30 anos.
Foi intensa a pressão leonina desde os primeiros minutos. Com as oportunidades a sucederem-se. Paulinho (4'), Trincão (10') e Pedro Gonçalves (18') podiam ter aberto o marcador, algo que não aconteceu - por inabilidade do primeiro, por "excesso de pontaria" do segundo, ao acertar em cheio no poste, e pela competência do guarda-redes Luiz Júnior ao vedar o acesso à baliza ao nosso n.º 28.
O que não ocorreu em ataque continuado consumou-se depois, devido à pressão de Morita sobre o portador da bola numa tentativa de construção apoiada do Famalicão. Pelé, acossado, atrasou-a, colidindo com Paulinho: daí resultou um ressalto que fez a bola encaminhar-se por capricho para a linha de golo. Mas o último toque coube a Trincão, que três minutos depois arrancou um penálti, convertido por Pedro Gonçalves.
Assim se foi para o intervalo. No segundo tempo, com as substituições na sua equipa, o Famalicão ganhou velocidade e robustez. Aos 49', fez o primeiro remate enquadrado. Depois foi acentuando a pressão, enquanto o Sporting recuava para o seu reduto defensivo, abdicando do contra-ataque.
O plano resultou, mas foi arriscado. A equipa fechou-se bem mas ficou à mercê de um lance fortuito, de bola parada, que pudesse virar o resultado. Temeu-se tal desfecho quando a turma minhota marcou, aos 78', no mais vistoso golo da noite chuvosa - Iván Jaime em pontapé-de-bicicleta, beneficiando de uma tabela involuntária em St. Juste que traiu Adán.
Ficou-se por aí o desafio de anteontem, marcado pela habitual arrogância do árbitro Artur Soares Dias, lesto a distribuir cartões (sete para o Sporting, quatro para o Famalicão) com a sede de protagonismo que sempre o caracteriza. Muito duvidoso foi o lance do golo anulado a Morita, na sequência de um canto marcado por Porro: após demorado visionamento das imagens, o VAR decidiu invalidá-lo por alegado fora-de-jogo de 18 cm. Nenhuma imagem que pudemos ver confirma tal tese.
Ficou a sensação de que as "linhas virtuais" na Cidade do Futebol andam muito tortas.
O mais importante foi conseguido: três pontos. Com Trincão a sobressair num desafio em que Pedro Gonçalves, Morita e Gonçalo Inácio mereceram nota positiva. Ao contrário de Paulinho, que parece ter perdido de vez a veia goleadora.
Jogo a jogo, retomando o lema que nos inspirou na conquista do título de 2020/2021, vamos somando pontos (seis vitórias nos últimos cinco jogos da Liga) e ascendendo degrau a degrau na tabela classificativa. Agora em quarto lugar, após ultrapassarmos V. Guimarães e Casa Pia. E já de olhos postos no Braga, três pontos acima de nós mas ainda com uma deslocação a Alvalade em agenda. O próximo alvo será esse.
Até lá, seis semanas de pausa no campeonato imposta pelo controverso Mundial do Catar, onde teremos pelo menos quatro jogadores: Coates, Ugarte (pelo Uruguai), Morita (pelo Japão) e Fatawu (pelo Gana).
Por cá, vamo-nos entretendo com a insípida Taça da Liga. É o objectivo que nos resta, além da imperiosa necessidade de conseguirmos um lugar de acesso à Liga dos Campeões do próximo ano e, claro, da Liga Europa que começaremos a disputar em Fevereiro, num confronto em duas mãos com o Midtjylland, equipa situada em sétimo lugar no campeonato da Dinamarca.
Adversário acessível? Claro que sim. Mas isso já é outra história.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Noite de pouco trabalho. Controlou os lances ofensivos com toda a naturalidade. Excepto no lance do golo, que estaria ao seu alcance mas foi traído por um ressalto.
St. Juste - Fez o primeiro jogo completo pelo Sporting. Revelou eficácia a defender e soube apoiar o ataque. No golo sofrido deixou que a bola tabelasse nele e rumasse à baliza.
Coates - Ganhou grande parte dos duelos aéreos. Neste momento, ninguém o bate neste domínio no plantel leonino. Foi poupado desta vez a fazer de ponta-de-lança improvisado.
Gonçalo Inácio - Foi de menos a mais. Perde a bola aos 21', no meio-campo. Provoca um canto desnecessário aos 76'. Compensou estes erros com um corte providencial aos 85'.
Porro - Apático no período inicial do jogo, quando o nosso fluxo ofensivo era canalizado pelo flanco oposto. Aos 82', marcou muito bem o canto que daria golo (invalidado).
Ugarte - Perdeu duelos individuais mais vezes do que devia e continua sem conseguir estrear-se como goleador de verde e branco. Tentou, aos 36', mas saiu-lhe muito por cima.
Morita - Protagonizou dez recuperações de bola. Pressionou muito, originando o primeiro golo. Marcou o terceiro, aos 62': fora-de-jogo que só o VAR conseguiu ver.
Matheus Reis - Tem jogado como central, desta vez foi lateral. Tanta oscilação parece afectá-lo: arriscou o vermelho ao pontapear um adversário após o apito para o intervalo.
Trincão - Dois meses depois, volta às boas exibições na Liga. Atirou ao poste, marcou o primeiro golo, fez o centro que nos daria penálti e o segundo. Melhor em campo.
Pedro Gonçalves - Cinco passes de ruptura: excelente o centro para Paulinho aos 36'. Quase marcou aos 18'. Exímio a converter o penálti que fixaria o resultado aos 45'+3.
Paulinho - Jogo após jogo, vai continuando sem marcar. Voltou a acontecer em Famalicão. Bem servido quatro vezes, foi incapaz de a meter lá dentro. Contribuiu para o primeiro golo.
Arthur - Entrou bem aos 59', substituindo o amarelado Matheus Reis. No minuto seguinte, ameaçou o golo num remate cruzado a rasar o poste. Trabalha para ser titular.
Edwards - Desta vez saltou do banco, rendendo Trincão aos 70'. Boa incursão aos 73', colocando a defesa adversária em sentido. Perdeu influência com o recuo da equipa.
Esgaio - Entrou aos 80'. Como lateral esquerdo, fazendo Arthur avançar para ala direito. Pouco se deu por ele. Sem rasgo, como é hábito, mas sem qualquer erro digno de menção.