De pedra e cal - Chirola, por Carmen Yazalde
Imagem: Jornal Sporting - edição 3777
Faria hoje 74 anos. Nasceu a 29 de maio de 1946, em Buenos Aires, e ocupa um lugar de destaque na galeria da 'Glória' do Sporting Clube de Portugal.
Héctor Casimiro Yazalde, jogador que dispensa apresentações, aqui retratado pela sua mulher em entrevista a Rui Miguel Tovar:
Isso é amor.
Pois é, jajajaja. Eu sentia isso constantemente, era um homem arrebatador, muito sensível, muito humano. Quando acabava os treinos do Sporting, havia sempre uns meninos pobres à porta do campo e ele tinha sempre moedas boas, não daquelas de 5 escudos, para lhes dar. O Chirola sempre foi um homem atento aos pormenores e isso fazia a diferença nas relações humanas. Antes dos jogos, era costume haver um carro como prémio para o autor do primeiro golo. Como o Chirola era quase sempre o vencedor e já tinha um BMW bordeaux que adorava, ele fazia papelinhos e sorteava o carro pelos companheiros durante o treino do dia seguinte. Quando não era um carro, era um almoço do Gambrinus. Íamos lá muito com o Di Stéfano, antes e depois de ele ser o treinador do Sporting. Ainda está aberto?
E o Chirola acompanhava-te na bebida?
Antes de me conhecer, saía muito à noite com Damas e Laranjeira. [silêncio] [Carmen começa a fungar]. O Damas era sensacional e já sei que morreu.
Dizia que o Chirola andava na noite com o Damas e o Laranjeira.
Jajajajaja, não deixas escapar nada. Antes de me conhecer, o Chirola não podia jogar no Sporting, porque chegou a meio a época, em fevereiro, e porque as duas vagas de estrangeiros já estavam ocupadas. Ele então saía com frequência. A partir do momento em que começámos a namorar, ele passou a fazer uma vida caseira que coincidiu com o início da época em que ele já jogava.
Ai jogava, jogava.
Ele era um íman, todos gostavam dele. E não digo só os adeptos do Sporting, os do Benfica também. Notava-se na rua, o carinho dos adeptos. Ele retribuía com golos, golos e mais golos. Quando foi receber a Bota de Ouro como melhor marcador da Europa, a organização fechou o Lido e o Beckenbauer disse-lhe ‘tens a mulher mais linda de todos os jogadores do mundo’. A mulher do Beckenbauer, a segunda, não a primeira que se parecia com um homem, jajajajaja, também lhe disse o mesmo.
O Chirola sempre se deu bem com o Eusébio, por exemplo. Às vezes, jogavam o dérbi de Lisboa e depois jantávamos juntos num restaurante em Lisboa. Eles e nós, as mulheres.
O Chirola ia visitá-lo a casa quando ele não estava bem e o Eusébio retribuía as visitas durante as lesões do Chirola. Era uma amizade boa. Mas há mais do Sporting, como o Marinho.
O Chirola morreu lá em casa, em 1997.
Ainda vivia o Sporting?
Claaaaaaro, foi a melhor experiência da vida dele.
Entrevista completa, aqui.
Peça Jornal Sporting, páginas 3 e 4 da edição n.º 3777 (gratuita). [Detectados problemas no servidor que poderão impedir a consulta do jornal]