Das reticências aos pontos de exclamação
Tem-se falado várias vezes - incluindo nós, aqui no blogue - na linha editorial do jornal A Bola, fervorosamente (embora não assumidamente) pró-benfiquista.
Os mais condescendentes asseguram que não é questão intrínseca do diário da Queimada, mas apenas mera deriva da sua linha editorial.
É certo que A Bola teve jornalistas de grande nomeada, vários dos quais escreviam primorosamente e se distinguiram pela qualidade das suas reportagens, dos seus editoriais e das suas crónicas. Menciono, a título de exemplo, Carlos Miranda, Vítor Santos, Carlos Pinhão, Homero Serpa, Alfredo Farinha e Aurélio Márcio - vários dos quais tiveram descendentes, directos ou indirectos, também no exercício do jornalismo desportivo, como Leonor Pinhão, Rui Santos, João Alves da Costa e Vítor Serpa.
Acontece, porém, que o benfiquismo (fervoroso mas não assumido) deste jornal, outrora trissemanário em grande formato e hoje um diário tablóide, não surgiu de geração espontânea. Pelo contrário, já vem de longe.
Como as primeiras páginas que aqui trago bem comprovam. Na primeira, datada do dia 15 de Dezembro de 1986, noticia-se um Sporting-Benfica que terminou com o resultado 7-1. A segunda, do dia 15 de Maio de 1994, é também referente a um Sporting-Benfica, que terminou com o resultado 3-6.
Repare-se e compare-se. A diferença entre a secura informativa da primeira, marcada pelas reticências no antetítulo, e o júbilo extasiado da segunda, integralmente dedicada à partida de véspera, com três adjectivos ditirâmbicos numa mancha gráfica coroada com seis pontos de exclamação.
Estes dois exemplos, postos em contraste, equivalem a um editorial. Ou cem. Ou mil. Dizem-nos tudo sobre a rubra pigmentação do jornal A Bola.