Dá gosto ver
Texto de Rui Silva
Esta equipa tem ganho quase tudo o que há para ganhar mas faltava-lhe um grande resultado numa noite europeia em casa.
O jogo de ontem [anteontem] foi como aquelas pomadas excepcionais. Degustam-se, apreciam-se, recordam-se, sem necessidade de muitas palavras.
Permita-me realçar dois pontos: os adeptos e a organização da equipa.
Desde a inauguração do estádio tenho Lugar de Leão, cativo durante 20 anos, e não me recordo de um apoio tão sustentado e sonoro durante todo o jogo. E não foi apenas ontem [anteontem]. Alvalade, com excepção das curvas, nunca foi particularmente ruidoso em matéria de decibéis, mas este ano vejo companheiros de sector, que durante anos e anos eram recatados e parcimoniosos na demonstração do seu apoio, a entoar cânticos.
Provavelmente um dos momentos mais marcantes deste jogo [Sporting-Besiktas] aconteceu logo aos 8 minutos quando Paulinho rematou ao poste. Em vez dos habituais ohhhhh e impropérios, ouviu-se um altíssimo e longo aplauso que galvanizou os jogadores e todo o estádio, e estendeu-se até ao apito final.
O segundo aspecto é a forma inteligente como Amorim gere o trabalho da equipa técnica, um pouco à semelhança do que acontece no futebol americano, salvo as devidas distâncias.
Em vez de “adjuntos” temos três treinadores, cada um responsável por todos os aspectos do jogo ofensivo, defensivo e situações especiais, supervisionados e coordenados por um treinador principal.
Os frutos deste modelo estão à vista: em movimentações cada vez mais criativas e interligadas, nas bolas paradas, corridas e na sincronização defensiva.
Dá gosto ver, por exemplo, o alinhamento a régua e esquadro da linha defensiva a 5, que joga de olhos fechados, e invariavelmente coloca os atacantes adversários em fora de jogo. Ou jogadas estudadas, como a do golo anulado a Pote no último jogo contra o Guimarães, das mais espectaculares que Alvalade já viu em muito tempo, entre Matheus Reis, Sarabia, Paulinho e Pote.
Os mestres da táctica (plural) moram em Alvalade.
Texto do leitor Rui Silva, publicado originalmente aqui.