D. António Marto…
… bispo de Leiria-Fátima, recentemente feito Cardeal pelo Papa Francisco, em entrevista à revista “E” do “Expresso".
«(…) Na sua nomeação para cardeal, recordou essa resistência do seu pai. Isso perturbou-o?
Recordei dentro de um contexto muito próprio. Porque o meu pai começou por ter esta resistência mas depois, logo após a minha ordenação, disse-me uma frase que nunca mais esqueci na vida. E lembro-a com emoção. "Meu filho, nunca te esqueças que vens de uma família humilde. Que nunca te suba o poder à cabeça. Trata sempre bem os humildes e os pobres." Isto é de uma sabedoria espantosa, num homem que tinha a quarta classe e uma fé simples... (...)»
«(...) E o que lhe troxe essa experiência? [a de ser operário metalúrgico]
Trouxe-me deixar de ser estudante num seminário onde está tudo feito. E fez-me entrar numa vida real, de quem se levanta cedo, toma o autocarro, vai para o trabalho, veste o fato macaco e vai para frente de uma máquina. Na fábrica de metalurgia faziam-se peças para os motores dos carros e até aviões. E era tudo medido artesanalmente, à mão, com um régua. E daí ficou esta marca no dedo, porque quando mudei de máquina, distrai-me. A máquina apanhou-me. Felizmente salvei o dedo, porque outros desligaram a máquina. (...)»
«(...) E desporto?
Já deixei de praticar. Quando era seminarista praticava e gostava muito de voleibol, era o meu preferido. E basquetebol. E fui guarda-redes de hóquei em campo.
E futebol?
Gosto de ver, mas não tinha muito jeito. Gosto mais de ver na televisão do que no campo. Fui às vezes, mas agora o Leiria deixou de jogar aqui no estádio.
É o seu clube, o Leiria?
Não, o meu clube é o Sporting, que agora anda nas ruas da amargura. (…)»
E - A Revista do Expresso. n.º 2379 de 2 de Junho de 2018. p. 52, 53 e 54