Crónica de uma morte desanunciada
Comecei por um título inspirado em Gabriel García Márquez e é por esse caminho que vou.
Há um episódio delicioso na vida de "Gabo", contado por Carlos Fuentes; Dezembro de 1968, dirigem-se os dois, de comboio, de Paris para Praga, onde os espera Kundera: «chegámos de madrugada a Praga, esperava-nos na estação Kundera, que nos levou, a Gabo e a mim, a uma sauna, quando pedimos um duche para tirarmos o calor, Milan conduziu-nos ao rio Ultava e empurrou-nos, nus como minhocas, para a água congelada. Recordo o comentário de Gabo quando saímos roxos do rio: "Por um instante Carlos, julguei que íamos morrer juntos na terra de Kafka"».
O que tem isto a ver com o jogo de ontem?
Tudo.
Por muito que hoje ufanemos, houve um momento, ontem, que nos sentimos como minhocas em água congelada.
Nada. com o Nacional da Madeira.
Nada a ver, ontem, desceu em mim um espírito (uma fé) e comecei a rever um jogo acontecido há dez anos e uns meses na Madeira com o Nacional da Madeira.
Houve um gajo qualquer do Nacional que marcou um golo, vamos para o intervalo a perder.
Penalty a favor do Sporting, Liedson falha.
Nus, minhocas, água congelada.
Qual quê; troca de Carlos, sai Martins, entra Bueno e o improvável goleador aponta quatro golos, Liedson redime-se do penalty falhado e o Sporting vence o Nacional na da Madeira com o mesmo resultado que ontem venceu em Bucareste.
Há pesadelos que se transformam em sonhos.
(à atenção de Barcelona, Juventus e Olimpiakos).
Para terminar, não fui só eu, não fomos só nós, sportinguistas, a recear, o pior, ontem, a Bola, até já nos tinha embrulhado em papel negro, estavam preparados para anunciar a nossa morte, tiveram que a "desanunciar".